10/31/2005

Atiradores furtivos

Durante largos anos tive como colega um indivíduo que era particularmente arguto e pragmático no seu comportamento. Tendo passado por vários cargos na instituição em que trabalhava, foi-se precavendo relativamente a umas quantas pessoas que poderiam eventualmente pregar-lhe rasteiras, prejudicando-o, portanto. Como antídoto para eventuais males futuros, coleccionou dessas pessoas alguns documentos oficiais que, de uma forma ou doutra, as comprometiam. Um dia, mostrou-me a sua pequena mas valiosa colecção e confessou-me que dois dos colegas já o tinham tentado "entalar". "Bastou-me chamar-lhes a atenção. Lembrei-lhes que possuía documentos que não os favoreciam", contou-me. E assim passou incólume pela instituição até se reformar.
Esta história vem a propósito da recentemente eleita presidente de uma autarquia a norte do Porto. O que tem na manga é, creio, demasiado comprometedor para determinadas pessoas, quiçá um partido. Se a maçam demais, ela ameaçará lançar toda a artilharia de que dispõe. Os anarcas rir-se-iam: "Desculpem esta injustiçazinha. A democracia segue dentro de momentos."

10/30/2005

Uma lição da toponímia nacional

Os nomes que são dados às múltiplas localidades de um país derivam de um sem-número de itens: factores geográficos (rios, ribeiras, montes, vales, várzeas), nomes de santos protectores, corruptelas de designações antigas, etc. Muitos topónimos derivam também dos nomes de árvores, arbustos e plantas de vária ordem. Tal como sucede noutros países, Portugal é rico neste domínio. Proponho que demos uma mirada por esses topónimos.
Matas de faias dão-nos o Faial. Carvalhos dão-nos Carvalhais, Carvalhos, Carvalheira e Carvalhosa. Castanheiros dão-nos Soutos, Soutelos e Castanheiras, como Castanheira de Pera. Nogueiras emprestam o seu nome a muitas localidades, como Vila Nogueira de Azeitão. O funcho, de que o caracol tanto gosta, dá-nos o Funchal. Do junco vêm Juncal, Juncais e Junqueira. Da oliveira, temos Olival, Oliveirinha e múltiplas Oliveiras, de que a de Azeméis será a mais conhecida. Da ameixieira, temos Ameixial. Das matas provêm as Moitas e as próprias Matas. Povoações com o nome de Abrunheira, Nespereira, Nesperal, Alandroal (de aloendros), Amieira, Amiais (de amieiros), Amoreira e Moreira (de amoras) remetem-nos para mais árvores, de fruto ou não, e para arbustos. Cedros, Coentral, Horta, Fenais (de feno), Feteira (de fetos), Cebolais, Figueira, Figueiredo, Figueiró e Freixo lembram-nos outros elementos do nosso mundo vegetal. Aroeira, Avelal, Avelar, Avelãs, Beringel, Zambujeira, Azambuja, Zambujal, Azinhal, Pessegueiro, Laranjeiro, Tramagal, Olaias, Pereiro, Pereira e Macieira juntam-se à longa lista. Das malvas vêm as Malveiras, das murtas o Murtal e a Murtosa, dos nabos Nabais, dos marmelos Marmeleira, do louro Loureiro, Louredo e Lourosa, das silvas as Silveiras e Silvalde, do salgueiro Salgueirais, do sobro Sobral e Sobreira. E ainda: Nabais, Palmeira, Palmela, Sabugo, Sabugueiro, Rosmaninhal, Vimioso, Vimeiro, Vimieiro, Romãs, Salsas. De um país rico em vinho é natural que surja Vide, Vidigueira, Vinhó, Vinhas e Vinhais. Da árvore que mais tem ardido em Portugal são numerosos os topónimos: Pinheiro, Pinheiros, Pinho, Pinhão e Pinhel.
Existem muitas mais designações, mas esta listagem já nos dá uma ideia razoável. O que se poderá estranhar é que a árvore que mais aumentou em área plantada em Portugal, o eucalipto, não esteja representada com um único topónimo. E, no entanto, entre 1928 e 1995 a área plantada com eucaliptos em Portugal aumentou 90 vezes! (Lamento não possuir estatísticas credíveis pós-1995, mas todos podemos ver na nossa paisagem o aumento exponencial dos eucaliptais.) Porque será que as populações não quiseram denominar de "Eucaliptal" nenhuma das suas localidades, à semelhança de Olival e Olivais, ou Carvalhal e Carvalhais? Dir-me-ão: porque é uma árvore relativamente nova em Portugal. Será um motivo. Mas o principal é o facto de o eucalipto ser uma árvore que contribui -- e de que maneira! -- para a desertificação do território. É o oposto de povoamento. Onde há largas plantações de eucalipto, tendencialmente não há pessoas. Permito-me recordar que essas plantações não são matas. Faltam-lhes os três componentes habituais: as ervas, os arbustos e as árvores propriamente ditas. Destes três elementos, o eucaliptal só tem as árvores. Os eucaliptos. Eles próprios. Chupistas de toda a água que encontram. Os seca-pântanos de antigamente vieram para secar o país e alimentar as companhias de celulose. É uma forma de tratar o país como se fora uma colónia que apenas se explora. O mais possível. Sem pensar nas gerações vindouras. Tudo no curto prazo, porque dá rendimento rápido. Pouco nos devemos admirar dos incêndios a perder de vista que destroem as matas autóctones de Portugal, aquelas que no fundo deram os nomes a tantos vilares, aldeias, vilas e até cidades. Esta é uma lição que a toponímia nos concede, como que a dar-nos um conselho: quando os incêndios deflagram, não se olhe apenas para as alterosas e mediáticas chamas que iluminam o céu e tudo devastam à sua frente. Pense-se também, e principalmente, nas futuras raízes que no terreno ardido se vão criar!

10/27/2005

Matriz de Acontecimentos (27 Outubro 2005)

Este fim-de-semana muda a hora. Ao acordar, no domingo, será uma hora mais cedo do que o indicado nos relógios que não tenham sido corrigidos. Que tal aproveitar para visitar um Museu? Recordo que os «Museus Oficiais», e alguns particulares, são grátis ao domingo de manhã. Recordo, ainda, que a interessantíssima exposição «Malhoa e Bordalo: Confluências duma Geração»foi prolongada até 6 de Novembro. Acaba no próximo sábado, dia 29, o SeixalJazz2005 ? todas as noites às 21h30 e 23h30.

Acaba no domingo, dia 30, o Grande Mercado do Livro de Outono - Mercado da Ribeira, das 10h00 às 22h00.

Decorre até 6 de Novembro XXV Festival Nacional de Gastronomia de Santarém, o XVI Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora e os XIII Encontros de Coros Amadores do Concelho de Oeiras.

Não liga/s nada às sugestôes aqui penosamente alinhadas! Para ver/es o que perdeu/ste sugiro o blog www.bizarrologia.com/jazz/jazz.php que no post do dia 22 pp. titula de «Um concerto memorável na Ordem dos Médicos» o concerto liderado pelo médico Barros Veloso aqui sugerido e onde não o/a vi ?(na realidade estou a sugerir o blog, que é muito interessante, embora neste caso estejam a ser bonzinhos. Foi bom, mas longe do memorável, grau que, dadas as limitações da minha memória, aplico com alguma parcimónia).

Quinta-feira, dia 27:
às 18h00, na Gulbenkian, «Arte e Ciência: Conversa em Torno de uma Obra de Arte», com Nuno Crato, Nuno Faria, José Brandão, João Paulo Feliciano e João Caraça (moderador), do ciclo ?À Luz de Einstein 1905-2005?;

às 18h00, no Monte-Estoril, reabertura do Museu da Música Portuguesa Casa Verdades Faria (local onde se passarão a realizar as conferências do ciclo ?De Música também se fala - Tudo o que você sempre quis saber sobre Beethoven... e nunca teve a oportunidade de perguntar!", por Teresa Cascudo).

Sexta-feira, dia 28:
às 21h30, na Culturgest, Uri Caine interpreta, a solo, composições originais, jazz standards e arranjos e improvisações sobre música de Mahler, Verdi e Beethoven.

Sábado, dia 29:
às 15h00, no Auditório da Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha, homenagem ao poeta Alexandre O´Neill pelas Comunidades de Leitores e de Cinéfilos das Caldas da Rainha (inclui a projecção, em estreia, do filme ?Tomai lá do O´Neill?).

das 15h00 às 19h30, na Culturgest, Maratona de Leitura tema: o amor!

às 17h00, na Fnac Colombo: Angelina, apresenta o CD ?Jazz Feelings?.

Domingo, dia 30:
às 12h00, no CAMJAP (?Centro Arte Moderna da Gulbenkian?) visita temática do ciclo ?Artistas da Colecção? «Eduardo Nery e a Arte Óptica na Colecção do CAMJAP» por Carla Mendes.

Segunda-feira, dia 31:
às 23h30, na 2:, Ana Sousa Dias vai conversar com a escritora brasileira Nélida Piñon.

Terça-feira, dia 1, feriado:
às 21h30, na Igreja de S. Domingos, concerto evocativo do Terramoto de 1755 pela Orquestra Metropolitana de Lisboa.

Quarta-feira, dia 2:
às 18h00, na Culturgest, conferência do ciclo «Óperas (mal) amadas do Século XX»: Maskarade (1906) de Carl Nielsen (1865-1931), por Sérgio Azevedo.

A seguir:
11 a 20 de Novembro, London Jazz Festival

25 de Novembro, às 22h45, na Aula Magna: Jacinta

Download do ficheiro das Sugestôes (27 Outubro 2005)

Bom fim-de-semana

JMiguel

Três notícias positivas

Considero dignificante a posição de Portugal no relatório sobre liberdade de imprensa, elaborado todos os anos pela organização "Repórteres sem Fronteiras". O 24º lugar que o país ocupa, à frente do Reino Unido, França e Espanha, é bastante interessante. Os Estados Unidos foram, entretanto, relegados do 23º para o 44º lugar. Como seria de prever, também neste capítulo são os países nórdicos, como a Dinamarca, a Finlândia e a Noruega que lideram o ranking.
As duas outras notícias positivas dizem respeito à autarquia de Lisboa. Num caso, o poder autárquico resistiu à tentação do imobiliário e transformou, conforme prometido, a antiga estação da Carris no Arco Cego -- uma área altamente valiosa em termos de terrenos -- num jardim, ainda em fase de conclusão. O edifício contíguo está a ser objecto de restauro.
Por outro lado, a Fonte Luminosa, na Alameda Afonso Henriques, foi restaurada, incluindo os baixos-relevos das partes laterais. O topo por detrás da fonte, que se encontrava em lastimável estado, foi todo ajardinado.
É um prazer assinalar estes factos.

10/25/2005

Gastronomia portuguesa

Eu sei que há tasquinhas em tudo quanto é feira. Sei também que qualquer Bolsa do Turismo de Lisboa apresenta anualmente uma quantidade notável de comes-e-bebes. Mas continuo a considerar que a Feira de Gastronomia de Santarém é das melhores do país. Estende-se ao longo de cerca de três semanas, o que permite aos restaurantes apostarem no seu melhor. E quem diz restaurantes diz, obviamente, casas de doces. E de presuntos. E de queijos. Sem faltarem os vinhos, claro.
Dei uma saltada à Feira num dia pacato. Com uns amigos de velha data. A única grande decisão que tivemos que tomar foi entre saltitar de tasquinha em tasquinha, petiscando e bebericando aqui e ali, ou abancar num sítio e comer. Esta hipótese seria eventualmente mais cómoda, a outra mais interessante. Foi o não-abancar a alternativa escolhida. E foi também uma alegre romaria, saborosa, apaladada, rica e variada, de região em região. Qualidade: impecável. É realmente extraordinário fazer uma peregrinação deste tipo e apanhar, por vezes no prato, por vezes só no menu, petiscos tão díspares como maranhos e bucho, da Beira Baixa, chanfana, cracas dos Açores, pezinhos de coentrada, ensopado de cabrito e torresmos do Alentejo, peixinhos da horta, sopa e arroz de lingueirão, choquinhos fritos e xerém do Algarve, posta mirandesa, posta maroeira, nacos na pedra, enguias fritas, ensopado de enguias, sável, leitão da Bairrada e eu sei lá mais o quê. Uma delícia, quando se come um pouco disto e um pouco daquilo, que o que se encomenda é para o grupo e cada um só petisca. Pão do melhor, jarros de vinho óptimo: as tascas estão a concurso e, no final, haverá prémios para os melhores. Doçaria conventual de bom nível e extraordinária variedade.
Ponhamos por uns dias a política de lado e revejamo-nos neste mosaico de elevada qualidade que é a comida portuguesa. Podem muitos dos nossos valores ter caído, mas há sempre outros que mais alto se alevantam. Estes são uns deles. Quem puder tasquinhar assim num dia pouco concorrido considere-se um felizardo. Comeu e bebeu do melhor que Portugal tem. E ao fazer as contas, divididas por todos, não pagou muito. É que a concorrência aperta e preços demasiado altos deitariam tudo a perder.
Salvo erro até 3 de Novembro -- mais uma sugestão saborosa do João Miguel -- convém não perder Santarém.

10/24/2005

Banca ocidental no Médio Oriente

O facto de o Islão, ao contrário do que sucede na nossa civilização, não estabelecer uma separação entre religião e direito, faz com que todas as suas leis sejam religiosas. A Sharia, de que por vezes lemos sobre várias práticas, constitui um conjunto de regras concretas para determinados procedimentos.
A Newsweek publicou há relativamente pouco tempo um artigo sobre a Sharia e a banca. Porque se tem falado aqui neste blog de questões éticas e da banca, pareceu-me interessante abordar o assunto. Sabendo nós que o Corão não só proíbe o empréstimo de dinheiro para fins lucrativos como também o patrocínio de um conjunto de actividades não-islâmicas, como o jogo, o tabaco, as bebidas alcoólicas e produtos à base de carne de porco, onde é que os muçulmanos investem o dinheiro que possuem? A resposta é simples: em bancos que cumprem a Sharia. E podem ser bancos ocidentais? Porque não? Desde que cumpram as regras preceituadas. Nos conselhos de administração de bancos como o Citi Islamic e o ABN AMRO, no Bahrein ou nos Emirados, têm lugar individualidades muçulmanas conhecedoras tanto de finanças como da Sharia, que zelam pelo cumprimento das regras. Em vez de pagar ou de cobrar juros, a finança islâmica baseia-se na propriedade colectiva ou no arrendamento / aluguer de activos, como o imobiliário, metais preciosos e outras commodities, que, com o tempo, tendem a valorizar-se. O Islão proíbe fazer dinheiro através de dinheiro, mas não é contra actividades comerciais e de leasing.
Desde 1996 que o Dow Jones, de Nova Iorque, oferece índices de acções consideradas particularmente adequadas para investidores islâmicos e recomendadas por um grupo de peritos da Sharia. Contudo, desde o 11 de Setembro de 2001 que muito do dinheiro que geralmente era investido nos Estados Unidos deixou de emigrar, ficando portanto na região. Foi aí que bancos americanos e europeus entraram em cena, adaptando-se às regras islâmicas. Se o dinheiro não vem para o ocidente, o ocidente vai ter com o dinheiro. Calcula-se que o valor dos depósitos em bancos que cumprem os preceitos da Sharia atinja presentemente mais de 250 biliões de dólares, a que se juntam outros investimentos da ordem dos 400 biliões. Com o petróleo aos preços a que está, não é nada para admirar. O curioso é ver como bancos ocidentais, com o renome internacional da Société Générale, BNP Paribas e do Deutsche Bank, além dos acima mencionados, entraram celeremente, e bem, no mercado. Mais um caso típico do think global, act local. Neste caso particular, não actuar segundo os preceitos e costumes locais seria falhar em toda a linha.

10/21/2005

ÉTICA

Há algum tempo, foi detectado numa escola de ensino superior de Lisboa um número inusitado de estudantes a usar, em diversos exames, aqueles papelinhos auxiliares a que vulgarmente se chama cábulas. Algumas das fraudulentas formas de alcançar boas notas até requeriam boa imaginação e mostraram um aturado trabalho prévio. O mais curioso de tudo é que os estudantes em questão possuíam no seu plano de estudos um item que foi introduzido há uns anos para dar satisfação ao politicamente correcto (e não só): a cadeira de Ética. Constatou-se depois, por curiosidade, que vários dos alunos apanhados em flagrante delito tinham obtido boas notas na disciplina. Saliente-se que a escola em questão possui códigos de conduta para docentes e para discentes.
Veio-me à memória este facto -- espero que, no futuro, eu possa dizer "por contraste e não por semelhança" -- quando li que ontem foi assinado por um número significativo de empresários e gestores de renome um código de ética, que nas suas obrigações inclui "lutar activamente contra todas as situações de fraude, designadamente cumprindo todas as obrigações fiscais", "não praticar qualquer acto económico à margem da lei" e "não influenciar de modo ilegítimo a decisão política".
Ámen.

10/20/2005

Notícias que incomodam

Quando questionado hoje pela televisão sobre o caso das investigações da Judiciária a uma alegada prática de fuga aos impostos e branqueamento de capitais com a conivência de bancos, empresas e paraísos offshore, um ex-ministro respondeu que o que se podia ler nos media era muito mau para as empresas e prejudicava a economia nacional. Não disse, no entanto, que o que alegadamente terá sucedido em grande escala e há vários anos, lesou os cofres do Estado em muitos milhões de euros. Não disse que essas empresas e instituições financeiras podem ter beneficiado ilegalmente de somas muito avultadas, prejudicando assim a nação e todos os cidadãos que cumprem com as suas obrigações fiscais. Não disse que, a verificar-se a veracidade da situação, as empresas e as instituições financeiras deveriam ser seriamente punidas. O que interessava era a notícia em si. Talvez a censura de antigamente fosse mais cómoda.

Matriz de Acontecimentos (20 Outubro 2005)

As sugestôes fizeram seis anos de edições!!!

Continuo a aceitar inscrições para uma visita aos bastidores de São Carlos, a efectivar às 12h15 do domingo 13 de Novembro ? segundo dia do ciclo «Europa em Música», dedicado a Itália!!! Precisamente por ser dia do referido ciclo «Europa em Música», poderá igualmente assistir, por 5?, a um, a dois ou a todos os concertos programados: 11h00 no Salão Nobre, 15h00 no Foyer e 17h00 no Salão Nobre.

Decorre até 23 de Outubro, na Culturgest, o DocLisboa 2005 (Festival Internacional de Cinema Documental).

Decorre até 29 de Outubro, nas noites de quinta, sexta e sábado, o SeixalJazz2005.

Decorre até 30 de Outubro, das 10h00 às 22h00, no Mercado da Ribeira, o Grande Mercado do Livro de Outono.

Decorre até 6 de Novembro os XIII Encontros de Coros Amadores do Concelho de Oeiras e o XXV Festival Nacional de Gastronomia de Santarém.

Quinta-feira, dia 20:
às 21h30, no terminal do Cais do Sodré, embarque no cacilheiro para o concerto dos ?Animal Collective?.

Sexta-feira, dia 21:
às 21h30 e 23h30, no SeixalJazz2005, Laurent Filipe.

às 21h30, na Estação de Metro da Amadora, inauguração do XVI Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (prossegue até 6 de Novembro).

às 22h30, na 2:, Fernanda Botelho (documentário).

Domingo, dia 23:
às 12h00, no CAMJAP (?Centro Arte Moderna da Gulbenkian?) visita temática do ciclo ?Olhares? «A Arte como Aproximação à Paisagem Contemporânea» por Carlos Carrilho.

às 18h00, no Auditório Rui de Carvalho, Carnaxide, «Concerto Serenata» (G.Puccini, E. Elgare J. Suk) pela Orquestra de Câmara Cascais e Oeiras.

Segunda-feira, dia 24:
às 23h30, na 2:, Ana Sousa Dias vai conversar com José Medeiros.

Terça-feira, dia 25:
às 21h30, na FNAC do Fórum Almada, actuação dos Irmãos Catita.

Quarta-feira, dia 26:
às 18h00, na Culturgest, conferência do ciclo «Óperas (mal) amadas do Século XX»: Osud (1907) de Leos Janácek (1854-1928), por João Pães.

A seguir:

29 de Outono, às 17h00, na Fnac Colombo: Angelina

25 de Novembro, ás 22h45, na Aula Magna: Jacinta

Download do ficheiro das Sugestôes (20 Outubro 2005)

Bom fim-de-semana

JMiguel

Desenvolvimento

O último relatório das Nações Unidas sobre o desenvolvimento humano permite, como tantas vezes sucede em casos semelhantes, interpretações positivas e negativas. Um exemplo: nos últimos 15 anos, 130 milhões de pessoas terão saído da pobreza extrema, mas por outro lado ainda há 2500 milhões, i.e. 40 por cento da população mundial, a viver com cerca de 1 euro e meio por dia! Como se sabe, os países pobres podem ter o seu mais importante meio de sustento, e mesmo de exportação, no sector agrícola -- certamente não no da indústria ou no dos serviços. Podem ou poderiam? Poderiam. De facto, não conseguem competir com os países ricos nem nesse sector, pois apesar de aqueles lhes darem com uma mão mil milhões de dólares por ano em ajudas à sua agricultura, com a outra gastam exactamente o mesmo montante por dia em subsídios aos seus próprios agricultores. Como se torna evidente, assim não há comércio justo que resista.
Mais: o dinheiro que os países pobres recebem dos ricos está ligado a aquisições a preços especiais nos países em desenvolvimento e à obrigatoriedade de compras daqueles nos países doadores a preços superiores aos do mercado livre. Caridade interesseira!
Nestas questões do desenvolvimento humano, há aspectos que de longe superam as meras medições do rendimento nacional bruto, sendo a taxa de mortalidade infantil e a esperança de vida factores importantes, entre vários outros. O Brasil, o mais populoso país de língua portuguesa, apresenta uma gritante desigualdade de rendimentos, com os dez por cento mais ricos a deterem quase metade do rendimento nacional, enquanto os dez por cento mais pobres não possuem mais de 0,7 por cento desse mesmo rendimento.
Os países humanamente mais desenvolvidos são a Noruega, a Islândia e a Austrália. Três antigas colónias portuguesas -- Angola, Moçambique e Guiné-Bissau --figuram entre os menos desenvolvidos. Portugal situa-se em 27º lugar entre 177 países.
Estas panorâmicas globais são importantes em muitos aspectos, mas não podem fazer-nos esquecer que as medições de pobreza se fazem dentro do mesmo país. As pessoas comparam-se com as que vêem à sua volta e não com as que estão num outro canto do mundo. Aliás, por definição, um pobre de um determinado país é alguém que dispõe de menos de 60 por cento do rendimento médio nacional. Assim, um americano pobre pode possuir rendimentos francamente superiores aos de um africano pobre e considerar-se, por comparação com os seus compatriotas, mais infeliz do que esse africano. E a felicidade conta!

10/18/2005

Voto popular versus tribunais?

Que em Portugal a justiça é lenta, ninguém duvida. Os casos arrastam-se durante anos e anos. É frequente que as testemunhas arroladas para deporem em tribunal já não se lembrem de como os factos efectivamente se passaram. Múltiplos processos prescrevem, apesar de existir na mente das pessoas a ideia-quase-certeza da culpabilidade de alguém. Tudo isto contribui para o descrédito da justiça e para que nos questionemos se realmente vivemos num Estado de direito.
O recente voto popular nas eleições autárquicas, que fez eleger Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras e Isaltino Morais, não veio contribuir para melhorar a imagem da justiça em Portugal. Estando presentemente sob fogo cerrado dos media e da opinião pública devido aos vencimentos e mordomias várias de que desfrutam, os juízes portugueses ficam necessariamente condicionados no seu julgamento dos processos que pendem sobre os três nomes acima citados. Todos sabemos que o voto para uma eleição é uma coisa e um processo em tribunal é outra. Também sabemos que ninguém pode ser condenado antes de ser julgado. Sabemos ainda que, pelo menos em teoria, o poder judicial é independente do legislativo e do executivo. Porém, no seio de um regime democrático em que "o voto é uma arma" e "o povo é quem mais ordena", como é que se concilia a justiça dos tribunais, que é lentíssima, com a justiça popular, que é célere e democrática? Será fácil para os juízes condenarem qualquer um dos três autarcas eleitos após o esmagador voto popular que obtiveram, ainda por cima tendo sido os autarcas a advogar politicamente a sua própria causa, à revelia dos partidos que anteriormente os apoiavam? O que vale mais? Milhares de votos democráticos ou um voto da justiça portuguesa?

10/17/2005

Newspeak

Uma das mudanças mais notórias do newspeak português é a substituição de "sexo" por "género". Não é substituição total, bem entendido, pois não há possível substituto cabal para o sexo. A verdade, porém, é que o sexo, que dantes não só era, como, naturalmente, se praticava, agora só se pratica. Para ser, usa-se "género". Fala-se em igualdade de género onde dantes se falava em igualdade de sexos. Mesmo assim, admito esta fórmula perfeitamente, porque a antiga podia prestar-se a confusões.
Essas confusões, aliás, terão realmente existido, segundo algumas crónicas, no preenchimento de formulários. Nome, nacionalidade, data de nascimento e coisas quejandas não ofereciam quaisquer problemas, mas na rubrica "Sexo", parece que havia quem respondesse "Diariamente", "Três vezes por semana" ou "Quando possível". Talvez para evitar estes quid pro quod chegou o género.
Neste meio tempo, fico hesitante perante o uso ou não-uso de expressões como "vestuário unissexo" e "cabeleireiros unissexo". Uma vez que o género "é", e o sexo "aquilo que se pratica", fico receoso de controversas interpretações.

10/16/2005

De pé quebrado

Se foi p'ra que o Peseiro saia
Que o Sporting perdeu, a preceito,
Despeço-o com grande vaia,
Mas quanto à derrota, aceito.

10/13/2005

Egoísmo social

Portugal possui um parque automóvel de viaturas de gama alta que é comparável ao dos países mais desenvolvidos da Europa. O número de automóveis de marca BMW, VW Passat, Audi, Mercedes e outros de elevada cilindrada é muito significativo, nomeadamente nos distritos do litoral português. Existem várias formas possíveis de olhar para esses veículos. Há quem os admire pela sua beleza, pela potência do seu motor, pela sua "classe". Há quem nutra inveja por não possuir um carro assim. Mais raras, mas decerto não menos importantes, são as pessoas que consideram que muitos daqueles veículos -- de preços elevados -- constituem basicamente uma maneira de iludir o fisco por parte de firmas ou de profissionais por conta própria. Na medida em que são adquiridos por indivíduos ou entidades que os podem incluir como despesa e, portanto, com direito a abater nos rendimentos ou nos lucros, esses veículos -- nomeadamente quando são segundas, terceiras, quartas ou quintas viaturas -- constituem um desvio relevante a uma receita estatal que, se devidamente distribuída posteriormente, poderia contribuir para um maior nivelamento dos rendimentos da população. Nesse sentido, as viaturas em questão constituem um exemplo nítido de falta de solidariedade social e um egoísta roubo à nação. Demonstram, igualmente, uma inaceitável falta de atenção por parte das autoridades fiscais.

Matriz de Acontecimentos (13 Outubro 2005)

Quando das Jornadas do Património, bati com o nariz na porta da visita aosbastidores de São Carlos? A «Porteira», muito simpaticamente, anunciouque haveria mais visitas, nomeadamente, para grupos de interessados.Assim, passo a aceitar inscrições para uma visita às 12h15 do domingo 13 deNovembro ? segundo dia do ciclo «Europa em Música», dedicado a Itália!!! Onº de visitantes é limitado, e pela ordem com que me forem chegando osmails. (Se não se despacha, bate com o nariz na porta ?)

Precisamente por ser dia do referido ciclo «Europa em Música», poderáigualmente assistir, por 5?, a um, a dois ou a todos os concertosprogramados: 11h00 no Salão Nobre, 15h00 no Foyer e 17h00 no Salão Nobre.A Festa do Cinema Francês decorre até 16 de Outubro, no Fórum Lisboa e noInstitut Franco-Portugais.

Dias 15 e 16 de Outubro, das 10 às 20, 2ª Festa de Outono no JardimBotânico da Ajuda.

Decorre, na Culturgest, de 15 a 23 de Outubro o DocLisboa 2005 (FestivalInternacional de Cinema Documental).

Decorre até 29 de Outubro, nas noites de quinta, sexta e sábado, oSeixalJazz2005. Pode ouvir o Laurent Filipe dia 21às 21h30 e 23h30.

Decorre até 30 de Outubro, das 10h00 às 22h00, no Mercado da Ribeira, oGrande Mercado do Livro de Outono.

Decorre de 15 de Outubro a 6 de Novembro os XIII Encontros de CorosAmadores do Concelho de Oeiras.

Quinta-feira, dia 13:
às 19h00, no Trem Azul Store Jazz (Rua do Alecrim 21 A), concerto dos Cheese Cake.

Sábado, dia 15:
às 19h40, no canal ARTE (TVCabo+PowerBox), documentário (52m) «Michel-Ange, Une Vie De Genie ».
às 21h30, no Auditório Municipal Eunice Muñoz, Oeiras, opereta «AsDamas Trocadas».

Domingo, dia 16 ? Dia Mundial da Alimentação:´
às 10h00, na Rádio Baía, 98,7 MHz, Carlos Pinto Coelho entrevista(50 minutos?) António José Saraiva;
às 17h00, no Palácio dos Aciprestes, Linda-a-Velha, «Grosse Fugue»de L.V. Beethoven pela Orquestra de Câmara Cascais e Oeiras;
às 17h00, na Aula Magna, concerto pela Orquestra Metropolitanadirigida por Brian Schembri.

Segunda-feira, dia 17:
às 23h30, na 2:, Ana Sousa Dias vai conversar com Nicole LeDourain.

Terça-feira, dia 18:
às 18h00, na Universidade Lusófona (Campo Grande 376) filme «O Rei Pasmado e a Rainha Nua».
às 18h30, na Gulbenkian, conferência "Debussy e Ravel" por MiguelSobral Cid.

Quarta-feira, dia 19:
às 18h00, na Gulbenkian, conferência «Em busca das galáxiasperdidas» por José Manuel Afonso, do ciclo "À Luz de Einstein".

A seguir:

29 de Outono, às 17h00, na Fnac Colombo: Angelina!!! (coitado do Joaquín Cortés, vai ter o Coliseu vazio?)

Download do ficheiro das Sugestôes (13 Outubro 2005)

Bom fim-de-semana

JMiguel

10/12/2005

Lembrando-me de um Amigo para quem a Areia Branca é uma praia muito especial...

...aqui deixo uma poesia de que gosto particularmente (gosto da chamada poesia de intervenção, que querem?) embora graças a Deus já não tenha muito a ver com o Portugal que somos hoje:

Na praia da Areia Branca
os búzios não falam só de mar:
- falam das pragas, dos clamores,
da fome dos pescadores
e dos lenços tristes a acenar.
Búzios da Praia da Areia Branca:
- um dia,
haveis de falar
unicamente do mar.
(Sidónio Muralha in "Passagem de Nível", 1942)

10/11/2005

Origem das Palavras - VIII - Rossio

O leitor já terá reparado que existem vários "rossios" no nosso país. Vai a Viseu e encontra um, se for à terra em que eu nasci encontra outro, em Estremoz há um rossio, a sul de Abrantes encontra outro. De facto, há inúmeros rossios espalhados por esse país fora. Todos são praças ou locais relativamente centrais. Será que todos os rossios se inspiraram no de Lisboa e o clonaram? Nada disso, de facto. O rossio está para os cavalos de antigamente como os parques de estacionamento estão para os automóveis de hoje. Era no Rossio que os viajantes deixavam os seus cavalos, machos, mulas e burros convenientemente atados a árvores ou a qualquer pilar, enquanto iam aos seus negócios. Se o leitor se lembrar do rocinante de Dulcineia del Toboso, de Cervantes, encontrará a etimologia de Rossio, que dantes até por vezes se escrevia "Rocio". Já agora: a palavra alemã "Ross", que significa "corcel", está associada ao "horse" inglês, e ambos têm um evidente parentesco com o nosso Rossio.

10/10/2005

O pano de fundo das eleições

Surpresas? Não, de facto. Em 2001, Guterres foi punido por um povo que estava farto de falatório e poucas benesses. Farto estava ele próprio também e, na noite do apuramento dos resultados, foi-se embora. Há meses, quando os portugueses estavam mais do que fartos da fuga do Durinho e do comportamento do Lopes, ofereceram nas legislativas a maioria absoluta ao PS. Agora, que estão fartos das necessárias reformas do Sócrates -- e mais fartos ficarão de algumas que vêm a seguir, como por exemplo a lei das rendas nas cidades de Lisboa e Porto --, voltam a castigar o partido socialista. É verdade que autárquicas não são legislativas, mas o pano de fundo lá está: o descontentamento. O inverso também é verdadeiro: quem se agradou do que lhe deram vota em quem o tratou bem anteriormente. Vide Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro, Isaltino de Morais. Nos casos em que os "independentes" tinham trabalhado bem anteriormente, a população votou neles e esteve-se marimbando para os partidos. Se não havia razão para agradecimento, "no, thank you", como foi dito a Ferreira Torres. Houve, como sempre, muitos que preferiram abster-se, enquanto outros acharam por bem voltar-se para um partido comunista mais simpático.
Surpresas? De facto, não.

10/08/2005

Não me roubem mais o Pai Natal!

Todos nós sabemos como é: vendem-nos o Pai Natal quando somos pequenos e, logo logo depois, a linda história, que mete renas e trenós, sacas e sacas de cartas endereçadas ao simpático velhote de barbas, desaparece para se transformar numa comezinha ida ao centro comercial mais próximo. É uma machadada grande na nossa imaginação e, o que é mais, um destruir da crença em algo bonito, que poderíamos e saberíamos criar e recriar à nossa maneira. Felizmente que sobraram ainda algumas coisas onde podemos espraiar a nossa fantasia, mas mesmo essas estão a tornar-se cada vez mais raras. Vejam os ovnis. Estão mais do que desacreditados. Quem fala já do "abominável homem das neves"? "Isso é patranha", dir-nos-ão logo. Pela mesma cartilha se rege o monstro de Loch Ness. Uma história que atravessou mais de um século agora já nem na silly season reaparece. Em Portugal chegou a dizer-se, relativamente à salazarenta figura que governou o país durante umas largas décadas: "O monstro de Loch Ness / de quem tanta gente zomba / não me aquece nem arrefece. / Já o mesmo não acontece / com o monstro de Santa Comba." Hoje, quem se iria lembrar do pobre monstro do lago?
Oiço aqui alguém dizer que o imaginário está a ficar preenchido com ficção científica e com histórias do Harry Potter. Que seja! Mas depois de os livros, desalentadoramente, já nos terem informado que as avestruzes, apesar de tudo o que se diz, não enfiam nem nunca enfiaram a cabeça na areia, acabam de me tirar mais uma das minhas certezas: afinal, diz a imprensa de hoje, a areia movediça não engole pessoas. Dois físicos holandeses e um francês têm o desplante de negar uma coisa que enchia os livros de tantos autores que me deram imenso prazer ler. Então, como fazemos agora com as histórias do Tarzan em que vários dos "maus" eram engolidos pelas areias do deserto? O autor, Edgar Rice Burroughs, mentia? Mais um? Transcrevo do jornal Público: "A areia movediça não passa de areia saturada com água. Quando uma pessoa menos atenta a pisa, os grãos de areia isolados pela água perdem a estabilidade e correm para baixo, como se fossem líquido. Nesse momento, não vale a pensa tentar sair da areia movediça, porque a força necessária para mover um pé é igual à que precisa para levantar um carro de tamanho médio. Aguarde apenas que os grãos de areia assentem, abanando então as pernas. A própria capacidade de flutuar da mistura vai acabar por empurrá-lo para a superfície."
A ciência devia ser usada para estudar outras coisas que não destruir mitos. Não se pode exterminar cientistas deste tipo?

10/07/2005

Democracia

Vater werden
ist nicht schwer
Vater sein
ist dagegen sehr.

Este é um velho provérbio alemão que, em tradução livre, nos diz que "Fazer um filho não é difícil. Difícil é criá-lo." Penso às vezes nestas palavras a propósito de democracia. Fazer um filho é fácil, e até dá prazer. Também deitar o voto numa urna nada custa. De facto, não custa mais do que entregar um boletim com apostas no Totoloto ou no Euromilhões. O que pode custar é, depois, ser democrata e agir sempre como tal. Em democracia, o sistema político caracteriza-se não só por eleições livres e justas, mas também por um Estado de direito, pela separação de poderes e pela protecção das liberdades fundamentais de expressão, reunião, religião e propriedade.
Será que é isso o que verdadeiramente temos? Será que é isso que praticamos e vemos praticar no dia-a-dia?

10/06/2005

Bordalo Pinheiro

Fui ontem, dia da reinauguração do Museu, dar uma vista de olhos pelo espólio do Rafael. Tendo conhecido o antigo edifício, encontrei agora uma mais-valia importante: um anexo na parte de trás destinado a exposições temporárias.
É sempre um gosto conviver com a irreverência do Bordalo Pinheiro caricaturista e com a criatividade e arte do ceramista. É sempre bom relembrar a evolução da figura do Zé Povinho -- agora também disponível em sistema informático de acesso simples e correcto --, o António Maria, o ódio aos ingleses que Portugal naquele tempo sentia, a crise do Finis Patriae. E, depois, há a possibilidade soberana de encontrar as caricaturas ou retratos de alguns dos grandes intérpretes daquele tempo, que hoje, para muitos, não passam de simples nomes de ruas da cidade: Saraiva de Carvalho, Rodrigues Sampaio, Anselmo Braancamp, Dias Ferreira, Fontes Pereira de Melo, Rosa Araújo, Henrique Burnay, Bulhão Pato, Herculano, Camilo, Eça, Ramalho.
Quando lá for, não deixe de reparar em caricaturas como O Canto Coral, em que um maestro empunha a batuta e ensina numerosos citadinos engravatados a cantarem o hino inglês. É dessa altura que temos os célebres versos "Contra os bretões, marchar, marchar", que regras do politicamente correcto transformaram no mais bravo e também mais suicida "Contra os canhões, marchar, marchar" do nosso hino.
Se for lá proximamente, veja ainda, no anexo, um bonito sol da Ana Vidigal feito com a Margarida Donald, pare para ver uns desenhos da Paula Rego, uns quadros do Batarda e ler um lindo texto ao espelho.
Vale a pena.

10/05/2005

As tetas da vaca

A vaca do Estado, de tetas mais úberes do que qualquer outra no país mas também com o maior número de filhos dependentes, pasta no vasto prado dos impostos que outrem que não os impostores semeiam diariamente. O prado viçoso poderia contribuir para que a vaca desse mais leite para a sociedade no seu todo, mas a vista de tetas tão cheias do precioso líquido aguça a cobiça e eis uns tantos que, à socapa, retiram delas o mais que podem.
Foi há relativamente poucos anos que, numa entrevista a dois advogados franceses do foro criminal, li o que um deles, Maxime Delhomme, respondia ao jornalista: "É um mito o advogado que permite ao criminoso escapar. Se isso acontece, é porque o Ministério Público não fez o seu trabalho." Quer dizer: mesmo sabendo que alguém, acusado de um crime, não está inocente, o advogado defende-o e, se o indivíduo for inocentado, a culpa recai toda sobre o Ministério Público, que "não fez o seu trabalho". Há tempos, um outro advogado, neste caso português, afirmava a Maria João Seixas: "Não tenho nenhuma ideologia do crime. É-me igual a defesa de um homicida, de um pedófilo ou de umas ofensas corporais. Não ponho em nenhum destes, ou de outros exemplos, quaisquer calores especiais."
Como cidadão comum, que propugna a defesa do bem na sociedade, causa-me alguma perplexidade ouvir estas opiniões. Eu sei que um advogado (ad + vox) é alguém que empresta a sua voz na defesa de uma causa e, neste sentido, tanto pode defender o algoz como a vítima. Mas há algo de mercenarismo que me repugna nesta possibilidade de defesa, a sério, tanto de um caso como do seu oposto.
A propósito dos privilégios que ao longo dos anos foram sendo alcançados por grupos profissionais como os dos juízes, dos militares e dos professores, Vital Moreira, outro homem de leis, afirma num recente artigo que "a captura do Estado pelos corpos profissionais de elite do sector público é resultado, antes de tudo, da fraqueza daquele." Voltamos à mesma história da culpabilização inicial do Ministério Público, aqui transformada em "Estado", que não terá feito bem o seu trabalho. Ora, quem está neste Estado? Políticos, muitos deles advogados. Logo, para esses advogados -- e para outros igualmente, porque não? -- jogar para um lado ou para outro é sempre possível, apesar do juramento de fidelidade prestado em Belém perante o Presidente da República e as câmaras de televisão.
E é aqui que caio num outro caso, dado à luz também recentemente: o da empresa Eurominas, que, tendo recebido do Estado terrenos a preço simbólico na Península de Setúbal para neles se instalar, a dada altura descontinuou a sua actividade regular. O Estado, correctamente, exigiu que os terrenos lhe fossem devolvidos nos exactos termos em que tinham sido cedidos à empresa. As benfeitorias entretanto realizadas reverteriam a favor do Estado. Ao que os media narram, a situação arrastou-se por vários anos, com a Eurominas a não querer devolver os terrenos de mão beijada e a pedir indemnizações, as quais lhe eram recusadas pelo Estado e pelos tribunais. Eis que, entretanto, advogados que já estiveram ao serviço do Estado mas que agora têm a Eurominas como cliente, conseguem que esta receba -- mais uma vez da úbere mas já mirrante teta da vaquinha estatal -- uma indemnização choruda.
De quem é a culpa? Da falta de ética dos advogados que interferiram no assunto, tal como no propalado caso dos sobreiros que envolveu o CDS no anterior governo, ou da inépcia do Estado em defender os interesses gerais da Nação? Será aqui que entroncam os "homens de confiança", que se são da confiança de uns é porque não são da confiança de todos? Assim, a culpa, se é que existe, tende a deslocar-se de pessoas com rosto para um Estado sem rosto. Ou seja: dilui-se. O passo seguinte é afirmar que "quem tem a culpa é o povo que elege os políticos!" Pronto. Está tudo dito. É como querer acusar Deus de ter criado o mal no mundo, porque, se não tivesse criado o homem, esse mal não existiria.
Entretanto, as tetas da vaca vão ficando mais flácidas e vazias, e o prado, menos verdejante, ressente-se da seca.

10/04/2005

Madeira, baluarte civilizacional

Imagine alguém que lhe pespega teorias sem-fim sobre democracia. Você convencer-se-á de que está em presença de um democrata? Se sim, é ingénuo. Não é na teoria que as pessoas se conhecem, mas sim na prática. Não me parece que a questão central à volta do Doutor Alberto João Jardim seja a democracia. Na realidade, esta será até relativamente irrelevante no contexto geral. De resto, ele foi já eleito um número significativo de vezes, segundo todas as regras da democracia, pelo povo da Madeira. Foi eleito para governar, e deverá parecer -- a não ser a uma meia-dúzia de esquerdóides democratas sem provas dadas -- que tem governado bem.
Você tem visto a evolução da Madeira nos últimos trinta anos? Já viu como, apesar de tudo o que os pasquins dizem do governante, a ilha continua a ser um paraíso de ordem e de paz? Já reparou que no Funchal não há os milhares de graffitti que emporcalham as ruas de Lisboa? A Madeira parece um oásis de um certo Portugal antigo, mas com todas as características de modernidade de um país avançado. Esta conciliação não é fácil de alcançar. Esplêndidos hotéis, vias de comunicação impecáveis, um aeroporto que foi premiado, segurança nas ruas, jardins bem conservados, ruas limpas, escolas a funcionar, uma zona off-shore -- que mais se pode querer?
Não é impossível que, do ponto de vista democrático, aqueles que no Continente vilipendiam o Doutor Alberto João Jardim agissem menos democraticamente do que ele se estivessem no governo da ilha. O que decerto não conseguiriam era manter um paraíso impecável, como aquele que a Madeira oferece a quem a visita. Poderá dizer-se que há uma mão férrea por detrás, mas é uma mão que sabe governar. O resto são tretas! Palavras e mais palavras para encher jornais e telejornais!

10/03/2005

Sobre o Poder

Alguém me pediu ontem umas frases sobre o poder para um trabalho seu. Enviei-lhe três páginas de citações que tenho em ficheiro, recolhidas de várias fontes. Talvez uma meia dúzia dessas citações tenha interesse para os leitores deste azweblog.

- "O poder é como um violino: toma-se com a esquerda e toca-se com a direita." (Juan Peron)
- "Um indivíduo pode ter óptimas ideias antes de ser ministro. Porém, quando se senta na cadeira do poder, as ideias começam a entrar-lhe pelo rabo acima."
- "Putas ao poder, que os filhos já lá estão!"
- "Paris vale bem uma missa!" Frase famosa que se cita a propósito das pessoas gulosas de poder que não se incomodam de engolir uns tantos sapos para o alcançar. É atribuída a Henrique IV de França, de tendência protestante (huguenote), a propósito da sua necessidade de ser católico para ser coroado rei de França, o que de facto veio a suceder.
- "Poder é fazer os outros acreditar que as nossas ideias são as deles." Disse-o o Alvin Toffler.
- "O grande problema dos reis era que nunca tocavam nos puxadores das portas -- esse prazer estava-lhes vedado." Henri Michaux
- "O pior que se pode dizer de um chefe é a verdade!"

Alguns comentários?

10/02/2005

Uma questão de tamanho

Os médicos gostam de dizer que somos muito o espelho daquilo que comemos. E têm toda a razão quando se referem à obesidade ou à excessiva magreza por excesso ou carência de comida. É óbvio que existem também motivos de ordem genética ou disfunções ocasionais que podem provocar a gordura ou o emagrecimento, mas o que se come conta muito.
Os póneis são lindos cavalinhos que nascem e crescem nas ilhas Shetland. Devido ao facto de essas ilhas britânicas serem batidas por fortes ventos oceânicos, os pastos não são ricos, pelo que os animais crescem pouco. Há umas décadas, um americano imbuído de espírito de iniciativa e sentido comercial pensou que teria um óptimo mercado na América se conseguisse criar póneis no seu país. Ao fim de duas gerações, porém, os póneis que tinha importado transformaram-se em cavalos normalíssimos.
Os chineses são, em grande medida, tão pequenos por falta de comida adequada (a situação tende a melhorar, obviamente). Ao fim de duas ou três gerações nos Estados Unidos -- e há milhares de chineses que todos os anos emigram para lá -- eles ficam praticamente da mesma altura dos americanos. Sob um determinado ângulo, os chineses são póneis humanos, como lembrava Josué de Castro na sua Geopolítica da Fome.
Quando vamos a Marrocos, somos surpreendidos pelo tamanho dos burros locais. São francamente mais pequenos que os burros lusitanos. A razão é a mesma que trouxe os muçulmanos a invadirem a Península Ibérica no primeiro século da era de Maomé. Aqui havia mais água, mais frutos, a terra era mais rica -- era, no fundo, a terra que os textos do Corão prometiam.
Nós, portugueses, somos hoje também substantivamente mais altos do que no passado. No último século crescemos em média cerca de dez centímetros. É claro que tudo tem a ver com o maior consumo de carne, de leite, de ovos, e outros géneros alimentícios que um menor poder de compra e um mundo diferente não nos colocavam ao alcance do prato.