7/27/2011
Os rios continuam a correr para o mar
Face ao estado depressivo do país, a notícia que surge hoje nos meios de comunicação social constitui uma realidade obscena: durante o ano passado, os 25 mais ricos de Portugal aumentaram em 17,8 por cento as suas fortunas.
7/20/2011
Accountability
A desresponsabilização, i.e. em certa medida o oposto do expresso pelo vocábulo inglês accountability, é algo demasiado vulgar na sociedade portuguesa. "A culpa morre solteira" é expressão usada todos os dias. Por seu lado, são muitos os rapazes e raparigas que dizem, quando repreendidos pelos seus pais relativamente a gastos desmesurados ou a uma certa preguiça na procura de emprego, que "a culpa não é minha; não fui eu que pedi para vir ao mundo: foram vocês que cá me puseram!".
Parcialmente na mesma linha, vem a também vulgar expressão “Somos todos culpados!”, que se traduz, na prática, por uma desculpabilização de todos em geral e de cada um em particular. Lembra a história do elogio, que quando é oferecido a todos acaba por não ser dado a ninguém.
Em tempos de vacas magras, que são as que não riem, ao contrário das outras, também os políticos pretendem passar a mensagem relativamente à crise: "Somos todos responsáveis!". A asserção derivará do facto de que todos vivemos na mesma sociedade e, principalmente, da nossa condição de eleitores. Se elegemos quem elegemos, depois não nos podemos queixar. Somos co-responsáveis.
Embora isso seja parcialmente certo, não passa de uma falácia. Não só votamos em diferentes partidos, portanto não necessariamente naqueles que acabam por sair vencedores - e são estes depois que tomam as decisões por nós todos - como os governantes se encarregam quase logo desde a sua tomada de posse de eliminar a nossa eventual co-responsabilidade ao tomarem medidas diferentes das que foram socialmente "contratualizadas" no período pré-eleitoral. Ora, quando uma parte não cumpre o seu lado do contrato desobriga automaticamente a outra.
Sejamos claros e falemos de um caso actual: o aumento de impostos vai contra muito do que os partidos no actual governo – PSD e CDS – andaram a proclamar durante o período eleitoral. Eles, que tanto falaram dos cortes na despesa, nada fazem nesse sentido. Aumentar os impostos não os distingue de governos anteriores. Assim como não se destrinçam de outros governos quando isentam o capital e as grandes empresas de uma taxa adicional sobre os seus lucros. Manter a injustiça social, agravando-a até, nunca poderá levar uma nação a apoiar um governo e a entender os sacrifícios que lhe são impostos.
Quer queiramos quer não, este é mesmo um mau começo. Quem se desdiz, desrespeita-se.
Parcialmente na mesma linha, vem a também vulgar expressão “Somos todos culpados!”, que se traduz, na prática, por uma desculpabilização de todos em geral e de cada um em particular. Lembra a história do elogio, que quando é oferecido a todos acaba por não ser dado a ninguém.
Em tempos de vacas magras, que são as que não riem, ao contrário das outras, também os políticos pretendem passar a mensagem relativamente à crise: "Somos todos responsáveis!". A asserção derivará do facto de que todos vivemos na mesma sociedade e, principalmente, da nossa condição de eleitores. Se elegemos quem elegemos, depois não nos podemos queixar. Somos co-responsáveis.
Embora isso seja parcialmente certo, não passa de uma falácia. Não só votamos em diferentes partidos, portanto não necessariamente naqueles que acabam por sair vencedores - e são estes depois que tomam as decisões por nós todos - como os governantes se encarregam quase logo desde a sua tomada de posse de eliminar a nossa eventual co-responsabilidade ao tomarem medidas diferentes das que foram socialmente "contratualizadas" no período pré-eleitoral. Ora, quando uma parte não cumpre o seu lado do contrato desobriga automaticamente a outra.
Sejamos claros e falemos de um caso actual: o aumento de impostos vai contra muito do que os partidos no actual governo – PSD e CDS – andaram a proclamar durante o período eleitoral. Eles, que tanto falaram dos cortes na despesa, nada fazem nesse sentido. Aumentar os impostos não os distingue de governos anteriores. Assim como não se destrinçam de outros governos quando isentam o capital e as grandes empresas de uma taxa adicional sobre os seus lucros. Manter a injustiça social, agravando-a até, nunca poderá levar uma nação a apoiar um governo e a entender os sacrifícios que lhe são impostos.
Quer queiramos quer não, este é mesmo um mau começo. Quem se desdiz, desrespeita-se.
7/13/2011
Poesia de A a Z
Para a letra H, o poema Juventude, de Pedro Homem de Mello:
Lembras-te, Carlos, quando, ao fim do dia,
Felizes, ambos, íamos nadar
E em nossa boca a espuma persistia
Em dar ao Sol o nome do Luar?
Tudo era fácil, melodioso e longo.
Aqui e além, um súbito ditongo
Ecoava em nós certa canção pagã.
Contudo o azul do mar não tinha fundo
E o mundo continuava a ser o mundo
Banhado pela aragem da manhã!...
in "O Rapaz da Camisola Verde"
Lembras-te, Carlos, quando, ao fim do dia,
Felizes, ambos, íamos nadar
E em nossa boca a espuma persistia
Em dar ao Sol o nome do Luar?
Tudo era fácil, melodioso e longo.
Aqui e além, um súbito ditongo
Ecoava em nós certa canção pagã.
Contudo o azul do mar não tinha fundo
E o mundo continuava a ser o mundo
Banhado pela aragem da manhã!...
in "O Rapaz da Camisola Verde"
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