6/30/2004

Uma modéstia assim não tem lugar em Portugal

O Presidente indigitado da Comissão Europeia afirmou aos microfones da RTP que pôs a sua gravata da sorte -- e os portugueses ganharam à Holanda. Só não tinha usado a sua inspiradora gravata no Portugal-Grécia, e o resultado foi o que se sabe.
Se a vaidade pagasse imposto ...

6/25/2004

Matriz de Acontecimentos (25 Junho)


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6/23/2004

A nossa cerveja

Anteontem, estando eu a ver um canal televisivo em língua inglesa que transmitia informações económicas da Bloomberg, ouvi um comentário relativamente ao Euro 2004: se a Inglaterra passar às finais, calcula-se em (não sei quantos) milhares de litros extra de cerveja que serão consumidos pelos adeptos ingleses.
Embora sem saber quantificar a coisa, também a mim e a toda a gente parece, pelo que se tem visto, que o consumo de cerveja vai continuar a disparar. Mas porquê a notícia da Bloomberg? Bem, existe de facto uma razão: é que uma das grandes cervejeiras portuguesas -- a Sociedade Central de Cervejas (Centralcer), fabricante da bem conhecida Sagres e vendedora também da água do Luso -- é detida não por portugueses mas sim pelo terceiro maior grupo cervejeiro europeu, a Scottish & Newcastle, sediada na Escócia (Edimburgo). (Aqui virá a propósito recordar que o outro grande grupo cervejeiro nacional, a Unicer -- Superbock, Águas de Vidago e Melgaço --, é detido maioritariamente por colombianos.). A Scottish & Newcastle prepara-se neste momento para fabricar a Sagres em Angola, estando já a efectuar a mesma acção de marketing que pratica em Portugal: patrocina a selecção nacional angolana de futebol. Para o fabrico da Sagres em Luanda, a Centralcer associou-se ao grupo cervejeiro francês Castel, que produz aquela que é a marca localmente mais conhecida: a Cuca. Em 2007, os britânicos esperam estar a vender em Angola qualquer coisa como 120 milhões de litros de Sagres.
A estratégia a longo prazo das nações mais ricas da União Europeia ao convidarem os antigos países colonialistas Portugal e Espanha a integrarem a União está a dar os seus frutos.

6/21/2004

Goolo!

Foi bom ver os jogadores da selecção empenhados frente à Espanha. Por uma vez, lutaram que se fartaram! O mosaico temporal de rotinas, alegrias e tristezas que a vida é teve para nós mais um quadradinho de explosão de alegria. Soube bem.

6/20/2004

Senhora Nossa

A palavra árabe "xatranj", de origem persa, foi trazida pelos muçulmanos para a Península Ibérica no século X. Hoje em dia, a adaptação portuguesa de "xatranj" surge-nos ligada a variadíssimas coisas, que vão de padrões de vestuário, de papel, madeira e mosaicos, a tabuleiros, às grades de uma prisão e, acima de tudo, a um jogo mundialmente conhecido: o xadrez.
O xadrez é um jogo entre dois exércitos, disputado sobre um tabuleiro com um total de 64 casas geralmente pretas e brancas, tal como as 32 peças -- 16 de cada lado --, que constituem o corpo militar. Inicialmente, cada um dos exércitos possui uma primeira linha constituída por oito peões e uma segunda linha onde se encontram o rei e a rainha, dois cavalos, dois bispos e duas torres. O objectivo principal do jogo consiste em manobrar as pedras de tal forma que se consiga encurralar o rei do exército inimigo, declarando posteriormente duas palavras foneticamente parecidas com as originais persas (shah mat): "Xeque mate!" ("o rei está morto").
Como se sabe, as peças não possuem todas o mesmo poder de movimentação: há as que podem avançar apenas uma casa (os peões), as que podem saltar algo imprevistamente (os cavalos), as que se movem na diagonal (os bispos), as que se deslocam lateralmente e para a frente (as torres), as que estão resguardadas e pouco se movem (os reis) e as que podem andar para a frente e para trás, na diagonal, na horizontal e na vertical se preciso for: as rainhas. Têm mobilidade total! Ora, aqui coloca-se uma questão que parece óbvia: conhecendo nós as raízes socio-culturais das sociedades do Médio Oriente e o tratamento ainda hoje dado à mulher nas sociedades de religião islâmica, como é que poderemos entender que um jogo originalmente persa atribua uma tal mobilidade a mulheres? Mais: se é a rainha a última grande defensora do rei, não será humilhante para um homem ver-se assim protegido pela sua mulher?
A explicação acaba por ser simples. As peças do jogo de xadrez, tal como hoje as identificamos, não são necessariamente as originais, tendo sofrido adaptações. Na realidade, elas constituem por assim dizer um auto-retrato das cruzadas cristãs dos séculos XI a XIII. Estes foram dois séculos de grande e fecundo intercâmbio entre o Médio oriente e o Ocidente. O jogo do xadrez foi então re-introduzido na Europa, nomeadamente nos países fora da Península Ibérica, lembrando um pouco a história dos moinhos, que foram deixados aqui na Península pelos árabes e por isso são diferentes dos que acabaram por ser trazidos para outras partes da Europa, v.g. Holanda. Assim, atrás da primeira linha dos peões estavam os grandes símbolos das Cruzadas. As torres são as fortalezas que as diferentes ordens de cavalaria (Templários, Hospitalários) mandaram construir no percurso para sua salvaguarda e dos peregrinos que demandavam a Terra Santa. Ainda hoje existem algumas ruínas dessas torres. Os cavalos simbolizam os cavaleiros. São um símbolo importante, na medida em que não só dão superioridade no combate como também conferem um estatuto de nobreza: ser "cavaleiro" está associado a ser "cavalheiro", gentleman. Os bispos são os representantes da Igreja, que naturalmente apadrinhava todo o movimento. Muito sintomaticamente, os bispos atacam algo traiçoeiramente de viés. Que o rei é o Xá já sabemos. E a rainha? Bem, a rainha substituíu a figura original do "condestável" do Xá. Aqui teremos que ter presente que as cruzadas constituíram um movimento para retirar o Santo Sepulcro de Cristo das mãos dos "infiéis". A fé na Virgem Maria, mãe de Jesus, foi então elevada ao extremo. Na realidade, "aos píncaros das catedrais". Por esse motivo, acharam os cruzados que quem mais podia interceder por todos era Nossa Senhora. Quem protege o rei não é uma mulher qualquer, mas sim alguém com poder divino. Todo o apoio de que o rei possa necessitar passa assim a ser o suporte divino de que todo o homem carece na visão medieval. Mesmo os que são reis.
Considero o "xatranj" um exemplo interessante da adaptação europeia de um jogo importado de uma cultura e civilização diferente.

6/18/2004

Galo

Nada há de tão patético como um galo afónico que, manhã bem cedo, não consegue convencer o sol a levantar-se.

6/17/2004

Matriz de Acontecimentos (17 Junho)


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6/15/2004

A FEIJÕES

Estas eleições, formalmente europeias, foram de facto legislativas, se bem que «a feijões» (por isso nem o PS ganhou, nem a coligação de direita perdeu). Pudesse o governo cair por causa delas, correndo o risco de passar o testemunho ao problemático Ferro Rodrigues, decerto ficariam no limbo muitos dos votos oferecidos ao PS - votos úteis, pragmaticamente destinados a pressionar o governo elegendo o seu melhor carrasco potencial (talvez actual em 2006, quando for realmente «a doer»).
Não se tratou pois de uma vitória genuína do PS (em parte instrumentalizado para fazer mossa a outros), muito menos do seu líder, que continua, por «mérito» próprio, periclitante. Periclitante e no entanto, graças a este resultado «histórico» patrocinado pela Europa, legitimado e protegido contra eventuais investidas predatórias da sua corte, esta por agora sem margem de manobra para desafiar o chefe. Quanto à derrota imposta à coligação PSD/PP, ela foi, em grande parte, sobretudo um aviso. E quem avisa amigo é...


6/14/2004

Eleições para o Parlamento Europeu

A culpa dos seus maus resultados eleitorais não deve ser assacada ao Governo, mas sim à oposição, nomeadamente ao PS. De facto, ao comportar-se frequentemente de forma deplorável, com envolvimentos obscuros no processo Casa Pia e peixeiradas em Felgueiras e Matosinhos, os socialistas não espicaçaram suficientemente os governantes para que estes governassem melhor o país. O resultado está à vista: mesmo tratando-se do produto de uma coligação PSD-CDS, os resultados apurados cifraram-se num exíguo terço do total das vontades expressas. Para a próxima vez deverão, antecipadamente e com fervor, rezar um rosário inteiro a Nossa Senhora de Fátima para que outro terço se venha juntar a este.
Da oposição espera-se que mantenha o seu comportamento anterior. Noutros tempos, também o Dr. Salazar produzia mais comunistas do que o Dr. Cunhal.

6/10/2004

Eleições europeias

As eleições para o Parlamento Europeu permitiram-nos recordar o número de membros que cada país elege. É um mapa interessante este do número de parlamentares dentro do outro mapa dos 25 países que constituem a actual União. E levanta-se inevitavelmente a questão: qual foi o critério usado -- terá sido o da área territorial de cada país? O do número de habitantes? Ou o do Produto Interno Bruto (PIB)? Ou, ainda, uma conjugação destes três? O critério da área territorial "tout court" é pouco lógico, pois não parece adequado que áreas desertas valham tanto como áreas habitadas. O critério do número de habitantes seria uma solução mais correcta, pois uma sociedade é composta por pessoas, que portanto são uma componente importante numa União. Quanto ao PIB, também se nos assemelha que deve ser tomado em linha de conta, na medida em que representa o labor de um país em termos de valor acrescentado e desenvolvimento.
Posto isto, francamente não sei de facto qual o critério utilizado para a distribuição do número de membros parlamentares. Portugal tem 24. Tanto a Grécia como a Bélgica e ainda a Hungria contam igualmente com 24. Porém, a Grécia, que é maior que Portugal, tem menos habitantes do que o nosso país. A Bélgica tem uma área menor mas um peso maior no conjunto do PIB da U.E. A Holanda, que é mais pequena em superfície do que Portugal mas tem cerca de 50 por cento mais de habitantes, possui um PIB que é cerca de 4 vezes o nosso. Por isso (?), tem direito a 27 representantes no Parlamento europeu, ou seja mais três do que nós. Por seu lado, a Espanha, que é 5,5 vezes maior do que Portugal e tem quatro vezes mais habitantes, dispõe de 54 membros do Parlamento europeu, ou seja pouco mais do que o dobro dos de Portugal. Entretanto, a Polónia, que tem 1/3 do PIB espanhol, conta com os mesmos 54 membros. À Finlândia, com metade da população de Portugal e um PIB mais elevado, não couberam mais do que 14 membros, dez menos do que a Portugal. A Áustria, que possui sensivelmente a área de Portugal e tem uma população inferior em número mas um PIB consideravelmente maior, dispõe de apenas 18 membros.
De um total de 732 representantes nacionais no Parlamento europeu, a Portugal cabem 3,3 por cento. Curiosamente, França, Itália e Reino Unido têm o mesmo número de membros: 78 cada (32,1 por cento do total no seu conjunto). A Alemanha segue na liderança, com 99 representantes (13,5 por cento), liderança que parece assentar com alguma lógica no país-locomotiva. A Alemanha possui uma população superior a 80 milhões e um PIB que representa mais de vinte vezes o português.
Deixo aqui estas indicações aguardando que uma alma caridosa e sabedora me resolva o enigma do critério ou me responda: ?trata-se de decisões meramente políticas. Quem teve maior força negocial, negociou melhor." Será isso? Quem desblogueia esta minha ignorância?

6/07/2004

Na sequência do que o Peter Pan acaba de escrever, e precisamente pelas razões implícitas nesse texto, é que era importante que a Europa se fortalecesse, para poder fazer face a uns Estados Unidos cada vez mais perigosamente imperialistas e belicistas.

Numa altura em que acabam de chegar à casa europeia nações culturalmente mais distantes, parece-me que a campanha para as eleições europeias seria uma oportunidade privilegiada de conhecimento mútuo, de esclarecimento, de propostas de vivência em comum em matérias que todos os dias e a todos nos tocam. E, consequentemente, uma oportunidade potencialmente geradora de união, união essa que a sabedoria popular diz fazer a força.

E o que vemos nós, portugueses, na campanha eleitoral em curso cá na lusa terra? Já alguém se sentiu minimamente esclarecido por alguma acção desta campanha?
Quem de entre nós, cidadãos comuns, sabe o suficiente sobre os projectos (e principalmente sobre a diferença entre eles) existentes para o espaço comunitário, de modo a votar conscienciosamente no partido A ou B?

Os políticos estão a prestar o pior dos serviços à democracia. Entretidos no ping-pong do ataque pessoal, paradigma da baixeza com que se anda a fazer política, não querem perceber que o povo espera deles seriedade, rigor, empenhamento, e não apitos, aventais e troca de insultos.

6/06/2004

O Dilema

A Europa do poder -- a Alemanha, a França, a Rússia, inter alia -- encontra-se presentemente num dilema: aprovar ou não o novo plano dos Estados Unidos de uma maior intervenção da ONU no Iraque. Por um lado, não colaborar pode significar um agravar da situação, com consequências que atingem os próprios europeus, v.g. a alta dos preços do petróleo. Em contrapartida, colaborar implica automaticamente dar um aval à política de Bush e contribuir até para a sua (indesejada) reeleição. Ora, como grande parte da Europa gostaria que "a nação mais forte" recebesse uma lição exemplar pelo seu comportamento belicista, anti-democrático apesar de proclamado em nome da democracia, o dilema está criado.
Muitos europeus sentem que, desde a instalação das Nações Unidas em Nova Iorque após a 2ª Guerra Mundial, o sol passou a nascer a ocidente. Creio que devido à arrogância exibida pela América nos últimos anos, a Europa sentiria algum gosto em ver os Estados Unidos serem coagidos a praticar um acto de contrição. E isso não sucedeu ainda. Na Europa há muitos católicos que quando pensam reflexivamente nas palavras do Padre Nosso -- "perdoai-nos, Senhor, as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido" -- consideram, com alguma lógica humana, que se perdoarem as ofensas ao mais poderoso ele continuará muito provavelmente a cometer as mesmas ou até outras mais graves.
Dir-me-ão: "E onde está a defesa dos valores do Ocidente?" É um facto que a Europa e a América partilham muitos dos valores da civilização ocidental. Porém, o próprio Papa terá há dias lembrado a Bush que não estava muito de acordo com os seus princípios bélicos. Estaremos confrontados com a hipótese de um novo e inédito Cisma do Ocidente? Pelo menos, dá que cismar...

6/03/2004

Matriz de Acontecimentos (3 Junho)


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