7/29/2010

Tréguas



Pela minha parte, o azweblog vai dar umas tréguas aos seus leitores, em princípio até aos finais do mês de Agosto. Espero, naturalmente, que os meus companheiros mantenham a sua escrita, sendo certo que o João Miguel já cumpriu a sua missão com uma edição XXL das suas habituais Sugestões.

A todos, votos de um bom mês, seja ele de um bem merecido descanso ou de trabalho necessário e inadiável.

Até já!

7/23/2010

Qualidade e felicidade

Tal como decerto muitas outras pessoas, associo frequentemente qualidade a felicidade. Suponho que o faço devido a factores que me parecem comuns.
A qualidade não depende apenas de um produto ou de um serviço. Ela está muito dependente do juízo que o seu utilizador faz. Posso eu próprio considerar de qualidade um automóvel Volkswagen que comprei; porém, é inegável que para determinadas pessoas abastadas um Volkswagen não possui qualidade suficiente. Qualidade para elas será a de um Ferrari ou de um Rolls-Royce, com uma série de requisitos que o VW em questão não oferece. O limiar das expectativas e consequente satisfação das pessoas condiciona muito a sua noção de qualidade. A um limiar baixo corresponde, naturalmente, um produto ou um serviço de qualidade absoluta menos elevada. Assim é que para muitos indivíduos um hotel de duas estrelas, bem localizado, asseado, com quartos aprazíveis, um bom pequeno-almoço e preços razoáveis, preenche os requisitos de qualidade. Haverá outros indivíduos para quem mesmo um hotel de cinco estrelas poderá não possuir qualidade suficiente, por uma razão ou por outra.
Daqui se concluirá, de maneira sintética mas não muito distante da realidade, que a qualidade de um produto ou serviço está directamente relacionada com a expectativa da pessoa que o adquire ou utiliza.
Ora, suponho que com o conceito de felicidade se passa algo muito semelhante. (Gostaria de acentuar que considero a felicidade o objectivo mais importante da vida do homem, seja essa felicidade atingida em momentos mais ou menos fugidios, seja em períodos mais prolongados, daqueles que são imensamente gratificantes quando a memória no-los traz em retrospectiva.) Tal como a qualidade, a felicidade depende do indivíduo. Quem está invariavelmente insatisfeito não pode, em meu entender, ser uma pessoa feliz. Uma das razões é porque, muito possivelmente, conjuga a felicidade mais com o "ter" do que com o "ser". A insatisfação depende do limiar de expectativas. Concordo quando se diz que a verdadeira felicidade consiste em apreciar o que temos e não em sentirmo-nos mal por aquilo que não temos. Ou, se se pretender numa variante, a felicidade não depende daquilo que nos falta mas sim do bom uso que fazemos daquilo que possuímos.
Existe uma enorme tendência para medir a inteligência de uma pessoa pelo dinheiro que ela consegue fazer. Inteligente será quem consegue fazer muito dinheiro. A raiz do mal residirá no facto de se insistir demasiado que é no êxito da competição que está a principal fonte da felicidade. O êxito pode ser um dos vários elementos da felicidade, mas o seu preço será demasiado elevado se a ele se sacrificarem todos os outros elementos.
Uma vez, ao ler um jornal parei para ler melhor a frase de alguém que tinha escrito uma carta à redacção. Dizia basicamente isto: "Basta ser feliz. Não é necessário ser mais feliz do que os outros." Considero esta uma observação pertinente. Numa sociedade de keeping up with the Joneses, em que se pretende competir com todos para ser o melhor – receita tremendamente eficaz para o envenenamento da alma – é um erro pretender verificar se se é mais ou menos feliz do que os outros. É uma inadvertida (ou consciente?) auto-flagelação.
Fernando Pessoa perguntava "Porque é que, para ser feliz, é preciso não sabê-lo?". Acho que a resposta é sensivelmente coincidente com o facto de, quando fazemos um esforço para nos mantermos alerta a fim de detectarmos o exacto momento em que vamos cair no sono, não conseguirmos adormecer.
No seu Elogio da Loucura, Erasmo sugere que quanto maior for a sabedoria, menos feliz será a vida. Pessoalmente, atrevo-me a considerar que embora a felicidade possa eventualmente ser menos prolongada e mais intervalada para o sábio do que para o ignorante, quando ela surge é muito mais profunda, além de mais conscientemente percebida.

7/21/2010

Meia-dúzia de citações

Estas são seis citações muito breves. A primeira é de Mencken, que morreu em meados do século passado. As duas seguintes são do antigo primeiro-ministro britânico Winston Churchill. O francês Clemenceau assina a quarta. A seguinte é de Amos B. Alcott, que viveu quase todo o século XIX. Da última citação lamento desconhecer a autoria, mas creio que todas elas valem a pena ser referidas aqui.

- Um político de coração puro é algo tão inconcebível como um ladrão honesto.

- Um bom político é aquele que é capaz de prever o futuro e que, depois, é igualmente capaz de explicar por que motivo as coisas não se passaram exactamente como ele tinha previsto.

- A política é mais perigosa do que a guerra. Na guerra, não podemos morrer senão uma vez. Na política, várias.

- A honra é como a virgindade: perdida uma vez, perdida para sempre.

- Ignorar a própria ignorância é a doença do ignorante.

- Um criativo ignorante no poder é a mistura mais explosiva que pode existir.

7/16/2010

Uma questão de género

Por vezes, o facto de um animal, um objecto ou um conceito serem expressos noutro idioma por uma palavra diferente da que usamos na nossa língua impressiona-nos menos do que se o género do vocábulo não for igual ao nosso. Isto quer dizer que a um masculino português nem sempre corresponde um masculino na língua estrangeira que estamos a usar, ou que um feminino nosso pode não ter o seu equivalente num outro feminino.
A este propósito, não posso deixar de me lembrar da atrapalhação e enorme embaraço que há anos vi numa amiga minha quando se deu conta de que numa edição oficial e dispendiosa de um livro em espanhol, da qual era responsável, tinha inadvertidamente colocado como título na bonita capa El mar em vez de La mar. Sucede...
Num caso sem qualquer relevância material como o da história acima, aconteceu comigo estar uma vez com uma amiga alemã num comboio entre Barcelona e Madrid. No compartimento da carruagem em que íamos seguiam praticamente só espanhóis. Entre nós falávamos alemão. A certa altura, ela, que ia para Madrid passar uns meses a aprender espanhol, começou de brincadeira a pedir-me a tradução de coisas que íamos vendo do comboio. Conforme sabia, eu ia traduzindo a resposta para um espanhol que nunca aprendi a não ser em canções, filmes, livros e revistas de banda desenhada. Os espanhóis à nossa volta acompanhavam o jogo com acenos aprovativos de cabeça quando eu dizia un coche para "automóvel", una carretera para "estrada" e coisas do género. Até que surgiu uma ponte. Aí, a minha amiga perguntou-me como se dizia. Puente, disse-lhe eu. Un puente?, perguntou-me ela. Não, disse-lhe eu, una puente! Ergueram-se os espanhóis do banco em frente e exclamaram em uníssono: un puente! Rimo-nos todos, claro. Eu acabava de fazer o erro que, muitos anos mais tarde, a minha outra amiga haveria de cometer com a palavra "mar".
Porquê? Porque a associação que na língua materna geralmente se faz entre um objecto e o género feminino ou masculino parece-nos fazer parte integrante desse mesmo objecto. Mudar essa característica arrepia-nos. Imaginemos der Mond e die Sonne, na língua alemã, que são respectivamente "a lua" e "o sol". Como em alemão der é o artigo definido masculino e die o feminino, verificamos que existe uma absoluta inversão relativamente à nossa maneira de pensar. Passando a lua a ser masculina e o sol a ser feminino, os conceitos que isso gera no nosso cérebro são totalmente diferentes.
Quando, em francês, o dente que nos dói passa a ser feminino (la dent), à dor de dentes acrescentamos uma dor de cabeça. Viajando a uns anos atrás, recordo que na preparação de alunos para guias-intérpretes numa escola em que leccionei, notava muitas vezes uma certa complacente impaciência por parte da minha colega de Francês quando, a propósito dos coches do Museu de Belém, os alunos diziam la carosse. Ao longo dos anos, ouvi-a vezes sem conta corrigi-los para le carosse. Nada de mais natural, porém. Forçar um português a aprender que um coche se traduz pela palavra que para nós é associada a carroça já não é fácil: um é da corte, o outro da província. Fazer depois com que o aluno português ainda por cima tenha que mudar o género da palavra...! Embora a verdade seja que tudo acaba por evoluir posteriormente para uma questão de automatismo, não há dúvida de que de início a coisa não é exactamente simples.
Tomemos a palavra "cor". Está-se mesmo a ver que é feminina: "as cores". Que outra coisa poderia ser? "Os cores" não faria qualquer sentido. Contudo, em espanhol é mesmo assim: los colores. Fácil de assimilar? Não.
Os próprios portugueses confundem frequentemente o género de algumas palavras no seu idioma. Tomemos como exemplo o substantivo "moral". Deveremos dizer "a moral" ou "o moral"? São duas coisas diferentes. "O moral" é o ânimo (v.g. levantar o moral), a moral é um conjunto de leis convencionado como de boa conduta (v.g. a moral cristã). Porém, quantas vezes não ouvimos dizer que "é preciso levantar a moral dos portugueses"? Talvez, inadvertidamente, com razão.
Imaginar que a cegonha, a tal que tradicionalmente nos traz os bebés, pode passar a ser uma ave masculina representa uma certa complicação. Os bebés vêm da mãe, logo se é a cegonha a trazê-los será um aparente contra-senso falar em "o cegonho". Contudo, é assim mesmo em alemão. Der Storch é visto mais como o elemento fertilizador do par. O seu grande bico simboliza o órgão sexual masculino. É todo o ponto de vista que é alterado.
Esta é uma das muitas razões por que aprender línguas estrangeiras significa conseguir olhar uma significativa parte do mundo de outra forma. Transferimo-nos para uma varanda bem diferente da nossa. Obtemos novas perspectivas. Alargamos a nossa formação.
A conversa poderia prolongar-se por muitas páginas, o que acabaria por não fazer muito sentido num texto ligeiro como este. Terminemos com o nome de mais um animal que, em inglês, é por natureza masculino: fox. A raposa. Imaginar que, em vez da matreirice e astúcia da raposa encontramos afinal um raposo manhoso não dá para contar as habituais histórias infantis da raposa e do lobo, em que ele tem mais força e ela mais manha... e é ela que acaba por vencer. De visões de homem e mulher passamos de repente a dois machos. Que graça tem isso? Contudo, são estes choques culturais, tão frequentes como tantas outras coisas que vemos e que nos impressionam quando viajamos e contactamos sociedades diferentes que nos fazem desdogmatizar as nossas ideias, relativizar o mundo, sair do nosso casulo pequeno e entender melhor a universalidade da nossa existência. Tudo junto representa um enorme enriquecimento.

7/13/2010

A saga da economia e da finança continua



Depois de ter passado os olhos por dois artigos sobre o euro em revistas americanas, de ter lido um pequeno artigo da BBC News sobre o défice da balança comercial dos Estados Unidos e ainda uma notícia sobre o sistema bancário europeu no Público de hoje, decidi dar um salto até ao Parque das Nações, que fica a dez minutos de Metro da minha casa. Necessitava de desanuviar, aclarar ideias e, ao mesmo tempo, gozar de um fim-de-tarde ameno e sempre bonito à beira-rio. Olhando para aquele conjunto imponente de edifícios, alguns de muito boa arquitectura, tive que me indagar: será que todo este núcleo foi construído à custa de crédito bancário? E, se sim, será que os bancos portugueses tiveram que contrair empréstimos no estrangeiro para obter o capital de que necessitaram?
A pergunta é apenas simbólica. Nem o Parque das Nações representa o país, nem são aqueles hotéis e empresas que estão em questão. Mas a razão da pergunta sim.
Está presentemente em curso uma análise detalhada de bancos representativos de toda a zona euro. A análise (stress tests), igual para unidades bancárias da Alemanha, Espanha, Bélgica, Portugal e os restantes países da moeda única, pretende verificar qual é a real situação da banca europeia. Processo semelhante foi conduzido nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha já em 2008, i.e. há dois anos. Daí resultou um saneamento importante. Por que motivo se atrasou tanto a Europa nesta análise de conjunto? Basicamente, ao que suponho, porque a União Europeia não é um país, mas sim um grupo de países. Que muitas vezes se degladiam. Na falta de instituições políticas que sejam suficientemente fortes para impor uma medida deste estilo, só o agravamento da situação económica europeia nalgumas nações levou o BCE a decidir-se de uma vez por todas. Outras medidas se seguirão, possivelmente.
Segundo os americanos, que naturalmente nunca viram o aparecimento do euro-concorrente-do-dólar com bons olhos, o segredo que a Europa tem mantido guardado é que o seu sector bancário está mais doente do que a própria Wall Street. Os bancos da Europa terão sido tão agressivos quanto os americanos no jogo com "produtos tóxicos". No seu conjunto, os bancos europeus canalizaram 2,5 triliões (!) de dólares para as cinco economias mais periclitantes da EU: a Grécia, a Irlanda, a Bélgica, Portugal e a Espanha. Mesmo depois do desencadear da crise, em 2008, os bancos franceses aumentaram os seus empréstimos à Grécia em 23 por cento, 11 por cento à Espanha e 26 por cento a Portugal!
Os Estados Unidos estão preocupados com o desenvolvimento da economia europeia por uma razão básica: a estratégia de recuperação elaborada por Obama baseia-se na duplicação do volume de exportações americanas até 2015. Ora, se não houver uma Europa fortemente compradora – como está a acontecer actualmente – os EUA não conseguirão de forma nenhuma atingir esse objectivo. Lembremo-nos que o Plano Marshall do pós-2ª Guerra Mundial teve como objectivo principal a recuperação económica da Europa após o conflito... para que a América pudesse escoar os seus produtos.
Por outro lado, a crise europeia tem feito baixar a cotação do euro relativamente ao dólar, o que não só torna os produtos europeus mais competitivos, como ainda sobe o preço das exportações americanas, o que naturalmente dificulta as suas vendas.
O desemprego que assola alguns países europeus, nomeadamente a taxa de 20 por cento da Espanha e de 11 por cento de Portugal, é um problema gravíssimo. A aposta na construção imobiliária destes dois países e de outros, como a Irlanda, revelou-se imprudente. Graças a um juro baixíssimo, idêntico ao da Alemanha na medida em que estavam todas as nações na zona euro, os vultosos empréstimos contraídos por vários países sucederam-se. O resultado foi um aumento pouco cauteloso da dívida. Enquanto a Alemanha dispõe hoje de um saldo positivo gigante na sua conta corrente exportação-importação, países como a Espanha afundaram-se. Presentemente existem 800 mil casas em Espanha que não se venderam, o que deixou empresas e bancos a debater-se com enormes prejuízos. Entretanto, a falta de coesão da União é visível no facto de a Alemanha manter uma política económica de crescimento através das exportações e não através do desenvolvimento da economia interna. Deste modo, a Alemanha acaba por não ser o motor de que a União Europeia necessitava. Olha por si, e basicamente por si. Parcialmente tem razão: se a população fez sacrifícios e poupou, não estão agora dispostos a dar o produto dessa política a nações que foram mais cigarras do que formigas. Por outro lado, estão a actuar unilateralmente: por exemplo, ao contribuírem com empréstimos para a Grécia, acabam por ganhar dinheiro devido à sua taxa de risco ser menor. Igualmente com a venda de submarinos à Grécia e a Portugal, cuidaram mais das suas exportações do que da situação financeira dos países compradores, que são seus parceiros na União.
Em matéria de dívidas, é um facto que praticamente todos os países possuem dívidas consideráveis. Comparando com o seu Produto Interno Bruto (PIB), a percentagem da dívida grega é de 139 por cento! A da Itália vem logo a seguir (135 por cento)! São números incríveis, que mostram um enorme descalabro. Portugal está noutro escalão mais abaixo, mas também muito elevado: 99%, tal como a França. A Irlanda chegou aos 93% e a Grã-Bretanha aos 91 por cento. A Espanha está, neste aspecto, bastante melhor, "apenas" com 78 por cento. Quanto aos Estados Unidos, possuem também uma dívida muito alta: 95 por cento!
Conseguirão os países europeus e a América recuperar deste notório desequilíbrio? Essa é a grande questão. Será preciso fazer da União Europeia um bloco mais federado e menos nacional? Como resolver a questão do desemprego? Como impedir lutas sociais entre os privilegiados mais velhos e os trabalhadores precários mais jovens e menos protegidos? É importante que estejamos atentos às notícias.
A propósito, uma notícia de hoje diz-nos que o saldo negativo da balança comercial americana atingiu o valor mais elevado do último ano e meio. E o deficit nas trocas comerciais com a China chegou aos 22 biliões de dólares! Um dos grandes culpados da situação, segundo os americanos, é a subvalorização da moeda chinesa. No fundo, o grande problema para a América é que já não é ela que dita todas as leis, como antigamente. A estratégia de fixação de preços à escala mundial de commodities como o café, o cacau, o petróleo, o zinco, o cobre, etc., que os Estados Unidos usaram durante muitas décadas e que frequentemente estrangulava as finanças dos países produtores já fortemente endividados perante os EUA, acaba por ter efeitos semelhantes ao que a China faz agora com a não-valorização do seu yuan. A vida é assim: quem pode dita leis; quem não pode, amocha.

7/09/2010

AS SUGESTÕES DO JOÃO MIGUEL

Sugiro a consulta do site do El Corte Inglês (www.elcorteingles.pt) onde estão anunciados os cursos com início em Setembro (Cinema (!), Escrita, Ideias Religiosas, Poesia e História da Música). Inscrições (grátis) no “Ponto de Informação”, Piso 0, junto aos elevadores.

Até dia 10, às 22h00, no jardim do MNAA, Mostra do Cinema Ibero-Americano (detalhes: http://www.ica-ip.pt/detalhe.aspx?newsid=812 )

Até dia 11, no Casino do Estoril, Estoril Jazz 2010

Até dia 11, na FIL (Parque das Nações), 23ª FIA-Lisboa – Feira Internacional de Artesanato

Até dia 18, 27º Festival de Teatro de Almada (detalhes: http://www.ctalmada.pt/festivais/2010/ )

Até dia 18, em Óbidos, Mercado Medieval

Até dia 22, nos jardins do Instituto Alemão, JiGG (Jazz im Goethe-Garten)

Até dia 25, de terça a domingo às 20h00, nos jardins do Palácio do Beau Séjour, na Estrada de Benfica, 368, comédia O Burguês Fidalgo (0€)

Até dia 26, no Largo de São Carlos, Festival ao Largo 2010 (http://www.festivalaolargo.com/)

Até dia 30, no Convento dos Remédios em Évora, Música nos Claustros (XI Ciclo de Concertos)

Até dia 31, no Centro de Artes das Caldas da Rainha, Simppetra (13º Simpósio Internacional de Escultura em Pedra)

Quinta-feira, dia 8

às 6h25, na ARTE, Andy Warhol (30’)

às 18h00, no Anfiteatro ao ar-livre da Gulbenkian, concerto do Coro e Orquestras Geração

às 19h00, nos jardins do Instituto Alemão, JiGG (Jazz im Goethe-Garten) 2010: Faustino | Roder | Eberhard | Neuser

às 21h35, na ARTE, Joan Baez (85’)

às 21h45, na Quinta das Conchas, ao Lumiar, CineConchas 2010, cinema ao ar-livre: Crepúsculo, de C. Hardwicke

às 22h00, na Casa da América Latina, concerto ao ar livre pelos mexicanos El Gran Silencio (5€€=1 bebida)

às 22h00, na Cafetaria Quadrante do CCB, Jazz às 5ªs: Lackner | Franco | Lencastre Project

às 22h30, na Cinemateca, Cinema na Esplanada: Peggy Sue Casou-se

o Projecto 5ªs à Noite nos Museus Verão 2010 contempla actividades fora d’ horas no Palácio da Ajuda e nos Museus Soares dos Reis, Alberto Sampaio, Machado de Castro e de Évora (http://www.imc-ip.pt/pt-PT/noite_museus/ContentList.aspx)

Sexta-feira, dia 9

às 17h00, no CAM (Centro Arte Moderna da Gulbenkian), Encontros ao Fim da Tarde: Jorge Barbi: 41° 52’ 59” Latitude N/8° 5’ 12” Longitude 0

às 18h30, na Biblioteca-Museu República e Resistência (Espaço Cidade Universitária), conferência do ciclo Ateísmo, Laicismo e Anticlericalismo em Portugal: Ateísmo em Portugal, por Luís Ferreira Rodrigues

às 21h45, na Quinta das Conchas, ao Lumiar, CineConchas 2010, cinema ao ar-livre: Amadeus, de M. Forman

às 22h00, no Largo de São Carlos, Festival ao Largo 2010: Sonho de Uma Noite de Verão, pela Orquestra Sinfónica Portuguesa e Coro do Teatro de São Carlos

às 22h00, no Casino do Estoril, Dee Dee Bridgewater Quintet (30 €)

às 22h00, no Chapitô, Pat Silva

às 22h30, na Cinemateca, Cinema na Esplanada: Desesperadamente Procurando Susana

às 22h00, na Fábrica da Pólvora de Barcarena, Eugenio Bennato (concerto integrado no Festival 7 Sóis 7 Luas)

Sábado, dia 10

às 15h00, no Largo do Palácio da Vila de Sintra, recriação histórica de Torneios Medievais a Cavalo (repete no dia seguinte)

às 17h00, no Porto de Recreio de Oeiras, Merci Bien (artes de rua)

às 19h30, na Cinemateca, Luís II, Rei da Baviera

às 20h00, na ARTE, Tosca (em directo do Festival de Munique, encenação de Luc Bondy, 145’)

às 21h30, no Convento dos Remédios em Évora, Música nos Claustros (XI Ciclo de Concertos): recital, por Ana Madalena Moreira (soprano) e Quarteto Lacerda

às 21h45, na Quinta das Conchas, ao Lumiar, CineConchas 2010, cinema ao ar-livre: A Princesa e o Sapo, de R. Clements

às 22h00, no C. C. Olga Cadaval, Sintra, Freddy Cole Quartet (20 €)

às 22h00, no Largo de São Carlos, Festival ao Largo 2010: Sonho de Uma Noite de Verão, pela Orquestra Sinfónica Portuguesa e Coro do Teatro de São Carlos

às 22h30, na Cinemateca, Cinema na Esplanada: Selvagem e Perigosa

Domingo, dia 11

às 6h25, na ARTE, A Crucificação (1930), de P. Picasso (32’)

às 12h00, no CAM (Centro Arte Moderna da Gulbenkian), Domingos com Arte: Jorge Barbi: 41° 52’ 59” Latitude N/8° 5’ 12” Longitude 0

às 17h30, no Odessa (Av. Infante D. Henrique, Armazém B,Loja 9,Cais da Pedra, Sta Apolónia), Rio Jazz: Sara Serpa (voz) e André Matos (guitarra)

às 18h00, na Capela de Nª Sr.ª da Conceição e St.º Amaro, em Oeiras, Temporada de Música Antiga Conde de Oeiras: concerto para 2 cravos, por Marcos Magalhães e João Paulo Janeiro

às 18h30, no Palácio Foz, recital de flauta e piano, por Ana Van Zeller e Saúl Picado

às 20h30, no Palácio Foz, recital de piano A Century in Paris (Chopin, Ravel e Debussy), por Olga Kleiankina – repete dia 13, às 19h00, no Museu da Música (Metropolitano Alto dos Moinhos)

às 22h30, na RTP2, Câmara Clara; tema: Fernão Mendes Pinto; convidados Maria Alzira Seixo e Rui Loureiro

às 23h00, na Mezzo, James Brown no Festival de Montreux 1981, (60’)

Segunda-feira, dia 12

às 21h30, na Casa da Achada (Rua da Achada, nº11), cinema ao ar livre: Aniki-Bobó, de Manoel de Oliveira

às 21h35, na ARTE, Heitor Villa-Lobos, l'âme de Rio (52’)

às 22h00, no Museu do Oriente, Paula Sousa (10€)

Terça-feira, dia 13

às 6h25, na ARTE, a Virgem, o Menino Jesus e Santa Ana, Léonard da Vinci (29’)

às 19h00, na Cinemateca, Há Lodo no Cais

às 19h00, nos jardins do Instituto Alemão, JiGG (Jazz im Goethe-Garten) 2010: Júlio Resende Quarteto

às 19h30, na Mezzo, Carmen, gravada em 2009 na Opéra Comique de Paris (168’)

às 22h00, no Largo de São Carlos, Festival ao Largo 2010: Noite Juvenil, pela Orquestra Sinfónica Juvenil e Jovens Vozes de Lisboa (?)

Quarta-feira, dia 14

às 18h00, na Sala Polivalente do Centro de Arte Moderna, ciclo Cinema e Mente (13x) Mais que a Vida: Shock Corridor, de Samuel Fuller (0€)

às 22h00, no Largo de São Carlos, Festival ao Largo 2010: Noite Donizetti : Traídos & Traidores, por Jovens Intérpretes do Teatro N. de São Carlos (?)

Quinta-feira, dia 15

às 6h25, na ARTE, F. Goya (30’)

às 18h00, na Sala do Arquivo dos Paços do Concelho, palestra Separação da Igreja do Estado, do ciclo A República Mês a Mês, por David Luna de Carvalho

às 19h00, nos jardins do Instituto Alemão, JiGG (Jazz im Goethe-Garten) 2010: Reto Suhner Quartet

às 21h45, na Quinta das Conchas, ao Lumiar, CineConchas 2010, cinema ao ar-livre: Volver, de P. Almodóvar

às 22h00, no Largo de São Carlos, Festival ao Largo 2010: Noite Germana Tânger, com Germana Tânger e João Grosso

às 22h00, nos jardins do Museu Nacional de Arte Antiga, Ciclo Noites do Atlântico: Yemmandala (5€=1 bebida)

às 22h00, na Cafetaria Quadrante do CCB, Jazz às 5ªs: Júlio Resende Quartet

às 22h00, na Alameda D. Afonso Henriques, concerto de encerramento das Festas de Lisboa

o Projecto 5ªs à Noite nos Museus Verão 2010 contempla actividades fora d’ horas na Casa Dr. Anastácio Gonçalves, Palácio de Queluz, Paço dos Duques (Guimarães) e nos Museus Soares dos Reis, Alberto Sampaio, Abade Baçal, Grão Vasco e de Évora (http://www.imc-ip.pt/pt-PT/noite_museus/ContentList.aspx)

A seguir:

de 17 a 31 de Julho, 36º Festival do Estoril/semanas de música do Estoril

de 19 a 25 de Julho, no São Luiz, Concurso Vianna da Motta

Não deixe de consultar a matriz de exposições (ficheiro anexo)

Bom fim-de-semana

JMiguel 8/Jul/2010

MatrizEXPO.xlsMatrizEXPO.xls

7/02/2010

Divagações banais sobre aspectos da natureza humana

Todos nós já certamente reparámos que é em face dos outros que nos definimos. As comparações entre bom e mau, alto e baixo, gordo e magro, inteligente e estúpido, diligente ou calão, habilidoso ou desajeitado, leal ou desleal resultam da nossa observação dos outros. É uma observação muitas vezes apressada e que, tendencialmente, nos é favorável.
Em termos colectivos fazemos o mesmo. Embora "a nossa terra" não seja melhor apenas porque nascemos lá e, objectivamente, possa não ser a mais bonita nem a que apresenta as melhores qualidades, tendemos a defendê-la; além do mais, é politicamente correcto sentir-se orgulho na terra onde se nasceu. Idem relativamente ao país.
Tomemos o caso de Portugal, que fica situado numa ponta da Europa, com o Oceano Atlântico a servir-lhe de fronteira a ocidente e a sul. Contamos apenas com um vizinho territorial: a Espanha. Ora, na mesma base da nossa análise a nível individual, também aqui tendemos a definir-nos exaltando as nossas qualidades face aos espanhóis. Desde a nossa língua aos nossos costumes, constatamos as diferenças. E, mais uma vez, tendemos a ser algo parciais na nossa observação.
De facto, no que diz respeito a Espanha, começamos por não estudar convenientemente a questão. Quantos portugueses estudaram verdadeiramente a História de Espanha, os seus heróis, os costumes e as tradições do povo espanhol? Dado que estamos basicamente interessados em nós, tendemos a ignorá-los. Criamos mitos, que preferimos ao confronto com a realidade. Dos espanhóis dizemos (1) que eles não nos entendem quando falamos ("porque são estúpidos"), (2) que têm que mexer nas coisas com as mãos e os dedos para as apreciarem ("não toques em tudo o que vês, não sejas como os espanhóis!"), (3) que um exército espanhol inteiro fugiu em Aljubarrota diante de uma corajosa padeira armada apenas com a pá do seu forno, (4) que a Espanha é terra de onde não vem nem bom vento, nem bom casamento, e assim por diante. É desta forma que nos vamos definindo, sempre favoravelmente: somos valentes (face aos cobardes), inteligentes (relativamente aos estúpidos), etc.
Não somos diferentes dos outros. Na mesma ordem de ideias, também os ingleses protestantes dizem coisas semelhantes relativamente (1) aos irlandeses católicos, (2) aos holandeses que em tempos antigos foram os seus grandes rivais, e (3) aos espanhóis, católicos, que contra eles lançaram a chamada "Armada Invencível", que acabou rapidamente destroçada. Assim também os franceses ridicularizam os belgas e, sobre os alemães, contam anedotas que os ridicularizam; os austríacos fazem o mesmo perante os germanos, assim como os católicos do ocidente europeu perante os comunistas do leste da Europa. A definição faz-se por contraste, subjectivamente vistos por um lado e pelo outro.
Nota-se aliás em Portugal esse mesmo efeito contrastante: o Norte vê-se como trabalhador e recrimina o Sul por ser gastador; o Alentejo entrou há umas décadas na berlinda por ter sido um bastião comunista num país católico.
Dentro da mesma linha e regressando ao plano individual, encontramos a má-língua. Uma mesa de café à volta da qual uns tantos amigos se reúnem regularmente congrega na generalidade pessoas com características afins e que comungam de ideias não muito dessemelhantes. Uma vez criada a sua identificação, trocam anedotas, piadas e farpas de toda a ordem em que o alvo é o adversário mais declarado e eventualmente o mais perigoso. Com isso, os confrades da távola saem da sua reunião bem dispostos: os ataques verbais ao inimigo serviram para alimentar as esperanças de melhores dias e para exaltar o ego de cada um.
Como é exaltado o ego? Facilmente: quem critica imagina-se sempre superior ao criticado, mais inteligente e sábio do que ele. Na crítica existe geralmente este elemento importante que traz felicidade ao crítico – ele sabe apontar os erros, o criticado não-presente só sabe cometer erros. Embora o crítico possivelmente sofra ou tenha medo de vir a sofrer com os "erros" do criticado, esse sofrimento fica compensado pela crítica mais ou menos feroz que ele faz. E se for secundado por amigos, tanto melhor: fica com testemunhas da sua superioridade.
Quando existe um problema colectivo, na medida em que o grupo tem muitas caras, a solução mais frequentemente encontrada para a crítica é arranjar um bode expiatório. A Santa Wikipédia informa-nos que em tempos antigos o bode expiatório era um animal que era apartado do rebanho e deixado só na natureza selvagem como parte das cerimónias hebraicas do Yom Kippur, o Dia da Expiação. Este rito é descrito no Levítico, capítulo 16. Daqui se passou rapidamente para uma técnica comportamental: se alguém lançar anátemas demonizando um indivíduo (ou um grupo de indivíduos), acusando-o de ser responsável por um problema real ou forjado, a existência desse indivíduo pode evitar que se fale dos verdadeiros responsáveis e assim impedir que o problema seja aprofundado.
Vamos tomar dois casos concretos e muito semelhantes, ocorridos no presente Campeonato do Mundo de Futebol. Tanto a selecção de Portugal como a do Brasil foram eliminadas antes das meias-finais. Acha-se geralmente que seria difícil criticar as equipas no seu todo; e acha-se geralmente que seria injusto. Por outro lado, a dor pela eliminação é grande. Reconhecer o valor das equipas que eliminaram Portugal e o Brasil seria em princípio objectivamente correcto, mas essa é a justiça que não se pretende, porque se a nação estrangeira é superior, nós passamos automaticamente a inferiores. Ora, quem faz a crítica não pretende ir para esse lado, porque ele próprio, englobado na selecção perdedora, ficaria também perdedor. Então, para evitar essa inconveniente objectividade, ele procura um bode expiatório. As soluções são sempre várias, mas as mais comuns andam geralmente à volta das seguintes, que podem ser usadas cumulativamente: 1. O árbitro (que favoreceu claramente a equipa contrária). 2. O treinador (que "desde o princípio eu disse que não era homem para aquilo"). 3. O lateral esquerdo e o avançado-centro (que nunca deveriam sequer ter sido seleccionados, "temos muito melhores do que eles"). 4. O azar ("Se aquela primeira bola tivesse entrado, o jogo teria sido completamente diferente e teríamos com certeza ganho").
É assim a nossa natureza. Ficamos sempre com a nossa honra salva. Não fomos objectivos, mas também porque deveríamos ser? Se nós não somos objectos mas sim sujeitos, não será natural que sejamos subjectivos?

Nota: O texto está algo confuso, mas fiquei sem tempo para o melhorar. As minhas desculpas. Entretanto, até dia 11 estarei fora de jogo relativamente ao blogue. Espero que os restantes bloguistas do A-Z dêem o seu contributo, como noutras ocasiões tem sucedido.