12/28/2004

Do Artur Costa

Bem, se a moda pega! Telefonou-me agora o Artur, que viu o Júlio Neves transcrito no blog, a pedir-me por sua vez que incentive "os jovens a fazerem mais sexo para não terem que praticar tanto desporto!"

Como poderia deixar de corresponder ao seu apelo?

Do Júlio Neves

De Tavarede, entre Coimbra e a Figueira, envia-me por e-mail o meu amigo Júlio Neves três brevíssimos apontamentos, com pedido de inclusão no nosso blog. Como neste período nada se pode negar...

1.O elevado número de acidentes nas novas vias rodoviárias portuguesas mostra uma vez mais que o progresso não se faz apenas à custa da construção de auto-estradas mas sim, prioritariamente, através da formação de uma mentalidade renovada e uma atitude cívica diferente.

2.O Natal está a transformar-se cada vez mais numa época de excessiva generosidade expressa em "afectos" materiais, a compensar um ano inteiro de muita avareza e não menor egoísmo.

3.Muita da luz que os homens e mulheres "iluminados" deste país querem fazer irradiar sobre os outros acaba por cegá-los a eles próprios.

Desejo um bom ano de 2005 ao Júlio e que o seu pessimismo se atenue.

12/27/2004

Pedro é Pedra

A estultícia continua a campear por estas paragens. A vil ignorância que adora crucificar os que estão no poder veio mais uma vez ao de cima. Sondagens relativas às próximas (injustificadas) eleições chegam a dar 81 por cento das intenções de voto aos Sucialistas! (É propositado da minha parte escrever assim o nome daquela súcia.) Esquecem-se que não foi em vão que os pais do Senhor Primeiro-Ministro chamaram "Pedro" ao seu filho. "Pedro" é o masculino de "pedra" e, tal como Cristo terá feito assentar em S. Pedro a sua Igreja -- daí o nome da Basílica do Vaticano --, também neste caso o Doutor Pedro Santana Lopes faz jus ao seu nome. Acossado por figuras de topo portuguesas, à cabeça das quais está naturalmente o Presidente da República, ei-lo que se agiganta e proclama veementemente a sua verdade. A injustiça dá-lhe força. Quanto mais o fustigam, mais ele endurece na sua constituição de pedra. Verão como em 20 de Fevereiro o povo terá finalmente compreendido quem está -- quem sempre esteve -- do seu lado. Nessa altura irão pasmar perante os resultados, muito abaixo dos propalados 81 por cento!

Post scriptum (recuso-me a escrever a abreviatura, que constitui propaganda desnecessária à súcia) - Gostaria de agradecer à Dona Ariadne as suas palavras, mas creio vê-las repassadas de fina ironia, o que me cheira apenas a mais uma hipócrita mensagem de Natal. Permito-me dispensar o apoio de alguém que noutras ocasiões se tem publicamente manifestado contra o Doutor Pedro Santana Lopes. Se está convertida, tanto melhor. Felicito-a. Veremos como se porta daqui em diante!

12/21/2004

Retribuição

Ia eu limitar-me a retribuir ao Peter Pan os seus amáveis votos de Boas Festas com uma simples resposta sob a forma de comentário ao seu post, quando leio o post-scriptum sobre o Sr SKrok. Ora, Peter Pan, que falta de caridade é essa em plena época natalícia?! Abencerragem?! Coitado do senhor, tão correcto, tão fiel aos seus ídolos, tão coerente!Para quê a cartilha de João de Deus se ele escreve tão bem e nem sequer dá erros? Como é possível ver tantos defeitos onde eu só encontro virtude?!

Agora é para si, Senhor SKrok:

Não leve a mal tanta ingratidão junta. Quando o seu amigo ganhar em Fevereiro é que eles vão compreender o que é um verdadeiro líder! E já agora, que lhe ofereço a minha solidariedade natalícia, queria pedir-lhe uma coisinha. Será que o senhor podia falar com o seu amigo Senhor Doutor Santana Lopes (assim, tudo por extenso, para ver que não me poupo a esforços!)a ver se ele me arranja qualquer coisa assim que valha a pena? Não sou muito exigente, pode ser até secretária de estado, ou mesmo directora de um instituto qualquer.O ministério também pode ser o que der jeito. À laia de curriculum, posso adiantar que tive um trisavô cabo da Marinha(pelo que a Defesa me assentaria que nem uma luva), um primo direito que era pintor (na construção civil, mas tirando esta última parte pode ser que dê para a Cultura), e agora tenho um cunhado que é contínuo no Ministério das Finanças (acha que isto chegará ao menos para subsecretária de Estado?)

Enfim, qualquer coisa que os invejosos que vierem a seguir não cobicem, e não me venham depois deixar apeada dizendo que a minha nomeação foi competência exorbitante para um Primeiro em gestão corrente... Tem que ser é rápido, que agora com isto do natal até as publicações em Diário da República andam atrasadas!

Quando falar ao seu amigo e nosso primeiro, já agora pergunte-lhe que doces de natal ele prefere. Não me chame Ariadne se não lhe vou mandar para a ceia duas dúzias de rabanadas, uma caixa de sonhos, e um alguidar de filhoses! E para si também há-de ir qualquer coisinha...

Um santo Natal, Senhor Skrok!
p.s: acha que posso pedir factura destas despesas, que as contas do meu ministério suportam?

Boas Festas!

Desejo em primeiro lugar que o Menino Jesus leve muitos brinquedos ao nosso bombo-da-festa de 2004, Sant'Anna Slotes, para que ele tenha algo com que se entreter todo o tempo, deixando assim em paz os assuntos da Nação, que têm sido brinquedos demasiado perigosos nas suas mãos.
Depois, queria endereçar aos animadores dos comentários ao blog, em especial ao António, à GiraLua e a M. Tulipa -- mas certamente também a todos os outros que nos visitam mais de fugida --, um muito obrigado pela vossa utilíssima e inteligente colaboração, e votos de Boas Festas.
Aos meus amigos bloguistas Ariadne, Capuchinho Vermelho, Sete-Luas e Ana (às duas últimas com um pequeno puxão de orelhas), João Ratão e, last but not least, Sete-Sóis, endereço votos de um Natal que permaneça na parte grata da sua memória. E um BOM ANO em 2005, i.e. doze meses em que os políticos deste país não nos criem muitas ganas de escrever verrinosas catilinárias.

P.S. Ao intruso abencerragem que dá pelo nome de S Krok gostaria que o Pai Natal oferecesse um exemplar da velha Cartilha de João de Deus para que ele pudesse reaprender tudo desde o início.


12/20/2004

Fernando Pessoa e Salazar

Os versos aqui colocados ontem são de Fernando Pessoa. Na maior parte dos livros sobre Pessoa não aparecem, talvez por serem versos menores...

Durante a sua vida, Salazar procurou claramente colar-se a uma figura histórica portuguesa: o Infante D. Henrique. À semelhança da imagem do Infante que historiadores nos legaram, Salazar era austero, solitário, devotado ao engrandecimento da nação, timoneiro de um país que precisava de alguém que lhe desse rumo. Preocupado com o que restava dos sonhados impérios do Infante, Salazar tinha homenageado D. Henrique no grande catecismo de pedra -- o Portugal dos Pequeninos -- que mandara construir em Coimbra, a cidade dos seus estudos universitários. Na grande Exposição do Mundo Português, realizada em Lisboa na mesma altura, aparecia em destaque a figura do Infante. Em 1960, quando a ameaça das grandes potências mundiais sobre o império português se avolumou, o Infante foi esculpido como estátua de proa do Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa (Belém). O monumento foi mandado erigir por Salazar em colaboração com a República da África do Sul -- o grande bastião africano branco de então, juntamente com o nosso país.
Perante este cenário, não deixa de ser ironicamente curioso que o mesmo poeta que celebrou numerosas figuras da história de Portugal nos seus versos, como por exemplo D. João II, no famoso "Mostrengo", e o Infante D: Henrique no "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce", não tenha poupado a personagem Salazar. Escrever

António de Oliveira Salazar
Três nomes em sequência regular...
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está tudo bem.
O que não faz sentido
É o sentido que isto tem.

não é exactamente enaltecer alguém. Ou terá sido porque Fernando Pessoa viveu no tempo real de Salazar, enquanto que as outras figuras por si exaltadas eram já produto de uma mitificada construção histórica?

12/19/2004

De quem são estes versos?

Admito que, ao contrário de alguns milhares de pessoas, desconhecia até há uns dias atrás estes versinhos sobre Salazar. Quem foi o seu autor? Os poemitas não são extraordinários, mas revestem-se de alguma curiosidade.

Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho
Nem sequer sozinho.

Bebe a verdade
E a liberdade,
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.

O meu vizinho
Está na Guiné,
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.

Mas, enfim, é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé:
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.


12/18/2004

O PRINCÍPIO DA AGRADABILIDADE - I

Faça um pequeno teste com alguém que já tenha estudado inglês. Peça-lhe para escrever "agradável" em inglês (sem ser "pleasant"). É natural que a pessoa escreva "agreable" em vez de "agreeable". Issso poderá derivar do facto de essa pessoa saber francês, língua em que se escreve "agréable", ou de achar estranho escrever três vogais seguidas (-eea-). O importante, porém, não é nenhum destes motivos mas sim o facto de a pessoa em questão não associar a noção de agradável ao verbo "to agree" (concordar). Ora esta noção é ultra-relevante, na medida em que nos leva a pensar que são as coisas com que concordamos aquelas que são "agradáveis" para nós.
Imagine um artigo num jornal assinado por uma pessoa com cujas ideias você não concorda. O mais provável é que você não use a mínima energia dos seus olhos a ler uma linha do artigo. Se já sabe de antemão que não vai concordar, para quê dar-se ao trabalho e maçada de ler uma coisa que o vai deixar mal disposto no final?
O director do jornal conhece este facto. Através de estudos do mercado e da análise das vendas do periódico, ele tem consciência daquilo que interessa/agrada ou não aos seus leitores. Portanto tenta construir o seu jornal de acordo com o princípio da agradabilidade ("agrada-nos aquilo com que concordamos"), incluindo também uma dose q.b. de artigos que poderão não agradar ao núcleo principal de leitores mas apanharão franjas que são também mercado, potencial e real.
Tanto a escolha das capas de revistas como a selecção que recai sobre os apresentadores de televisão representam, por assim dizer, uma forma de eugenia, também relacionada com a agradabilidade. Por razões de volume de vendas ou taxas de audiência e tendo por base o princípio acima mencionado, é seleccionado o mais atraente e belo. O contrário poderia ser repelente e afastaria muitos leitores e espectadores. Desta atitude selectiva resulta, porventura inadvertidamente, a exclusão de muitos, que são afinal a esmagadora maioria. Todos os patinhos feios caem nesta maioria. A escolha cada vez mais acentuada de pessoas bonitas ("fotogénicas", dizia-se antigamente, "mediáticas", diz-se hoje) para capas de revista representa uma inegável aposta forte no individualismo no campo do social e, em certa medida, do elitismo: uns são eleitos, os outros são excluídos.
É também em concordância com o princípio da agradabilidade que parte da censura actua nos países em que ela existe institucionalizada: só se mostra o que é agradável -- o que exalta o ego da nação, o que desperta animosidade contra adversários antigos, o que realça as boas qualidades e os valores éticos vigentes. Esconde-se o desagradável e o inoportuno.

12/12/2004

Uma viagem única ao seu alcance!

Habilite-se a um prémio sensacional, enviando para este blogue a resposta única que se ajusta ao conjunto das seis simples perguntas abaixo. Qual é o personagem que

1. Embora adorando a expressão latina "Fiat lux", nomeadamente o seu segundo termo, se aventurou a criar o primeiro túnel do mundo sem luz ao fundo?
2. Nas suas declarações à comunicação social é em tudo idêntico àqueles decretos-lei cujo preâmbulo é inexoravelmente contradito pelo articulado?
3. Sendo sportinguista, fez uma real coligação com o rival Benfica, clube ao qual concedeu generosas benesses?
4. Possui há quatro meses sobre a cómoda do seu quarto uma imagem de São Pelayo virada de cabeça para baixo?
5. Eterno sonhador de casinos, aspira a criar cascatas de moedas a entrarem em ranhuras de slot-machines, para enriquecimento da nação?
6. É amante de música, nomeadamente do Concerto para Violino que Chopin terá composto em expressa homenagem aos "cinco violinos" do Sporting?

De entre todas as respostas correctas será sorteada uma viagem ao Céu, com breves paragens para visitas panorâmicas ao Purgatório e ao Inferno, patrocinada e pessoalmente acompanhada por São Pedro. A viagem de regresso não está de momento ainda garantida.

Xeque-mate?

A presente situação é altamente perigosa para a democracia. Arriscamo-nos a concluir em Fevereiro próximo que estamos melhor sem Governo do que com os políticos do costume.

12/11/2004

Presentes de Natal

Foi inesperado, mas aconteceu. Há cerca de quatro anos, ofereci à minha amiga Isabel Teixeira uma pequena compoteira de vidro que achei interessante como prenda de aniversário. É sempre difícil comprar presentes para os amigos. Flores, todo o mundo leva. Uma écharpe, não se sabe se já têm uma parecida. Um livro, talvez já tenham lido. É claro que oferecer uma compoteira nada tem de original. É mais uma coisinha que se põe em cima de um móvel, de uma mesa. Aquela era suficientemente grande para servir de bonbonnière. Era de vidro verde, com uma tampa em metal branco reluzente. Por seu lado, a tampa tinha ao centro um pequeno pináculo a servir de pega, também em metal, adornado com duas pedras talhadas, verdes, que jogavam bem com a parte de vidro de baixo. Achei a peça interessante e comprei-a.
À primeira vista a Isabel gostou. Ou talvez só assim-assim. Agradeceu com um beijinho. Sugeri-lhe um local onde poderia colocar o seu novo objecto e aventei o uso que lhe poderia dar. Mostrou-se bem mais efusiva. "Fica bem na nossa outra casa", disse-me. "Já sei onde a vou pôr." Mais um beijinho. A festinha passou-se alegre e bem disposta.
Nunca mais me lembrei da peça em questão. Os amigos são para recordar, não os presentes que lhes damos.
Ontem, contudo, alguém me trouxe à memória a verde compoteira, e com grande fidelidade. Quatro anos passados, a nossa comum amiga Anabela -- bem mais familiar comigo do que com a Isabel, aliás -- acaba de me oferecer como prenda simpática para o meu Natal a mesmíssima compoteira que há tempos me atraíu a atenção. Quatro anos depois, a peça poderia estar manchada, ter algum pedacinho de vidro lascado. Nada disso. Está aqui na minha frente absolutamente impecável. Suponho, com fortíssimas probabilidades de acertar, que se terá mantido sempre dentro do seu embrulho original. Toda a história me faz abrir um grande sorriso. As coisas são o que são. Que me resta fazer? Primeiro que tudo, evitar que a Isabel a veja, para não se sentir minimamente embaraçada. Depois, a única solução que encontro para a viajada compoteira verde é guardá-la bem embrulhada, ainda dentro dos papéis originais e da caixinha de cartão que lhe servia e serve de embalagem. Tal como a Isabel, vou levá-la para a minha "outra casa". Ficará à espera que numa primeira oportunidade eu a despache para uma outra pessoa, certificando-me porém que não se trata de alguém conhecido nem da Isabel nem da Anabela. O diabo pode tecê-las. Se qualquer uma delas recebesse a peça de volta, ficaria com os olhos bem abertos, como eu fiquei. Mas com um sorriso de gozo, também.

12/10/2004

POR FALAR EM PRÁTICA DA ESCRITA ...

... 3 histórias rigorosamente verdadeiras:

1. É conhecida a mania que os miúdos têm de «promover» senhoras doutoras a stôras. Todavia conheci um que, vá lá saber-se porquê, preferia e praticava a variante sedutora.

2. Uma professora de Português pediu aos pupilos, num teste, uma análise morfológica do vocábulo mulher. Um deles disparou: artigo indefinido feminino do plural.
Menino precoce...

3. Num teste de Biologia havia uma questão a que era suposto responder espermatozóide.
Um dos pupilos escrevinhou: espera-me tezóide. E a mestra, magnânima, redigiu o seguinte comentário na folha de prova: O tezóide espera-te!

12/08/2004

Aplauso para Ministro

O Ministro do Ambiente, Luís Nobre Guedes, acaba de chumbar a proposta de transferir a tutela tanto da reserva ecológica como da reserva agrícola para as autarquias. Felizmente, o documento elaborado por um conhecido pardalão, também envolvido na lei do arrendamento urbano, não passou. Se agora já há regabofe por parte da esmagadora maioria das câmaras, com a tutela daquelas reservas nacionais o regabofe seria completo. Imperou o bom senso. Aplausos para o ministro!

12/07/2004

A prática da escrita na disciplina de Português

No recente colóquio sobre a língua portuguesa realizado na Gulbenkian, foi salientado por um dos conferencistas que a grande insistência que se faz sobre a leitura na disciplina de Português do ensino básico e secundário não tem, infelizmente, a sua contrapartida com o mesmo peso na componente da escrita. Embora referindo a indubitável importância da leitura, não deixou de realçar a sua função predominantemente passiva quando comparada com a da escrita. Enfatizou o facto de a escrita emancipar e contribuir para formatar o espírito, tornando-se uma capacidade essencial para uma cidadania alerta, crítica e participativa. Sublinhou que quem não sabe escrever bem não pode almejar a ter lugares importantes no futuro. Afirmou ainda que a negligência da componente escrita é tanto mais grave quanto é certo que as passagens de ano se fazem através de pontos escritos nas várias disciplinas.
Na parte reservada ao debate, estranhei que nenhum dos muitos professores de Português presentes na sala tivesse reagido a esta comunicação. Entretanto, no livro intitulado A Literacia em Portugal, que foi generosamente distribuído a todos os participantes pela Fundação, encontrei casualmente na página 247 o seguinte diálogo entre um entrevistador e alunos:

P - Os professores costumam ver o que os alunos escrevem?
R - Só o de Português. E é nos testes...
P - E os professores verificavam se vocês escreviam correctamente ou liam correctamente as palavras? Se percebiam aquilo que estavam a ler?
R - Alguns. Alguns dão importância a isso.
P - Mas a maioria dá ou não dá?
R - A maioria não dá, mas há professores que até assinalam. Quando uma palavra está mal escrita sublinham e tudo. Agora, há outros que dizem que, pronto, que não são professores de Português, dizem "não estamos na disciplina de Português, por isso... isso não me importa."

Parece poder inferir-se daqui, confirmando as palavras do conferencista, que, na realidade, não é incentivado o uso regular da escrita (composições, resumos, comentários, etc.). Será isto verdade? Se sim, dever-se-á este facto sobretudo ao tempo que ao professor inevitavelmente leva corrigir textos escritos? Ou haverá outras causas? Dado que é inegável que mesmo no ensino superior se encontram inúmeros casos de escrita verdadeiramente medíocre, gostaria de ter algumas opiniões sobre o assunto.

12/06/2004

Joões há muitos!

Joões há muitos!
(Por ocasião da conferência «A Língua Portuguesa: Presente e Futuro» a decorrer na Gulbenkian)

No auto-planeamento turístico de Manhattan aquela noite era para o jazz. Estando na área de Times Square fui andando atento à abundante e diversificada oferta até chegar ao Birdland ( 315 West 44th Street, between 8th and 9th Avenues).
Havia uma fila (bom sinal pois nos sítios anteriores não havia, mas francamente menor que as dos locais com música para a «juventude») onde me integrei até ser abordado pela menina que geria a sua evolução.
- Hello!
- Hello!
- Fez marcação?
- Não! É preciso? - esboço de finta de corpo (!) indiciadora de que não vou suplicar para entrar e de que estou pronto a ir-me embora. Já!
- Não. Não deve haver problema. Your name? - smile, size S.
- João - smile, size M, como pretendia passar despercebido omiti o «Ratão».
- Spell it, please - smile, size L.
Lá (ins)escreveu JOAO na lista e passado um bocadinho estava a chegar à porta.
- Welcome Joao! - smile, size XL.
Aí, peço-lhe a esferográfica e ponho um til no A.
- Ah! João - smile, size XXL.
- Sim. Porquê? Que João conhece?
- É o meu músico preferido.
- ??? - meninges a fazerem browses infrutíferos nas referências "João" e "músico" e o olhar a expressar esse vazio de soluções.
- João Gilberto!
- !!!.

Isto é difícil. Nasci português do tempo do «orgulhosamente sós». Agora sou europeu, mas não dessa subespécie «ibérico»... Contudo a comunidade que consegue a melhor agregação é a dos falantes de português, não obstante as ligeiras (espero não terem escapado grandes erros...) traições que este texto contém.


12/05/2004

Entrevista a um GEP (Gestor de Espaços Públicos)

- Sonha-se sempre. Em menino sonhaste ser ...
- Corredor de automóveis. Era o speed, o andar à frente dos outros naquela guita toda! E as máquinas!
- No teu ofício continuas ligado a automóveis ...
- Mas arrumar carros nas ruas não é a mesma coisa que conduzi-los. E há para aí cada bomba!
- Achas que ser arrumador de carros é uma profissão como outra qualquer?
- Não há duas coisas iguais, de modo que não é como outra qualquer. Esta é especial.
- Especial em quê ?
- Sempre detestei trabalhar em escritórios. Quem me tira o ar livre, tira-me tudo. Assim, pelo menos ar livre não me falta!
- Mas tens montes de poluição. Os escapes, vrum mete o carro, vrum tira o carro, acelera. Isto não te complica?
- Esse é o fumo que eu não quero. É por isso que ando sempre de paivante na boca. Já que tenho que engolir, ao menos que engula aquele fumo que me dá prazer.
- Em qualquer actividade, a gente gosta de ser útil. Tu achas que és útil?
- Como não! O desespero de alguém que quer arrumar o carro porque não o pode levar às costas para o sítio onde vai, é uma coisa que a gente nem consegue imaginar. Os cem ou duzentos pauzitos que nos dão compensam o alívio que eles sentem. É um grande bem contra o stress. Vale mais deixar-nos o dinheirinho na mão do que gastá-lo na farmácia em comprimidos.
- Não tens medo da polícia?
- Não estou a fazer nada de mal. Estou só a ajudar, a minha missão é profundamente social.
- Tens estudos?
- Estudei até ao 9º Ano, depois larguei. Ainda gosto de ler. Há clientes muito simpáticos que me deixam o jornal.
- Tu não tens uma profissão legal. Isso não te incomoda?
- Faz o bem e não olhes a quem, esse é o meu lema. Tudo o resto são cantigas. Arrumo os carros dos ricos e dos pobres, faço bem a distribuição dos espaços. Tanto faz ser um velho Fiat 127 como um BMW último modelo. Fossem os governos como eu e tudo estaria melhor!
- Queres dar lições ao Governo, tu que não pagas impostos?
- Não ia passar recibos de cinquenta cêntimos ou de um euro! Se oficialmente não recebo nada, porque é que havia de pagar? Também ninguém desconta para mim. A minha missão social é o meu IRS! E o frio e a chuva, ou então o calor e o sol ?! A gente sofre um bocado aqui. E, aliás, o mercado já não é o que era. Com os parquímetros já há muito desemprego nesta profissão. A gente chega a ter de trabalhar aos fins de semana. São sete dias a fio!
- Mas há tantas ruas em Lisboa e noutras terras!
- Isso é uma ilusão. Para muita gente o carro não é um auto-móvel, é um auto-parado. Arrumam-no ao sábado ou ao domingo e nunca mais lhe tocam. Estão a roubar o espaço para o nosso servicinho. Estou a pensar em vender uns cartõezinhos auto-colantes a garantir que os carros parados estão debaixo da nossa vigilância. E é que a gente vigia-os mesmo! Quem é que vinha roubar um carro nas nossas barbas?
- Vocês ainda são mais importantes do que a polícia!
- E somos! Onde é que já se viu bófia em todos as ruas? Nós às vezes estamos três e quatro na mesma rua. É isso também que faz a crise.
- Posso tirar-te uma fotografia para ilustrar a entrevista?
- À vontade, mas que seja ali ao pé daquele Ferrari. Não estava a mangar quando disse que sempre gostei de carros de corrida. Talvez um dia!
- Talvez um dia. Boa sorte!

12/04/2004

ÍCONE

O mediático homem da televisão e das revistas coloridas acaba de nos prestar um enorme serviço através da sua desastrada governação: tornou-se o ícone dos políticos impreparados para governarem algo tão importante como um país. A partir de agora, ele passou a constituir uma gritante bitola de referência. Esperemos que a lição seja bem aprendida pelos numerosos candidatos ao poleiro.

Injustiça Nacional

Custa-me ver crucificar na praça pública o Doutor Pedro Santana Lopes. Ainda antes de ser empossado Primeiro-Ministro já era alvo das maiores críticas. Contra uma opinião pré-formada é muito difícil governar! Dêem-lhe uma segunda oportunidade, agora expressa pelo voto dos eleitores portugueses, e verão como tudo será diferente! Com tantas pedras que lhe atiraram, algumas acertaram inevitavelmente no alvo e, como seria de esperar, não deixaram de fazer mossa. Impediram que o injustamente atingido fizesse o seu melhor. A clara falta de valores éticos de um grande número de portugueses, a começar por muitos que ocupam lugares na comunicação social, veio infelizmente ao de cima. Precisamos de educar o povo, abrir-lhe os olhos para a verdade! Também Cristo foi alvo de impropérios, cuspidelas e pedradas, e a sua verdade acabou por se impor até aos nossos dias.
Faz pena ver o nosso querido Portugal neste estado!