12/07/2004

A prática da escrita na disciplina de Português

No recente colóquio sobre a língua portuguesa realizado na Gulbenkian, foi salientado por um dos conferencistas que a grande insistência que se faz sobre a leitura na disciplina de Português do ensino básico e secundário não tem, infelizmente, a sua contrapartida com o mesmo peso na componente da escrita. Embora referindo a indubitável importância da leitura, não deixou de realçar a sua função predominantemente passiva quando comparada com a da escrita. Enfatizou o facto de a escrita emancipar e contribuir para formatar o espírito, tornando-se uma capacidade essencial para uma cidadania alerta, crítica e participativa. Sublinhou que quem não sabe escrever bem não pode almejar a ter lugares importantes no futuro. Afirmou ainda que a negligência da componente escrita é tanto mais grave quanto é certo que as passagens de ano se fazem através de pontos escritos nas várias disciplinas.
Na parte reservada ao debate, estranhei que nenhum dos muitos professores de Português presentes na sala tivesse reagido a esta comunicação. Entretanto, no livro intitulado A Literacia em Portugal, que foi generosamente distribuído a todos os participantes pela Fundação, encontrei casualmente na página 247 o seguinte diálogo entre um entrevistador e alunos:

P - Os professores costumam ver o que os alunos escrevem?
R - Só o de Português. E é nos testes...
P - E os professores verificavam se vocês escreviam correctamente ou liam correctamente as palavras? Se percebiam aquilo que estavam a ler?
R - Alguns. Alguns dão importância a isso.
P - Mas a maioria dá ou não dá?
R - A maioria não dá, mas há professores que até assinalam. Quando uma palavra está mal escrita sublinham e tudo. Agora, há outros que dizem que, pronto, que não são professores de Português, dizem "não estamos na disciplina de Português, por isso... isso não me importa."

Parece poder inferir-se daqui, confirmando as palavras do conferencista, que, na realidade, não é incentivado o uso regular da escrita (composições, resumos, comentários, etc.). Será isto verdade? Se sim, dever-se-á este facto sobretudo ao tempo que ao professor inevitavelmente leva corrigir textos escritos? Ou haverá outras causas? Dado que é inegável que mesmo no ensino superior se encontram inúmeros casos de escrita verdadeiramente medíocre, gostaria de ter algumas opiniões sobre o assunto.

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