12/11/2004

Presentes de Natal

Foi inesperado, mas aconteceu. Há cerca de quatro anos, ofereci à minha amiga Isabel Teixeira uma pequena compoteira de vidro que achei interessante como prenda de aniversário. É sempre difícil comprar presentes para os amigos. Flores, todo o mundo leva. Uma écharpe, não se sabe se já têm uma parecida. Um livro, talvez já tenham lido. É claro que oferecer uma compoteira nada tem de original. É mais uma coisinha que se põe em cima de um móvel, de uma mesa. Aquela era suficientemente grande para servir de bonbonnière. Era de vidro verde, com uma tampa em metal branco reluzente. Por seu lado, a tampa tinha ao centro um pequeno pináculo a servir de pega, também em metal, adornado com duas pedras talhadas, verdes, que jogavam bem com a parte de vidro de baixo. Achei a peça interessante e comprei-a.
À primeira vista a Isabel gostou. Ou talvez só assim-assim. Agradeceu com um beijinho. Sugeri-lhe um local onde poderia colocar o seu novo objecto e aventei o uso que lhe poderia dar. Mostrou-se bem mais efusiva. "Fica bem na nossa outra casa", disse-me. "Já sei onde a vou pôr." Mais um beijinho. A festinha passou-se alegre e bem disposta.
Nunca mais me lembrei da peça em questão. Os amigos são para recordar, não os presentes que lhes damos.
Ontem, contudo, alguém me trouxe à memória a verde compoteira, e com grande fidelidade. Quatro anos passados, a nossa comum amiga Anabela -- bem mais familiar comigo do que com a Isabel, aliás -- acaba de me oferecer como prenda simpática para o meu Natal a mesmíssima compoteira que há tempos me atraíu a atenção. Quatro anos depois, a peça poderia estar manchada, ter algum pedacinho de vidro lascado. Nada disso. Está aqui na minha frente absolutamente impecável. Suponho, com fortíssimas probabilidades de acertar, que se terá mantido sempre dentro do seu embrulho original. Toda a história me faz abrir um grande sorriso. As coisas são o que são. Que me resta fazer? Primeiro que tudo, evitar que a Isabel a veja, para não se sentir minimamente embaraçada. Depois, a única solução que encontro para a viajada compoteira verde é guardá-la bem embrulhada, ainda dentro dos papéis originais e da caixinha de cartão que lhe servia e serve de embalagem. Tal como a Isabel, vou levá-la para a minha "outra casa". Ficará à espera que numa primeira oportunidade eu a despache para uma outra pessoa, certificando-me porém que não se trata de alguém conhecido nem da Isabel nem da Anabela. O diabo pode tecê-las. Se qualquer uma delas recebesse a peça de volta, ficaria com os olhos bem abertos, como eu fiquei. Mas com um sorriso de gozo, também.

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