3/11/2005

Efeitos da mini-globalização da União Europeia

A história está a ficar preta para alguns estados da União Europeia. De Portugal já aqui temos falado. Valerá agora a pena abordar um pouco a situação na Alemanha, na medida em que é não só o país mais populoso da União como também aquele que tem sido a sua locomotiva económica mais significativa. Neste momento, vemos a Alemanha a debater-se com problemas sérios no que respeita ao cumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), o tal que define parâmetros económicos e financeiros. Aquando da criação do euro, a Alemanha exigiu grande rigor nas contas para que a nova moeda não tivesse uma imagem inferior à da sua moeda nacional de então: o marco. Contudo, presentemente, é a Alemanha que está insistentemente a pedir aos seus parceiros da União que incluam na sua computação o esforço da unificação das duas Alemanhas. Sendo certo que esse esforço foi grande e se estenderá por mais algum tempo, a unificação deu-se há uns quinze anos, pelo que parecerá algo extemporâneo admiti-la agora como factor desequilibrante. Foi assim também que os outros Estados o entenderam e, portanto, não houve até ao momento uma reunião conclusiva sobre a reforma do PEC.
Mas quais são, entre outros, os problemas da Alemanha? De uns já aqui falámos há meses: a deslocalização de empresas germânicas para países como a Hungria, a República Checa e a China abalou bastante as finanças do Estado alemão. Aumentou a despesa -- com os subsídios de desemprego e as reformas -- e diminuiu a receita. Com uma população relativamente envelhecida -- à semelhança de outros países europeus, incluindo Portugal -- a Alemanha precisa de sangue novo. Dado que mais crianças não é coisa que se arranje de um momento para o outro, a injecção das contribuições de trabalhadores provindos dos países do recente alargamento a leste é bem vinda financeiramente. Ou seria. Só que a flagrante desproporção -- da ordem dos três para um -- entre os salários que os trabalhadores de países como a Polónia ou a República Checa estão dispostos a aceitar e os praticados na Alemanha favorece as empresas mas leva a despedimentos de nacionais, o que por sua vez conduz a subsídios de desemprego. Hoje em dia, o número de alemães sem emprego atinge a cifra impressionante de cinco milhões e duzentos mil, o que corresponde a quase treze por cento da população activa! São números que não se viam desde a grande depressão dos anos 30, que acabou por conduzir Hitler ao poder. Sabe-se que os fundamentos da União Europeia foram, em muitos aspectos, decalcados da própria unificação alemã do século XIX. A criação de uma moeda única e a abolição de fronteiras foram dois dos elementos primordiais. A Alemanha acabou por dar certo como país (fora os infelizes contextos históricos). A União Europeia, até na medida em que ela própria constitui uma mini-globalização dentro da globalização­-mãe, está a ter um parto bem mais difícil.

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