12/31/2003

GRATEFUL UNDER PRESSURE

Votos de saúde e CORAGEM - «grace under pressure» segundo Hemingway - num 2004 que tantas privações (e condenações...) promete!
Grata ao Peter Pan pelas simpáticas palavras de estímulo, decerto induzidas pela aura generosa de alguma fada Sininho...

12/27/2003

PortugalSA (2)

Foi o biógrafo contratado para o lançar na campanha presidencial que mo revelou: aquela mania dos casinos que ele tem não é de agora. Já lhe vem desde a infância. Um dia, quando fez cinco anos, uma bem intencionada tia ofereceu-lhe um porquinho-mealheiro. “Para as tuas economias. Dinheiro a dinheiro enche o porco o celeiro!” O sobrinho entendeu a mensagem mais do que bem. Rapidamente pensou: “Se eu tiver também um porquinho destes tanto em casa da minha tia como dos meus outros tios, então sim, a coisa vale a pena!” E passou do pensamento à acção. Os pais acharam graça à ideia, a titi adorou a sugestão do sobrinhito e lá lhe compraram mais uns tantos porquinhos que se iam enchendo nas casas de familiares à medida que uma moeda hoje, outra amanhã, por vezes uma nota, iam sendo introduzidas na ranhura.

Já crescido e sem idade para ter mealheiros em forma de porquinhos, licenciado em Direito e político consagrado, alargou naturalmente as suas ambições e candidatou-se à presidência da Câmara de uma estância de veraneio possuidora de um casino bastante popular. Teve, logicamente, sucesso. A queda vinha-lhe da infância. Anos depois, sonhou mais alto e, de novo com a ideia do casino em mente, candidatou-se à capital, cidade onde coincidentemente o capital mais abunda. E ganhou. Apoiando-se em personalidades mediáticas, prometeu mundos e fundos. Das suas promessas destacava-se a construção de um casino. Gerou-se alguma polémica. Calou as pessoas através da contratação de um arquitecto estrangeiro de renome. O preço pedido calou-o a ele. Foi aí que lhe ocorreu que, melhor do que o conceito de “casino-na cidade” seria o de “cidade-casino”. Se uma parte significativa da população, ao jeito do jogo do monopólio e das slot-machines, tivesse que deitar uma moeda para parcar em qualquer rua ou passar em zonas históricas da cidade, o tlim-tlim das moedas seria muito mais contínuo e rentável do que os velhos porquinhos das abençoadas tias.

“Moeda-no-slot é algo que me dá sorte” transformou-se na sua inconfessada divisa. Sempre para engrandecimento da cidade, claro. E é assim que vamos ter a revisão do sistema de parqueamento nas ruas, que “está longe de atingir os proveitos possíveis”. Vamos ver aumentadas as taxas nos locais mais críticos. E, como ele diz, “para descongestionar a zona vamos fazer com que toda e qualquer latinha que passe pela Baixa lisboeta tilinte.”

Não é impunemente que se obtém o nome de Sant’Anna Slotes.

12/23/2003

Bom Natal!

Porque no Natal reavivamos recordações da infância, aqui deixo os meus desejos de que todos tenham um bom natal, partilhando convosco esta Carta ao Menino Jesus, e esperando, do fundo do coração, que o 2004 seja, como pede o autor do poema, um ano de mais compaixão e bom-senso para todos os Homens, e sobretudo para os quem têm responsabilidades na marcha deste conflituoso mundo.



Meu Querido Menino Jesus:

Creio não me levarás a mal
se durante todo o ano eu Te esqueço
e só escrevo p’lo Natal
para Te pedir umas prendas
que se calhar não mereço.
Mas não quero que Te ofendas.

Hoje, Jesus, tenho a pedir-Te muito mais
do que fazia noutros remotos natais.
Ainda que possa parecer futilidade,
peço-Te que dês muito bom-senso
e um pouco de compaixão também
a esta desvairada humanidade.

Se foste Tu mesmo quem,
num supremo acto de amor,
sofreu ignominiosa paixão
para seres o nosso redentor,
será assim tão difícil, então,
fazeres o que Te peço, Senhor?!


BOM NATAL!

12/21/2003

Mensagens natalícias em jeito de balanço

À Ariadne, votos de Natal feliz! Aprecio a erudição, ponderação e sensibilidade que ressaltam dos seus escritos. O seu gosto pelo mundo antigo, pela história e o seu espírito crítico de alerta para com o presente vão decerto merecer-lhe atenção nos seus novos contributos em 2004.

O João Ratão é o grande esteio do blog, com sugestões semanais que o Sete-Sóis tem vindo a melhorar substancialmente do ponto de vista gráfico. A sua ratice leva-o a comentários curtos e incisivos. Boas Festas e um 2004 verdadeiramente electrizante!

Ao Capuchinho cabe a escrita mais irreverente e impetuosa. Gosto. A sua alusão a Wittgenstein fez-me finalmente ler algo do filósofo, de quem tinha apenas numerosas referências. A viagem wittgensteiniana ao interior da mente, com as suas noções de linguagem expressiva e descritiva, ajudou-me a teorizar melhor o desassossego de Pessoa (o “Fernando Pessoas”, na imagem feliz de Saramago), o expressionismo na pintura, e, inter alia, o “Eu não sou eu/nem sou o outro/Sou qualquer coisa de intermédio/Pilar da ponte de tédio/que vai de mim para o outro”, do Mário de Sá-Carneiro, retomado pelo O’Neill. Muitos presentes no seu Natal, Capuchinho.

Ao Sete-Sóis, alma generosa a quem me liga uma amizade especial, um viva pelas suas contribuições linguísticas e um agradecimento pela disponibilização dos seus conhecimentos informáticos a todos nós, utilizadores do blog. Para o Sete-Sóis e a Sete-Luas um Natal muito feliz, com a sua bela Carolina.

Para o velho camarada Rui um abração, na esperança de que os muitos afazeres diários ainda lhe dêem para arquitectar os textos acutilantes que tão bem sabe escrever.

O blog está de boa saúde, a rampa de lançamento funcionou, a viagem continua. Um óptimo 2004 para todos!

12/18/2003

SUGESTÔES: Matriz de Acontecimentos (18 Dez.)


Download do ficheiro das Sugestôes (18 Dez.)

12/12/2003

PortugalSA (1)

Até que enfim chegaram algumas boas notícias a este recatado cantinho ibérico! Até que enfim que a esperança reina em muitos lares!. Não haverá certezas ainda, mas a esperança começa a aquecer-nos a alma. Todos os que sempre acreditaram e mantêm a sua fé no Durinho Aldraboso adoram ler as suas proféticas congeminações sobre o futuro radioso que a todos aguarda, aquele sol resplendente que tanto teimou em se esconder atrás de nuvens escuras. Em 2010 teremos tudo. Em 2015 muito mais. Utilizando uma técnica testada desde os áureos tempos do apostolado do cristianismo, promete-se o futuro, embora se saiba de antemão que as promessas de hoje são os impostos de amanhã. Temos boas razões para sossegar. O Ministro dos Negócios Estranhos cedeu o lugar a uma colega mais simpática e menos conspícua. O da Educação dita superior seguiu-o em solidariedade perfeita: de cabeça erguida e sem qualquer pecado na consciência. Terá sido para ambos apenas um acidente de percurso. Uma caçada mal sucedida causada por uma Diana que de deusa nada tem.

Há, como seria de esperar, algo que se mantém ainda mal, mas que não é de correcção difícil: as estatísticas. Como sabemos, elas são como o biquini --. revelam o acessório e escondem o essencial. Continuam a não ajudar. Contudo, politicamente as estatísticas existem para ajudar pessoas como o Durinho Aldraboso, portanto não há nada que enganar. Mudada já que foi a direcção do Instituto Nacional, os resultados começarão dentro em breve a surgir. Que é isso de nos compararem só com os países que estão acima de nós? Essa é uma visão masoquista e mesmo suicida. Basta que nos comparemos com o passado de há quarenta ou cinquenta anos para que o nosso ânimo se levante de novo. É que as melhorias são evidentes em toda a linha: há mais estradas, mais veículos, mais estudantes, mais pessoas com casa própria, mais lojas com tudo o que de bom existe para comprar, mais televisão com canais privados, mais revistas de encher o olho, mais pessoas a gozarem férias. É mesmo masoquista a atitude de se querer mais, sempre mais. O problema reside na atitude. Revejamos o nosso passado e constatemos a flagrante melhoria. É verdade que temos cerca de meio milhão de desempregados, mas isso é questão que se resolve também com uma grande alegria para todos: basta oferecer um bilhete grátis para um desafio de futebol em cada um dos dez estádios recentemente construídos. Imagine-se o privilégio: enchiam-se os novos estádios só com desempregados, felizes a baterem palmas e a vibrarem com as peripécias dos jogos. Inesquecível!

Mantêm-se alguns escândalos na sociedade, é verdade, mas na Judiciária já não temos a Morgadinha dos Tribunais que tanto nos complicava a vida. Agora escreve livros e possui uma prateleira dourada onde pouco pode incomodar aqueles que precisam de calma e sossego para tomar as rédeas do país. E não é um país qualquer. É um país que está a transformar-se gradualmente, desde os cuidados de saúde hospitalar até à gestão de múltiplos empreendimentos em parceria entre privados e Estado, numa imensa sociedade anónima. Daí o seu novo nome “PortugalSA”, algo camuflado pois, como se sabe, os portugueses são o povo mais desconfiado da Europa.

Em breve teremos mais notícias de PortugalSA.

DOIS ELEFANTES INCOMODAM MUITO MAIS!

Quem terá sido o copperfieldezinho que «deletou» o meu inofensivo elefante? O lobo mau não foi certamente, que o lobo não bate assim! Quiçá algum caçador subitamente interessado no «marfim» da minha pele...
Seja como for, aqui deixo uma 2ª edição - «ne varietur», espero - do espaçoso animal.


UM ELEFANTE INCOMODA MUITA GENTE

Fui ver «Elephant». Fiquei surpreendida com a superlativa coerência estética da leitura que fornece sobre o caso Columbine - totalmente expurgada de filtros sociológicos (aliás legítimos, quase imperativamente previsíveis). Neste sentido, está-se nos antípodas da militância exacerbada de «Bowling for Columbine». Se bem entendi, o título do filme é uma espécie de metáfora da ENORMIDADE do acontecimento recriado, sendo a sua narrativa uma planificação por assim dizer «cubista» do somatório das múltiplas e convergentes perspectivas dos participantes. Estes, quando nos «emprestam» o seu ângulo de visão, caminham para o vórtice fatal de costas voltadas para a câmara - um expediente cénico que, facultando embora o périplo do massacre, elide por completo o seu sentido, cega o espectador. Por outras palavras, o ponto de vista ALHEIO, ao virar-me as costas para me guiar, torna-se MEU e paradoxal: «colada» às costas dos adolescentes de Columbine, caminho na total IGNORÂNCIA do que me/lhes VAI ACONTECER... apesar de já saber que ACONTECEU. Note-se que a sensação que isto produz nada tem a ver com o vulgar «suspense», pois este, «colando» embora o espectador às vicissitudes do actor, alimenta-se da tensão entre a omnisciência do primeiro e a ignorância do segundo. Neste filme, pelo contrário, a identificação forjada é de tal modo radical que o único conhecimento que me guia é um pressentimento, o único medo que me assalta não passa de difusa inquietação.
Há ainda a registar uma Bagatela de Beethoven tocada ao piano «para Elisa» por um dos assassinos... A propósito: dois dos meus alunos são pianistas - devo talvez pedir ao lobo mau a gentileza de me vir guardar as costas (e o ponto de vista).

12/09/2003

Continuando na onda dos textos do Fanha e do Peter Pan, sobre a língua portuguesa …

… Também eu , apesar de tentar defender esta nossa língua mátria o melhor que sei e posso, entendo que a língua não pode ser estática, e há novos termos, portugueses ou não, que têm forçosamente que conquistar espaço dentro dela. Até aí, nada a obstar.

Embora entenda a existência de razões como impacte comercial, interesse político, necessidade de “embrulhar em pano novo” ideias velhas, etc, não posso deixar de me surpreender que certas palavras, pura e simplesmente, deixem de ser utilizadas. Por exemplo, faz-me imensa confusão que uma estrada seja, modernamente, uma “acessibilidade” em vez de ser um “acesso”. Não estou contra a palavra “acessibilidade”, que no meu léxico tem razão de existir, embora com um outro significado. Mas já não há lugar a acessos, só a acessibilidades, no espaço português?! Alguém que me explique, se o souber.

Outra coisa que não entendo é que também já se não contrata em português: contratualiza-se. Já ouvi um linguista defender que “contratualizar” poderá ser mais abrangente, poderá significar não só o acto de contratar, como todo processo que a ele conduz. Compreendo e aceito. Mas que no politiquês só se contratualize e nunca se contrate, que se construam tantas acessibilidades e nenhuns acessos, confesso que me faz muita confusão.

Para não falar em determinadas aplicações informáticas em pseudo-português (com capa de português do Brasil) que, de tão escandalosamente más, são verdadeiros atentados à nossa língua, não só pelo seu conteúdo, mas por constituírem ferramenta diária de trabalho para muita gente.

E a propósito de neologismos e de português do Brasil (que muitas vezes é doce e divertido), não resisto a transcrever um poema contido num artigo de Luís Fernando Veríssimo num dos últimos Expresso:

Amor na Internet
Meu nome não é
Romeu
e a foto que eu
escaniei não sou eu
- mas tudo o mais
é verdade!
(Fora, está certo, a idade).
Meu signo
é mesmo
Escorpião
e é sincera
minha paixão.
e como é que eu sei
que seu nome é Daisy May
e a foto nua
é mesmo sua?
Só o que importa
é nos amarmos
e talvez
nos encontrarmos.
Mas nesta incerteza
eu não vivo.
Download-me ou
delete-me,
não quero ser
apenas mais uma
pasta esquecida
no seu arquivo.

(da série “Poesia numa hora dessas?”)

12/04/2003

SUGESTÔES: Matriz de Acontecimentos (4 Dez.)



Basílica dos Mártires - Coro Santa M. De Belém - 21.30 - 5 Dez
Igreja São Nicolau - Sinfonietta de Lisboa - 21.30 - 6 Dez
Maxime - Irmãos Catita - 3.00 - 6 Dez
Igreja S.Tomás Aquino - Sinfonia Bomtempo - 17.00 - 7 Dez
Igreja da Pena - Ciclo Concertos de Natal - 18.00 - 7 Dez
Sé Patriarcal - Orquestra Sinfónica da Galiza - 20.00 - 7 Dez
Igreja São Nicolau - Coro da Imaculada - 15.30 - 8 Dez
Basílica dos Mártires - Orfão de Águeda - 16.00 - 8 Dez
Igreja S.Jorge Arroios - Coro Lisboa Cantat - 16.00 - 8 Dez
Igreja Conceição Velha - Corelis - 16.30 - 8 Dez
Igreja de Stª Luzia - Ciclo Concertos de Natal - 18.00 - 8 Dez
Igreja Santos Velho - Ciclo Concertos de Natal - 21.30 -10 Dez
CCB - Porgy and Bess - 10 a 21 Dez
Casino Estoril - Lena D'Água - 23.30 - 11 Dez
Igreja da Graça - Sinfonia Bomtempo - 21.30 - 12 Dez|
Basílica dos Mártires - Coro da Rádio Renascença - 15.00 - 13 Dez
Igreja São Domingos - Orquestra Filarmónica das Beiras - 21.30 - 13 Dez
Igreja de Marvila - Coro Regina Coelli - 16.00 - 14 Dez
Basílica dos Mártires - Chorus Echo - 16.00 - 14 Dez
Igreja da Madalena - Coro da Universidade Técnica - 16.30 - 14 Dez
Igreja Stº Estevão - Ciclo Concertos de Natal - 18.00 - 14 Dez
CCB - O melhor de Marcel Marceau - 27 Dez


Está anunciada uma agradável avalanche de Concertos de Natal nas Igrejas de Lisboa que não cabem na matriz anterior. Assim, optei por só referenciar os previstos para um horizonte de dez dias e, para equilibrar, incluir outros menos «religiosos».

Aviso: Amanhã e depois (dias 5 e 6) STOCKMARKET (feira de "liquidação" de stocks) na Cordoaria.
O Palácio Nacional da Pena promove, de 14 de Dezembro a 18 de Janeiro, visitas guiadas, com inscrição prévia pelo 219105340, com o título: A Viagem Iniciática da Pena, Uma Leitura Diferente do Palácio e do Parque.
A RTP2 transmite no «Por outro lado» (sábado 21.00) uma entrevista da Ana Sousa Dias a Tiago Rodrigues.

Download do ficheiro das exposições (4 Dez.)

12/03/2003

Eufemismos e estrangeirismos

O termo “eufemismo” sempre se empregou no sentido de palavra ou expressão simpática e educada que usamos quando nos referimos a algo que outras pessoas possam considerar desagradável ou constrangedor. Esta definição é um pouco redutora, porém. Ao pudor de designarmos roupas ou temas relacionados com determinadas partes do corpo, a uma certa vergonha da revelação de lucro que pode significar exploração de pessoas e alguma desonestidade, junta-se, mais acentuadamente nos últimos tempos, a necessidade de prover uma imagem de novidade ou de algo que acentue a diferença relativamente a outrem. Para expressar estas noções, que já são apanágio de uma sociedade mais aberta mas longe de ser transparente, recorre-se facilmente a palavras não nacionais, o que se costuma apodar de estrangeirismos. Com a sociedade global que os meios de comunicação social tanto apregoam, existe a preocupação de diluir o conceito de nação em espaços mais amplos, permitindo que a introdução de novos vocábulos provenientes de línguas dominantes passe a ser considerada natural e lógica. É nessa linha que procurarei fornecer exemplos provando que alguns estrangeirismos mais não são do que palavras englobáveis na categoria de eufemismos modernos..

Creio que muitas pessoas que fizeram os seus estudos secundários ouviram narrar o seu primeiro exemplo de eufemismo através da história dos nossos navegadores pioneiros que, estonteados pela fúria das águas na confluência Atlântico-Índico na ponta meridional de África, baptizaram primeiro o local de “Cabo das Tormentas” para, mais tarde, reconhecendo que ele lhes abria o caminho marítimo para a desejada Índia, o rebaptizarem de “Cabo da Boa Esperança”, nome que se manteve até aos dias de hoje. Das Tormentas à Esperança vai um caminho tão longo como o que separa a dor do prazer; não foi pelo facto de o cabo ser crismado de forma diferente que as águas alterosas se amansaram, mas pensar em termos de esperança é muito mais consolador do que encher o espírito de imagens de tempestades e momentos difíceis. O eufemismo serve para casos como este: não muda a substância, adoça a forma.

Hoje em dia, com a tentativa de homogeneização mundial e a concomitante superficialidade das coisas que são niveladas umas pelas outras, a forma ganha muito mais importância em numerosos casos do que o sentido que ela encerra. Da mesma maneira que, no domínio do marketing, se arranjam novos nomes para designar produtos sem substancial alteração relativamente a outros anteriores, a necessidade de “desinstalar” que a sociedade moderna baseada no capital possui leva a que palavras consagradas sejam desinstaladas para serem substituídas por outras significando o mesmo mas soando quiçá de forma mais agradável ao ouvido. Por seu lado, os políticos tendem igualmente a servir-se de conceitos alegadamente novos para, afinal, realizarem apenas coisas que já levaram outros a dizer que “nada há de novo debaixo do sol”.

Quando Benjamin Franklin diz, numa carta a um amigo, “a morte e os impostos são as únicas certezas que podemos ter neste mundo”, ele está precisamente a usar palavras incómodas – infelizmente inevitáveis – que são por esse motivo objecto de numerosos eufemismos. Deixando a morte de lado para olharmos apenas para os impostos, constatamos que os governantes preferem usar eufemismos à palavra exacta. Assim, o termo “contribuições” – de cunho positivo – substitui frequentemente os odiados “impostos”. A “contribuição autárquica” é um dos vários exemplos que possuímos, dando a ideia de que estamos a contribuir de livre vontade. Existe, porém, uma forma mais moderna de evitar o desagradável impacto da palavra “imposto”: o uso de abreviaturas. Assim se passou a dizer, mais alegre e despreocupadamente, IRS, IRC, IVA, IA e coisas quejandas. É o marketing linguístico a funcionar.

Há décadas que alguns americanos começaram a notar que a comunidade hispânica estava a expandir-se excessivamente na costa ocidental dos Estados Unidos. A maior cidade da zona, Los Angeles, possuía não só um nome hispânico como estava inundada de mexicanos, porto-riquenhos e outros latino-americanos. A solução encontrada para algo que, do ponto de vista da dominante sociedade “WASP” (White Anglo-Saxon Protestant), começava a ser desconfortável foi designar a cidade apenas pelas suas iniciais, lidas à maneira anglófona: L.A. (Presentemente pensa-se mesmo em dividir a grande metrópole em duas cidades distintas, o que só confirma o objectivo da criação eufemística.)

Em roupas relacionadas com partes mais íntimas do corpo, os eufemismos, que são ocasionalmente estrangeirismos como acima se refere, substituem frequentemente as palavras mais tradicionais. “Roupa interior feminina” há muito que tem um sinónimo mais delicado em lingerie. Há todo uma conotação de moda francesa na palavra que a expressão portuguesa não contém; pragmaticamente, isso ajuda as vendas. Desde há muitos anos que a peça de vestuário usada para conter seios femininos se chama “soutien”, num encurtamento português de “soutien-gorge”. Quem imaginaria usar palavras como “colete de seios”, “pára-seios”, ou algo do género? Estou crente de que a Igreja viu com bom olhos a introdução de soutien, apesar de ser palavra estrangeira. Para homens, repare-se na crueza do vocábulo “cuecas”, a que as duas letras iniciais dão um toque de ingenuidade camponesa de que o marketing citadino não se compadece. “Cueiros” para crianças ainda escapa, mas é evidente que “cuecas” se tornou palavra demasiado saloia, pelo que foi substituída de forma p.c. (politicamente correcta) por slips ou por boxers. Dever-se-á classificar estas palavras como estrangeirismos ou apenas como exemplos pragmáticos de bom-gosto e bom-tom, a que se associa uma correcta técnica de vendas? Os collants femininos entram no mesmo grupo, tal como os tops e os bodies.

Pessoalmente, não creio que a entrada e adaptação ao português de novos vocábulos de origem estrangeira seja grave. Constituindo o país uma sociedade aberta, seria de estranhar até que esses vocábulos se quedassem pela porta e não a franqueassem. Por outro lado, numa sociedade que tende mais a homogeneizar-se do que a diferenciar-se, considero perfeitamente natural que o ser humano goste de se sentir um pouco diferente para não ficar esmagado pela multidão constituída por todos os outros. Este será um dos motivos que leva a juventude e alguns grupos tecnocratas a usarem uma linguagem própria, avançada e diferenciante. Pelo seu lado, os jornalistas da imprensa, rádio e televisão, como veiculadores de muitas das novas tendências, usam profusamente novos vocábulos para criarem inovação e efeito de choque. Na mesma linha estão os publicitários, que têm de ser suficientemente criativos para por vezes embrulhar apenas coisas velhas em novos panos.

No mundo empresarial, as firmas querem naturalmente aparecer na linha de vanguarda, pelo que é frequente que funções antigas e actividades novas sejam deixadas com nomes estrangeiros para lhes dar cunho de novidade ou apenas por uma questão de conveniência; há casos em que é melhor manter um certo secretismo, que a palavra estrangeira transmite melhor. É assim que “insider trading”, actividade ilegal de compra ou venda de títulos por acesso privilegiado a informação, se mantém em inglês; “spread” – basicamente a diferença entre a taxa de juro passiva e a activa, o lucro do banco nos empréstimos – idem; os “lobbies” continuam a ser preferidos aos “grupos de pressão”, que são demasiado explícitos. Como estes há dezenas de termos que os técnicos preferem não traduzir por razões de conveniência. (Esta questão lembra-me a controvérsia que se gerou no seio do Vaticano quando o serviço religioso perdeu muito da sua áurea de mistério ao passar do latim para a língua dos diversos países.)

A necessidade de pôr o dinheiro a circular para adquirir coisas novas faz com que tudo o que é velho perca interesse. E os velhos mesmos, os indivíduos? Bem, muitos deles são os que conseguiram acumular dinheiro ao longo das suas vidas. E continuam activos como votantes. Não podem, portanto, ser maltratados. Para começar, não existem como “velhos”. Há idosos, sexagenários, septuagenários, etc., mas não “velhos”. Formam a terceira idade ou, mais ao jeito do marketing, são os portadores de cartões sénior. A adaptação do “senior” anglo-americano foi muito fácil, pois confere um ar de respeitabilidade e baseia-se em étimo latino. Surgiram já há anos as “contas sénior”, o “turismo sénior” e outras senioridades convenientes.

Não foram só os velhos, como menos protegidos de uma maneira geral, que foram abrangidos por novos termos. Os cegos desapareceram para dar lugar aos “invisuais”. Os “aleijados” passaram a “deficientes físicos”. Dentro da mesma linha, os países pobres foram agrupados no “3º Mundo” ou no grupo dos “países em vias de desenvolvimento” (os americanos chamam-lhes “LDCs”, less developed countries). Um grupo frequentemente muito atacado era o dos maricas, que aliás recebia nomes mais populares como se vê na clássica definição de Braga, “a cidade dos três p’s: padres, putas e paneleiros”. Hoje não há disso. O termo “homossexual” é vulgar, mas o pudor maior surge através do uso de “gay”. A referência à “comunidade gay” transformou-se em lugar comum. Um “bar gay” ou uma agência de viagens especializadas em “turismo gay”, também.

Os políticos são peritos em mudar os nomes às coisas, introduzindo-lhes apenas um pequeno retoque de novidade, quantas vezes para pior. Mas têm que fazer isso, tal como qualquer Presidente que se preze tem de mudar pelo menos a cor das alcatifas do palácio que vai habitar. A juntar a muitos outros que seria ocioso mencionar aqui, citem-se dois dos exemplos mais célebres em Portugal: primeiro, as colónias portuguesas que atacadas em meados do século passado com uma chuva de impropérios invejosos de nações estrangeiras, passaram de um golpe a “províncias ultramarinas” (praticamente só se manteve com o mesmo nome a “Companhia Industrial de Portugal e Colónias”); segundo, o Ministério da Guerra, que na mesma altura para não parecer tão bélico passou a denominar-se “Ministério da Defesa” (anacronicamente, todos os veículos do Ministério mantiveram a sua matrícula MG, pois como abreviatura passava mais despercebida.)

Aqueles que consideram excessiva a introdução de palavras inglesas do glossário informático no nosso vocabulário – “software” “clicar”, “printar”, etc. – lembrar-se-ão que quando o futebol foi introduzido em Portugal aí há uns cem anos a maior parte dos termos também eram em inglês, porque o futebol era coisa nova tal como os computadores estão a ser hoje em dia. Alguns desses termos futebolísticos sobreviveram mas na sua maioria foram engolidos por palavras nacionais com o decorrer dos anos. Os “corners” de antigamente são hoje os “cantos”; os “penalties” ainda se mantêm mas com tendência crescente a passarem a “grandes penalidades”, os “backs” antigos desapareceram, “back centro” é coisa que já ninguém diz, “keeper” (como abreviatura de goalkeeper) tem a sua substituição por “guarda-redes” mais do que consolidada, os “offsides” deram lugar aos “foras de jogo”, etc. Com os termos do domínio da informática que para aí andam vai suceder o mesmo, mais tarde ou mais cedo.

Vocábulos mais obscuros e difíceis de erradicar serão termos como “offshore” ; esses só dificilmente mudarão de nome no mundo dos investimentos a não ser para receberem uma designação igualmente misteriosa mas imbuída de um carácter mais celestial: “paraísos fiscais.”

E por estes paraísos me fico. Deixo o resto para os meus colegas bloguistas completarem ou comentarem.

P. S. O que deve incomodar os defensores e cultivadores da língua portuguesa são, quero crer, outras coisas bem mais importantes, como a existência de um número excessivamente elevado de analfabetos neste país, o uso frequentemente inapropriado de termos e os múltiplos erros de concordância gramatical. Acima de tudo, deveria incomodar-nos que estes últimos possam ter por autores muitos estudantes universitários. Como a sociedade se rege pelo princípio da cascata, de cima para baixo, esse é um exemplo pernicioso.

Entretanto, “cliquemos” à vontade no rato do computador, deliciemo-nos na leitura de um “email” enviado por um amigo, recostemo-nos num confortável “maple”, leiamos um bom livro à luz quente de um “abat-jour”, “zapemos” para um programa de televisão melhor se for caso disso, riamo-nos perante mais um “flop” de um político, e mandemos todo o resto às urtigas.

11/27/2003

SUGESTÔES: Matriz de Acontecimentos (27 Nov.)



Igreja dos Paulistas
Ciclo Concertos de Natal - 18.30
1 Dez
CCB
Jacinta
2 Dez
Igreja da Madalena
Ciclo Concertos de Natal - 21.30
3 Dez
Igreja da Pena
Ciclo Concertos de Natal - 18.00
7 Dez
Igreja de Stª Luzia
Ciclo Concertos de Natal - 18.00
8 Dez
Igreja Santos Velho
Ciclo Concertos de Natal - 21.30
10 Dez
CCB
Porgy and Bess
10 a 21 Dez
Igreja Stº Estevão
Ciclo Concertos de Natal - 18.00
14 Dez
CCB
O melhor de Marcel Marceau
27 Dez

Se continuar assim, ainda perco o alvará! Como estou
indisponível nas noites de terça-feira, nem considerei o concerto
da Jacinta acima indicado e por arrastamento não o comentei...Reafirmo
anteriores indicações de grande admiração pela sua
voz e reportório pelo que, talvez tardiamente (ainda haverá bilhetes?),
recomendo este concerto.

Nos dias 28 e 29, às 19horas no CCB pequeno auditório (onde tive
o deslumbramento da «descoberta» da Jacinta) haverá um concerto
de «canções espirituais » (não se dizia, nos
anos 60, espirituais negros? Ou é pleonástico? Ou «incorrecto»?)
que me está a tentar.

O blog www.azweblog.blogspot.com espevitou e teve uma semana de excelentes contribuições.
Paralelamente conseguiram dar um tratamento admirável à matriz
de acontecimentos destas sugestôes que está mais bonita que o original!

O DNA passa a ser distribuído com a edição de sexta-feira
do Diário de Notícias.

A RTP2 transmite no «Por outro lado» (sábado 21.00) uma entrevista
da Ana Sousa Dias a Mário Vargas Llosa.


Download do ficheiro das exposições

11/23/2003

Jaz torta e emagrece a «pátria» de Pessoa

O Grande Irmão não precisa de NOS ver para controlar seja o que for, tendo já conseguido a proeza de o fazer de forma endógena, isto é, através dos NOSSOS próprios olhos. Olhos que são, em grande parte, a língua materna com que «formatamos» o mundo. Acresce que os limites deste coincidem - Wittgenstein dixit - com os da linguagem... Cumpre-se pois, paulatinamente, a mais terrível das profecias orwellianas: uma linguagem - o «newspeak» - materializável em qualquer língua (o inglês ou outra) e que desagua no pensamento único por inerência da sua «magreza» vocabular e de uma eufonia hipnótica, entorpecedora. Cada vez mais o português se fala e escreve em registo «newspeak», «emagrecendo» inexoravelmente o campo de visão e, por arrastamento, a margem de manobra dos seus utentes. Não malhem pois na língua de Shakespeare, que tantas alegrias nos tem dado: a sua invasiva «obesidade» foi com frequência estimulada e consentida pela «dieta» que nos infligimos (com ou sem literatura «light»).

11/21/2003

Democracias ditatoriais

Quero optimisticamente pensar que está a formar-se no meu país uma vaga de fundo que gradualmente irá desmascarar a pseudo-democracia em que vivemos. Sempre aprendi que a grande virtude da democracia consistia na livre expressão das minorias para que estas não sejam esmagadas e possam mesmo um dia tornar-se maiorias. Ora, sucede que presentemente neste país cada vez mais os governos pretendem gerir a nação como se ela fosse sua coutada. À maneira de empresários donos das suas empresas, os governantes crêem que num sistema democrático podem ser senhores de uma nação durante o período para o qual foram eleitos. Esta é, como se torna óbvio, uma forma naturalmente perversa de entender a democracia. “As minorias que se calem, porque no governo estamos nós, e nós não só sabemos decidir como estamos legitimamente empossados para o fazer.” E sentem-se como se não tivessem satisfações a dar. É com enfado que respondem a questões. Quando o fazem, atacam pessoas e não ideias. Como grandes proprietários acreditam poder decidir a seu belo prazer. Nós, meros cidadãos, passamos assim a ser governados de uma forma que não se desassemelha totalmente da ditatorial, só que legitimada pelo voto.

Esquecendo-se do ligeiro pormenor de que foram eleitos apenas para administrar o país, os governantes fazem-se rodear de homens da sua confiança. Não de cidadãos em que a nação pode confiar pela sua probidade e conhecimentos técnicos; antes de homens da sua confiança política, pessoas que estão incondicionalmente com os seus patrões a defender o que aqueles consideram correcto. Tudo o que seja oposição, opiniões adversas e contestatárias, varre-se de uma penada. Para isso, tenta-se ir reduzindo os media o mais possível ao pensamento único, ao diktat de quem sabe e governa.

Os Estados Unidos chamam aos seus governos “administração”. Existe uma grande verdade democrática neste conceito – o que não quer dizer que essa verdade tenha vindo ultimamente a ser observada. O conceito de administrar, não sendo muito diferente do de governar, apresenta no entanto algum distanciamento maior relativamente à coisa administrada. Uma condicionante da democracia é a transparência de quem administra a nação. Só com essa transparência podem os governos proporcionar a prestação de contas (“accountability”) que é devida aos cidadãos. Com as devidas ressalvas para os serviços secretos que, pela sua natureza têm mesmo de permanecer no maior sigilo, a transparência tem que imperar. Porquê? Para que os cidadãos votantes saibam como os diversos sectores do seu país estão a ser geridos – a educação, a saúde, o território, a defesa, a justiça. As razões das políticas adoptadas devem ser dadas com verdade e não com mentiras disfarçadas. Infelizmente, este governo parece ter lido e concordado com a conhecida reflexão de Fernando Pessoa: “As massas odeiam a verdade, conduzem-se por mentiras. Quem quiser conduzi-las, terá que mentir-lhes delirantemente, e fá-lo-á com tanto mais êxito quando mais mentir e se compenetrar da verdade da mentira.“

O que interessa acima de tudo aos senhores do poder é governar ditatorialmente e sem que ninguém lhes faça sombra. Para isso, pretendem maiorias absolutas. A partir dessas maiorias absolutas, sentem que tudo está ao seu alcance. E legitimado, até. Há óbices de vulto, por vezes. A Constituição portuguesa é um deles. Ela defende princípios que são uma garantia de que os detentores do governo não podem ultrapassar certos limites. Pois que pretendem agora os detentores do governo português? Que se altere a Constituição! Alterando a base, conquistam um poder de manobra mais alargado. Para alterarem a Constituição, porém, necessitam de mais do que de simples maioria; carecem da aprovação de dois terços dos deputados eleitos. Irá algum dos outros partidos satisfazer-lhes o seu voraz apetite?

O indicador mais expressivo do desejo que popularmente se traduz por QPM (“quero, posso e mando”) é dado pela pretensão já expressa pelo actual governo de alterar os mandatos parlamentares e autárquicos para cinco anos, fazendo portanto com que os mesmos coincidam com os mandatos presidenciais. É a constelação total. Prevendo um Presidente da República em 2006 com as suas cores, fariam o pleno! Sem oposição de qualquer ordem, ajudados pela retocada Constituição, com o apoio incondicional dos media que tenderiam a dominar na quase totalidade, que melhor paraíso poderiam ter criado?

Com democratas assim, Portugal não vai longe. Talvez vá apenas até aos braços do seu vizinho do lado.

11/20/2003

SUGESTÔES: Matriz de acontecimentos (20 Nov.)



FIL
ARTE LISBOA Feira Arte Contemporânea
20 a 24 Nov
Igreja dos Paulistas
Ciclo Concertos de Natal - 18.30
1 Dez
CCB
Jacinta
2 Dez
Igreja da Madalena
Ciclo Concertos de Natal - 21.30
3 Dez
Igreja da Pena
Ciclo Concertos de Natal - 18.00
7 Dez
Igreja de Stª Luzia
Ciclo Concertos de Natal - 18.00
8 Dez
Igreja Santos Velho
Ciclo Concertos de Natal - 21.30
10 Dez
CCB
Porgy and Bess
10 a 21 Dez
Igreja Stº Estevão
Ciclo Concertos de Natal - 18.00
14 Dez
CCB
O melhor de Marcel Marceau
27 Dez



Já devia ter recomendado o Porgy and Bess acima indicado. Mas só ontem
comecei a pensar neste assunto e ocorreu-me que pode ser uma excelente
iniciação à ópera. Se nunca foi à ópera, tem uma oportunidade de se
deslumbrar com uma música e um texto (em pretinglês, com legendagem) muito
acessíveis (fogem ao padrões da ópera clássica), numa sala confortável, com
estacionamento, sem galas ou formalismos. Que tal como «espectáculo de
Natal» para a família? Se já perdeu a virgindade operática, o risco
limita-se ao desperdício de um serão e de uns euros, caso os intérpretes
«sejam fraquinhos». Parece-me que vou arriscar...

A RTP2 transmite no «Por outro lado» (sábado 21.00) uma entrevista da Ana
Sousa Dias a Pepetela. Na Mezzo passa à meia noite de hoje (0 horas de
sexta-feira) um documentário de 26 minutos dedicado à peregrinação do Rocio
(repete à 1.30 da noite de domingo para segunda-feira).

A partir do próximo domingo, 23 de Novembro o PÚBLICO inicia a distribuição
(grátis com a edição de domingo) do coleccionável (13 fascículos de 16
páginas): "Arquitectos Portugueses Contemporâneos".

Se dispôe de bilhete/s para o concerto do Alfred Brendel na Gulbenkian a 29
de Novembro e não os pode utilizar, contacte-me, sff, pois conheum ço
interessado/s nele/s a preços de mercado cinzento. A lista de interessados
tem aumentado, a oferta não dá qualquer sinal...

Download do ficheiro das exposições

11/15/2003

Lingua afunkalhada...

O desabafo do João Ratão provoca-me alguns comentários.
Lembro-me de Karl Kraus (o grande crítico da linguagem) dizer que se a língua está em ordem, o mundo está em ordem. A língua é um espelho, não apenas daquele que a usa (ou que julga que a usa: muitas vezes é ela que dele se serve) mas também do mundo e da visão que dele se tem. A minha preocupação nem são tanto os acórdãos do tribunal mas antes o lamaçal da língua que ouvimos e sobretudo lemos em algumas áreas da nossa sociedade. Ao ler algumas secções da nossa imprensa sinceramente que me sinto mal com uma língua que tem potencialidades para dizer realidades que podem não nascer dela mas que ela está com certeza em condições de assimilar à sua própria matéria, sem precisar de se vestir de remendos estranhos, de tapar buracos com pensos rápidos vindos de fora. Não, não sou um purista, mas sinto uma desfiguração da língua através da proliferação selvagem de empréstimos em bruto, tirados do inglês e lançados sem mais para o meio da frase portuguesa em áreas como a economia, a comunicação, a publicidade, a informática... Aquela língua com certeza que não pode ser a pátria de ninguém, seja em que sentido for (bem sei que a economia há já muito que é apátrida).
Imaginemos agora alguém à procura de emprego que procura salvação nos anúncios dos nossos jornais. Vê-se às aranhas para entender o que se pede. Na posição dosponível terá que "reportar" à direcção comercial europeia. A empresa é product-leader no mercado. O candidato terá que envolver-se constantemente em acções de merchandising ou conciliar a actividade de researcher com uma forte cooperação na área de new business / client service. O que vai ganhar não se chama vencimento, ordenado, jorna, salário ou comissão mas sim qualquer coisa que ele tem que descodificar primeiro para saber se vale a pena: package remuneratório. E depois de alguém lhe explicar como é que lhe vão empacotar o que ganha, tem de estudar bem a situação não vá o "plafonamento" dos seus impostos fazê-lo receber metade do que tinha calculado. Só depois pode decidir a qual lugar se candidata. E não lhe falta por onde escolher: desde key account a country manager, passando por researcher ou comptroller e até ao muito cobiçado lugar de spare parts manager. Se nada disto lhe agradar sempre pode tentar outros caminhos, por exemplo numa joint venture numa das muitas tranches do mercado com futuro para os jovens business men portugueses. De qualquer forma, parace que o marketing é sempre um must. Se o marketing business to business não der há sempre o marketing mix sem perder de vista o targeting e seguir religiosamente o princípio do customer care.
E a imaginação em português, a criatividade na própria língua? É coisa que alguns criadores, publicitários, por exemplo, de resto muito criativos, parecem não ter. Ou então é o cliente que lhe corta essas possibilidades. De qualquer forma, o que Karl Kraus dizia sobre a língua e o mundo parace até nem se aplicar aqui: a língua, a nossa, anda afunkalhada e o mundo, pelo menos o da alta finança, nunca esteve melhor.
Fico por aqui porque parece que o meu laptop vai crashar!!!!!

11/14/2003

O Acórdão n.º 5/2003

Já leram o Acórdão n.º 5/2003 do Supremo Tribunal de Justiça?
(Não se assustem. Não vem aí outro comentador jurídico. Essa corporação já tem demasiados membros, quase tantos quantos os comentadores desportivos. Depois queixamo-nos da falta de profissionalismo da população «activa». A rapaziada é o máximo naquilo que não tem nada a ver com o «emprego». Deixassem-nos chegar a seleccionadores nacionais, treinadores «dum grande» ou juízes do caso Casa Pia e veriam como as «coisas» (os grandes problemas nacionais) tinham solução imediata, simples e perfeita. Vejam a garantia contida na expressão «Ah! Se fosse eu a mandar…» e comparem-na com a fragilidade da presunção daquele «que não tinha dúvidas e raramente se enganava»).

Não leram o Acórdão? Eu também não! Só li o seu sumário na folha de capa do Número 241 do Diário da República (série I-a), que transcrevo:
«Para o preenchimento valorativo do conceito de acto análogo à cópula a que se refere o artigo 201.º,n.º2, do Código Penal de 1982, versão originária, é indiferente que tenha havido ou não emissio seminis».

Que é isto? Julgam que eu sou algum rato de sacristia para saber latim? Magistrados de topo de gama (ou pelo menos de topo de carreira) a atentarem contra a língua mátria? (Tia Natália! Não te agites…A tua irrequietude não foi suficiente para evitar estes desastres, mas tinha graça e eu recordo-a/te com saudade).
Meritíssimos. Não conhecem expressões adequadas em português de Portugal? Podiam ter procurado! Se fossem ao blog do Pipi, teriam encontrado diversas alternativas legítimas. Se se actualizassem e estudassem pelos novos programas (aqueles congeminados pelos pedagogos da 5 de Outubro e que obrigam ao acompanhamento do Big Brother), não teriam sentido a necessidade de recorrer a estrangeirismos.

Ou será que o latim está para as cópulas como o inglês está para a informática? Julgava que era o francês, caso tivesse de definir uma linguagem técnica para uma actividade tão simples, bela e universal.
Mas, pensando melhor, é uma hipótese plausível. Se assim não fosse, porque é que os padres estudam latim? Para captarem os detalhes (na confissão, claro…).
Eu, embora velho ratão, ainda sou muito ingénuo …

Mesmo assim não me conformo. Ao que isto chegou!
Noutros tempos, ainda militava naquela escola de engenharia do Arco do Cego, quando, ao sair, ouvi uma das militantes do passeio, que circunda exteriormente a escola, propor:
- Vai uma farra a três?
Assim! Em português no original! Qual “ménage à trois”! Qual quê!

10/19/2003

SHIRIN EBADI

A atribuição do prémio Nobel da paz a Shirin Ebadi foi uma das raras alegrias que ultimamente me têm sido proporcionadas pela sucessão de acontecimentos que diariamente ocorrem neste nosso velho e conflituoso mundo.

Ao contrário do que poderão pensar alguns amigos meus – sei, adivinho, que o estão a pensar! – isso tem muito pouco a ver com o facto da distinguida ser mulher, como eu. Eu explico: há, de facto, uma parte de mim que se regozija pelo facto do prémio ter recaído numa mulher. Não o nego. Mas a grande razão do meu contentamento tem pouco a ver com a velha guerra dos sexos.

Ao trazer para a ribalta esta iraniana culta, que preferiu a defesa da causa humanitária e a solidariedade ao conforto de uma vida de privilegiada, o Comité Nobel vem chamar a atenção do mundo, por razões meritórias, para uma região do globo que em regra só é noticiada em contextos miserabilistas. Vem, em última análise, despertar-nos para o conhecimento de uma cultura que, tendo dado tanto à humanidade, hoje nos é tão tristemente familiar quão indiferentemente ignorada.

Convencida que estou que o conhecimento é o caminho para a compreensão e aceitação da diferença, e que não há convivência possível sem essa mesma aceitação da diferença, creio que o Comité Nobel prestou um serviço à humanidade ao proporcionar-nos esta oportunidade. Assim saibamos aproveitá-la.


(E agora, que já falei muito seriamente, aqui vai a “ferroadazinha”:
…e vai mais "uma" Nobel. A nível nacional, mais duas ministras recém nomeadas.
Mulheres, não desesperemos, lá chegará o dia!...)

10/14/2003

Não dão ponto sem nó

Foi muito recentemente empossado um novo membro do governo –o Secretário de Estado das Florestas – lugar que ainda não existia nesta nossa Califórnia da Europa. Porquê falar no assunto? Haverá por acaso quem discorde, face à patente inoperância na vaga de incêndios do passado verão, de que temos necessidade de um serviço coordenado que imponha ordem no florestamento do país, lance princípios aceitáveis de ordenamento florestal e transforme aquilo que foi uma verdadeira ameaça numa gloriosa oportunidade? Decerto que só espíritos muito avessos a concordarem com o que quer que seja se pronunciarão contra a medida. De facto, a criação de uma Secretaria de Estado das Florestas é, em princípio, uma boa solução para o caos reinante.

Em princípio apenas, infelizmente. Porque a ideia de “transformar a ameaça numa oportunidade” não é neste caso uma simples figura de retórica. Trata-se, em boa verdade, de aproveitar a oportunidade para eucaliptizar o país ainda mais. O ponto que foi dado para criar a Secretaria de Estado não ficaria rematado com um nó oportunista se para Secretário de Estado não tivesse sido nomeado um engenheiro agrónomo competente, como a imprensa refere, mas ferrenho eucaliptista. É natural que assim seja: a pessoa em questão está há muitos anos ligada, directa ou indirectamente, à Portucel. Lembra amargamente os casos de ligação do Ministro da Saúde ao grupo Mello e de outros ministros à Banca.

Ora, se há coisas de que Portugal não precisa mais é de plantações de eucaliptos. Dados estatísticos que comparam a evolução das áreas arborizadas com espécies tradicionais, nomeadamente de pinheiro, carvalho e sobreiro com as que possuem eucaliptos mostram um despudorado aumento desta última de há mais de duas décadas para cá. Coincidentemente, o desenvolvimento das fábricas de celulose, sempre ávidas de matéria prima de que o eucalipto é uma importante fonte, acompanha essa evolução. A segunda metade dos anos 70 do século passado marcou o início de um significativo investimento em eucaliptais, o qual se vem prolongando até aos dias de hoje. Já muito foi escrito sobre o assunto, com os Relações Públicas das grandes empresas a tentarem sempre rebater os argumentos que lhes são adversos. Mas haverá argumentos que possam resistir àquilo que é evidente? A desertificação das terras, por exemplo. Quem fica ao pé de eucaliptais a vê-los crescer? À semelhança do que sucede com edifícios urbanos altos que competem uns com os outros em altura – causando ao nível do chão os congestionamentos que se conhecem --, também os eucaliptos competem entre si pelo sol e vão, simultaneamente, desqualificando a terra que lhes serve de sustento. Nenhum animal selvagem pára num eucaliptal: nada ali existe para seu alimento. Quais abutres vegetais, os eucaliptos vão comento tudo à sua volta.

Na realidade, os eucaliptos não formam florestas. Uma floresta tem sempre três elementos: vegetação rasteira, arbustos e árvores. O eucaliptal só tem árvores. Por essa razão só se pode falar de “plantações” de eucaliptos. São árvores de crescimento rápido, como convém ao sistema de capitalismo desenfreado que se está verdadeiramente marimbando para o ambiente. Os terrenos aparecem ao fim de alguns anos esventrados da água que outrora lhes deu riqueza. Formam encostas escalavradas, manchas aberrantes em paisagens que se quereriam verdes, com produção assegurada por muitos anos. O eucalipto é originário da Austrália, onde foi usado para secar pântanos – algo que ele faz muito bem. Destruindo o ambiente, porém, secando poços e “bebendo água em todas as fontes”. Mas que interessa? Anote-se que para 2004 o governo reduziu o orçamento do Ministério do Ambiente em 18 por cento – e isto depois de todos aqueles mediáticos fogos! Governar não para as gerações, mas sim para as eleições – é isso que verdadeiramente conta. Entretanto, dissimular-se-á a questão proclamando nos media com o rosto mais sério do mundo que se faz exactamente o contrário. Já Talleyrand gostava de dizer que “as palavras servem para dissimular o pensamento”. Falar-se-á do eucalipto como essencial para o crescimento do PIB. Desse mesmo PIB de que já alguém disse, correctamente e parodiando o adágio, que “nem só de PIB vive o homem”.

Vamos, pois, esperar mais uma investida consciente nesta Eucaliptolândia. Nos incríveis incêndios de Agosto e Setembro, arderam imensos pinhais, como é habitual; mas arderam também eucaliptos. O problema é que estavam demasiado junto aos pinhais, sem ordenamento. Se estiverem isolados, devidamente separados, não serão os eucaliptais a ser alvo de incêndio, salvo notória distracção. O leitor já reparou nos grandes tufos de eucaliptos que aqui e ali vão flanqueando as auto-estradas? Nesses não houve, naturalmente, incêndios. Também quando os pinhais já forem claramente minoritários, os incêndios diminuirão.

Por este conjunto de motivos tão óbvios, nomear um eucaliptista para a nova Secretaria de Estado é rematar bem o ponto, mas apenas sob a óptica dos grandes interesses. É por isso que os portugueses a casos destes chamam, de maneira irónica e certeira, “não dar ponto sem nó”.

VERDE?! Só se for casta Alvarinho...

Apareceu ontem na minha caixa de correio um livrinho intitulado «Le petit chaperon vert» (edição francesa ilustrada para crianças). O envelope não trazia remetente, pelo que deduzo que o anónimo brincalhão seja algum admirador ressabiado, isto é, sistematicamente preterido a favor do lobo mau...
Trata-se de um texto destinado a denegrir - ou antes, avermelhar ainda mais, o que até agradeço - uma sólida reputação granjeada à custa de intensivo e dedicado zelo predatório (sempre encapuchado, claro, que o segredo é a alma do meu ócio...). Reza a historieta que o Capuchinho Verde, menina a todos os títulos exemplar, só tinha uma inimiga: uma «sale menteuse» que obviamente teria que ser eu!
Tão patética acusação suscita-me os seguintes comentários:
1- Antes mentirosa que hipócrita. A minha sonsa detractora parece esquecer que um capucho, MESMO VERDE, esconde sempre, por definição, algum gatil.
2- Minto com parcimónia e apenas em ocasiões de grande perigo. Todavia, quando prevarico, nem o faro afiadíssimo do meu lobo topa... Terá uma certa narigueta verde veleidades de conseguir melhor?!
3- Para a minha inimiga, ao que parece, mentira é sinónimo de contradição. Eu explico: passei a ser uma grande mentirosa por lhe ter contado um dia que TINHA ACABADO DE SER COMIDA pelo lobo mau, isto apesar de flagrantemente CONTINUAR VIVA (e por sinal de excelente saúde)! Ora é preciso ser-se mesmo MUUUUITO VERDE para inferir que esta declaração - aliás de uma sinceridade cristalina - incorre, levemente que seja, em contradição!
4- A mentira, que eu saiba, não é um pecado mortal, mas a inveja sim e parece ser ela o sentimento nuclear da minha rival. Direi mesmo que esta lamentável história constitui uma espécie de versão «daltónica» (por desdenhar o vermelho, entronizando o verde) da fábula da raposa e das uvas, neste caso dando vozes ao ponto de vista da fruta... Mais: o Capuchinho Verde deve ter ficado assaz traumatizada no dia em que a sua mamã lhe deu a entender, aliás com a melhor das intenções, que escusa de temer assédios lupinos, pois sendo tão verdinha, confunde-se com a vegetação (é só paisagem...), passando completamente despercebida. Também lhe terá dito, desferindo assim o golpe de misericórdia, que o impecável gosto do lobo mau apenas deglute «ce qui est rouge» - «La viande rouge, les fruits rouges, mais surtout les petites filles habillées en rouge». Concluindo: o inconsciente amordaçado do meu alter verde quer por força (Freud, dá-lhe lá uma mãozinha!) que eu vista a cor do seu clube para me salvar - PARA NÃO SER COMIDA ...VIVA! Que comovente solidariedade feminina... Nunca te disseram, Capuchinho Verde, que a minha mentira mora na tua mente?


10/08/2003

ARNOLD, ÉS O MAIOR!

Mal abro os olhos para mais um dia, a rádio confirma-me o que já de há algum tempo a esta parte vinha ganhando forma: Arnold Schwarzenegger é o novo governador da Califórnia. Veio-me logo à ideia um exercício de imaginação, uma espécie do jogo do condicional, que faço muitas vezes: como o mundo poderia ser diferente se se não tivessem dado determinados acontecimentos.
Por exemplo, se, em vez de Isabel a Católica, o trono de Espanha tivesse sido assumido pela nossa Beltraneja, a Excelente Senhora teria criado e alimentado toda a panóplia de horrores de uma Inquisição? Teria havido toda a perda de património financeiro e intelectual que com a expulsão dos judeus foi enriquecer outras paragens? E se o medo e a fraqueza do 8º duque de Bragança não tivessem sido empurrados pelos jesuítas e não tivesse havido 1º de Dezembro de 1640? E se Al Gore tivesse ganho as eleições como seria hoje a vida no Médio Oriente?

Nuns casos com consequências mais sérias e universais, noutros menos, este jogo poderia repetir-se até à exaustão: se Hitler não tem subido ao poder teria a minha amiga aquela bisavó judia, se Portugal não tivesse aderido à UE teríamos mais facilidade em comer jaquinzinhos, se eu fosse rica…, se eu tivesse 20 anos e soubesse o que sei hoje…, se…

Vem isto ao caso que hoje, nesta outonal e apesar de tudo pacata manhã lisboeta, dei por mim a perguntar-me até que ponto daqui a uns anos, se - sempre o “se”!...- Deus me mantiver alguma lucidez, não estarei eu a achar que a desgraça emergente que abre os telejornais das televisões poderá ter tido a sua origem precisamente numa pacata e outonal manhã, quando o mundo viu com bonomia a eleição de Mr. Músculo.

É que esta eleição não me deixa mesmo nada tranquila. Pergunto-me que preparação para tomar decisões, que gabarito ético – e apenas me pergunto, não afirmo que o não tenha - , que capacidade de encontrar consensos tem um indivíduo que toda a sua vida apenas se preocupou em cultivar os seus músculos, para com eles exterminar?! Que mundo real quererá construir quem em ficção tanto destruiu?! Quero acreditar que é apenas má vontade minha, mas até o seu discurso de abundantes thank you e outras vacuidades habituais na hora da vitória reforçam a minha inquietação…

Eu bem sei que com bons colaboradores qualquer governante pode fazer um bom governo. Pode, não o faz necessariamente. Para isso precisa, além do mais, de saber ouvir, saber ponderar as circunstâncias, ter visão de conjunto, e, em última instância, precisa de ter a massa cinzenta algo treinada para isso. E esse treino não se faz, seguramente, nos ginásios que o Sr. Schwarzenegger tem frequentado até aqui.

Tudo isto não me afligiria tanto se o tal poder hegemónico americano não pendesse sobre todos nós, cidadãos do mundo. É que suspeito que um belo dia vou acordar com a notícia que Arnold Schwarzenegger é o novo presidente dos EUA. E aí, que nos acontecerá “se”??


PS: a única nota hilariante que registo em tudo quanto vi foi aquela declaração, tresandando a encomenda politiqueira de conteúdo “dejà vu”, de uma pouco janota (escuso-me a mais, por solidariedade de género…) cidadã americana, queixando-se publicamente de assédio sexual por parte do então candidato. No comments!

10/03/2003

SOU UMA ESPÉCIE AMEAÇADA...

...DIREI MESMO EM VIAS DE EXTINÇÃO. SALVEM O LOBO - O MAU, CLARO - E SEREI SALVA TAMBÉM. Vagamente benfiquista e muito pouco comunista, a minha propensão para o VERMELHO visa sobretudo benefícios de ordem estética, ou antes, cosmética: é a cor que melhor combina com a minha deliberada palidez. Com efeito, fujo de praias e solários como o diabo da cruz. Prefiro a tímida luz coada das florestas que cercam a simpática vilória onde cresci, algures na Transilvânia dos meus sonhos cinéfilos. A propósito, podem sonhar comigo à discrição, mas não me peçam provas de existência, muito menos endereços reais. Estou definitivamente ENCAPUCHADA numa realidade virtual que só o lobo mau (caso entretanto o caçador não lhe tenha tratado da saúde) tem artes de penetrar. Merendas conventuais também conseguem entrar (a avòzinha agradece...).

CAPUCHINHO VERMELHO

Referendemos a "Constituição" europeia!

Referendemos a “Constituição” europeia!


Em Portugal, a democracia está a larga distância da que países como a Suécia, Noruega, Suiça e tantos outros praticam. A concepção vigente entre nós – se não em teoria, pelo menos na prática – é a de que um governo, uma vez eleito, não fica legitimamente vinculado ao cumprimento das suas promessas eleitorais e se arroga, para além disso, carta branca para tomar decisões sobre o que vier, por mais imprevisto e crucial que seja. Entretidos como andamos com a despudorada manipulação mediática de incêndios, incendiários e bombeiros, além do estafado caso da pedofilia, descuramos assuntos-chave, de entre os quais avulta sem dúvida o da futura “Constituição” europeia a que Portugal, como membro da União, se terá naturalmente de sujeitar. Não é caso de somenos: este projecto, aprovado ou não como está, passará a ditar princípios que nos podem ser altamente desfavoráveis. Mandam os grandes sobre os pequenos como nós; ficamos com uma autonomia bastante limitada à luz do projecto que se conhece.

Que faz o Governo? Assume como dado adquirido que, tendo sido eleito, não carece de ver referendado pelos cidadãos do seu país este novo tratado europeu. E, contudo, trata-se de algo que ao declarar o primado do direito europeu sobre o nacional, a “Constituição” penetra nas raízes da soberania portuguesa. Tudo terá que ser assim? Vamos mais uma vez, como tem sido hábito dos políticos que nos vêm governando, não ter a possibilidade de emitir a nossa opinião em referendo? Não teremos, de novo, a oportunidade de debater e votar publicamente o assunto neste país narcotizado por escândalos de importância duvidosa? Temos sido, desde sempre, pouco informados sobre a Europa, como se de uma questão de vizinhos se tratasse. Experiências amargas como a obrigatoriedade de respeitarmos o Pacto de Estabilidade do euro surgiram com alguma surpresa – e são ainda hoje pouco entendidas por uma grande parte da população, que tende apenas a encolher os ombros perante o facto.

Agora, com o projecto de uma “Constituição” europeia que atinge fundo os nossos direitos e nos embrulha num status bem diferente daquele de que historicamente nos orgulhamos, vamos cruzar os braços, dar-lhe um ámen irreflectido e invocar meramente o princípio de que “um governo eleito tem o direito de decidir por si só sobre todas as coisas e causas nacionais?” Não nos invoquem mais uma vez o estafado argumento da “democracia representativa”. Que representatividade pode ter o Governo neste caso em que o futuro tratado europeu, por ser um mero esboço, não foi naturalmente incluído nas últimas eleições portuguesas de que resultou o actual Governo? Visão ditatorial da democracia! Como nos poderemos admirar da perda de credibilidade dos políticos, que continuam como sempre a governar mais para as eleições do que para as gerações?

Como cidadão português, considero urgente um debate público e a realização de um referendo no país sobre a futura “Constituição” da União Europeia.

Não aguento mais

Jurei que não lia mais, que não via mais, que não iria escutar mais o noticiário das 8. Mas não resisti. Hoje foi aquela do homem dos olhões, o Martins da Cruz, o que fala explicado, quase soletrando. O Lynce ibérico ou não, animal em extinção esse haraquirou-se para salvar a honra da Família ! Todos os dias sai uma ! Do que eu tenho medo é de que andamos todos já muito fartos destas e às tantas salte daí dum buraco qualquer O SALVADOR DA PÁTRIA (filme que já vimos em outros festivais) um Sidónio, um António, ou um desses rapazinhos que já andam a pôr-se em bicos dos pés e que conhecemos de ver na 3ª linha dos comícios...

Rui Costa

Comunicado do João Ratão

Hoje, excepcionalmente, não escolhi a gravata a pensar nas Carochinhas.

Esta mudança deve-se à perspectiva de vir a ocorrer uma vaga para o lugar de Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Independentemente deste objectivo, anseio pelos efeitos colaterais que possam decorrer da escolha efectuada.

10/02/2003

Sugestões (teste)

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| Cnvnt.Inglesinhos | Teatro (com Jantar): Alma (Mahler) em| 12 Set | 26 Out. |
| | Lisboa | | |
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| Diversos Lisboa | Experimenta Design | 17 Set | 2 Nov. |
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| Diversos Lisboa | VI Festival de Orgão de Lisboa | 18 Set | 6 Out |
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| Coliseu |Maria Bethânia e Gilberto Gil | 1 e 2 Out | 20 a 50 ? |
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| Mafra |VII Festival Intern. de Música de Mafra | 4 Out | 26 Out. |
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| FIL | Intercasa | 7 Out | 12 Out |
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| Diversos Lisboa | III Ciclo de Música Espanhola do século| 7, 15 Out | 18 Nov |
| | XX | | |
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| Óbidos |Temporada de Cravo |10,11,17,18 | e 25 Out |
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| Palácio Fronteira | Ciclo de Música e Poesia Lírica de L| 14,16,21 | e 23 Out |
| | Camões | | |
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| Chiado | 3ª Festa no Chiado (C N Cultura) | 16 Out | 25 Out |
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| CCB | Porgy and Bess |10 a 21 Dez | |
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| CCB | O melhor de Marcel Marceau | 27 Dez | |
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Atenção: Agora, a menina dança ? nas noites de domingo para segunda-feira,
das 0 à 1 na RDP Antena1. Dada a qualidade da sua dança, surge a
inquietação: até quando?

Está anunciada a passagem do «Intruso», L. Visconti, hoje (quinta-feira) às
21h no canal Hollywood. Não tenho nada a acrescentar aos comentários
expressos em anteriores edições.

Hoje, no Café Teatro Santiago Alquimista, em Lisboa, e amanhã, no auditório
do CEFAS, em Águeda, sempre às 21.45, o "Coro dos tribunais" espectáculo de
homenagem a Adriano Correia de Oliveira e recordação da sua música.

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10/01/2003

Topologia em R2

Finalmente descobriu-se que o país tem falta de cultura matemática (aceitemos esta expressão evitando outras mais rigorosas, mas classificáveis de agressivas ou políticamente incorrectas...) e como reacção vá de bombardear os Engenheiros com desenvolvimentos paquidérmicos da igualdade 1+1=2, em vez de os apaparicarem, qual espécie em risco de extinção.

Talvez se lixem.

Olhem o que aconteceu em Itália...Aquilo da cegonha foi um pequeno aviso...
Entretanto os Engenheiros Civis continuam em luta o que vai levar a Santa Casa a lançar novas lotarias: o Totoponte será anual e tem como objectivo acertar na sequência das próximas três pontes a derrocarem, e o TotoIEP é idêntico, mas trimestral e relativo aos nomes dos próximos três presidentes do Instituto das Estradas de Portugal.

A matemática é muito útil e está presente em situações muito diversas do nosso dia a dia, permitindo interpretações inesperadas de factos libidinosos, ou anti-libidinosos, como o seguinte exemplo topológico em R2.

Conseguem pensar numa coxa quadrada?


Não? Imaginem a coxa de uma coxa...

9/26/2003

Não sei se vou mudar radicalmente o meu comportamento

Hoje em dia - e bem mais que há alguns anos - consumo ferozmente jornais, revistas, e noticiários da rádio e das Sic, CNN, SNews. Verifico depois que me sinto claramente mal pela desgraçada visão que me transmitem deste pobre mundo que talvez não fosse muito diferente antes da industrialização da notícia. Noticia-se tudo do mais insignificante e até falso, ao mais ridículo e nisso vamos consumindo o nosso tempo sem sobrar para escutar uma boa música e mergulhar num excelente texto. Até a "navegação " na Net já sinto estar a passar dos limites. Dou comigo a apurar a vista em páginas do mais absurdo que se possa imaginar. Acho que tomei uma daquelas decisões tipo " Vou deixar de fumar ! " Rui Costa


9/25/2003

Eu, o João Ratão

Se isto do blog é para irmos mascarados, disfarço-me de Joăo Ratăo!

Confesso que năo estava preparado para escolher um pseudónimo pelo que passo a partilhar algumas reflexőes provocadas por este processo.

Claro que o Capuchinho Vermelho me inspirou (também quem năo se inspiraria...), mas tenho o mérito de ter evitado a opçăo mais óbvia, e apetecível, de fazer de Lobo Mau.

Por outro lado é uma máscara que năo distorce muito a realidade, aquela cena do caldeirăo podia mesmo ter acontecido comigo. E a outra de ir atrás do som da flauta, já aconteceu com cantigas...

Mas năo será prejudicial? As damas assustam-se com os ratos!
Falso! Aqueles gritinhos năo correspondem a uma rejeiçăo. Săo uma forma de manifestaçăo de excitaçăo mal contida. (Năo procurem a fundamentaçăo nas teorias do tio-bisavô Sigmund, pois ele năo teve oportunidade de observar as primeiras manifestaçőes que levaram a esta conclusăo - ocorreram na década de sessenta do século passado quando as teenagers avistavam os Beatles).

Note-se ainda que os ratos, e principalmente os ratőes, săo poderosos e influentes. Na idade média iam suplantando os humanos e muito recentemente dominavam o nosso país - várias desgraças do passado recente vinham enquadradas pela frase: «Segundo informaçőes oriundas do Rato...».

Mas o argumento definitivo ocorreu com a lembrança de que as histórias de ratos que ultrapassam o universo dos contos infantis estăo insuficientemente divulgadas pelo que constituem uma reserva a considerar na alimentaçăo deste blog. Atente-se no caso seguinte, recentemente recebido via email:

Encontram-se tręs ratos e começam a falar, vangloriando-se dos seus feitos.

Diz um:

-Quando vejo uma ratoeira, subo para cima dela, deito-me de costas, dou um pontapé na barra, agarro-a com os dentes e faço meia hora de flexőes nela.

O segundo rato diz:

-Pois eu, quando vejo veneno, junto o máximo possivel, levo-o para casa e ,no dia seguinte, tomo-o com o café da manhă, para poder andar porreiro o resto do dia.

Entăo, o último diz com enfado:

-Já năo tenho pachorra para ouvir as vossas tangas... Vou para casa «papar» o gato.

9/18/2003

Elingsh...

"Aoccdrnig to a rscheearch at an Elingsh uinervtisy, it deosn't mttaer in waht oredr the ltteers in a wrod are, the olny iprmoetnt tihng is taht the frist and lsat ltteer is at the rghit pclae. The rset can be a toatl mses and you can sitll raed it wouthit porbelms. Tihs is bcuseae we do not raed ervey lteter by it slef but the wrod as a wlohe."

9/16/2003

EUA vs Iraque

É, pelo menos, pedagógico ver hoje os Estados Unidos serem obrigados a deixar, relativamente ao Iraque, o seu anti-democrático perfil "arrogante", para adoptarem perante os anteriores países "inimigos" da ONU um muito constrangido "ar rogante".

JMCO

9/13/2003

Sobre o AZ-Weblog...

Constitui um perfeito truísmo dizer que a necessidade de comunicar é própria do ser humano. Numa altura em que a humanidade é constantemente bombardeada com informação através de vários tipos de media, cria-se frequentemente dentro de nós uma vontade forte de manifestar pontos de vista. À opressão, que afoga e atabafa, reage-se com a ex-pressão. Dificilmente se poderia encontrar um meio mais adequado para fazer sair essa pressão que se exerce sobre nós do que através de um diário virtualmente gratuito, que a ninguém se impõe e ninguém nos impõe. Oportunidades como esta estão a tornar-se relativamente raras nos nossos dias, pelo que não fazer uso deste meio poderá parecer pura distracção ou excessivo comodismo.
É, por outro lado, uma actividade em que, no grupo, não há competição. Em vez dela, amizade. E liberdade. Se um lema está subjacente a toda a equipa deste blog, esse lema é dar-para-receber. Com a simplicidade de um grupo que tem a consciência de ser amador e honesto. As nossas contribuições poderão ser mais sérias ou mais jocosas, mais objectivas ou de pendor puramente subjectivo, mas a nossa honestidade estará sempre lá.
Num weblog, tal como sucede com uma teia ("web") estrategicamente colocada, procura-se captar algo do exterior, estabelecendo depois uma partilha mútua. Os nossos textos, com temática de A a Z, são pela sua natureza sempre passíveis de ser enriquecidos, seja por comentários opinativos, seja por adições bem vindas. Nada há que se esgote em si mesmo, nada se completa, tudo se vai formando gradualmente como um mosaico cuja definição de contornos é inatingível. Daí que informações novas, correcções, um outro ângulo de análise ou um olhar criativo e original de leitores interessados recebam da nossa parte, invariavelmente, um bom acolhimento.
Quem somos? Inicialmente - porque podemos vir a crescer em número - formamos um grupo de oito pessoas. A Ariadne é engenheira, a Ana guia-intérprete, o João Ratão engenheiro, o Rui arquitecto; tanto o Sete-Sóis como a Capuchinho Vermelho, a Sete-Luas e o Peter Pan são professores. Para todos, este é um alegre e interessante desafio. "Interessante" é também o adjectivo que gostariam que fosse aplicado por outros ao seu weblog. Tendo plena consciência de que o interesse é sempre algo perfeitamente subjectivo, esperam que os leitores destas ondas considerem apelativos alguns dos temas tratados. Semanalmente, incluiremos um renovado pacote de "sugestões" - um projecto do João Ratão que conta já com alguns anos de realização e que tem aqui o seu prosseguimento.
Dentro de meses faremos o nosso primeiro balanço.

A-Z Weblog