3/26/2005

Museus

Um jornal diário publicou ontem uma curiosa análise sobre museus, na qual compara números de visitantes e a política de preços de entrada nos 28 museus do IPM (Instituto Português de Museus) com os de instituições famosas como o Prado e o Louvre. Embora haja certamente que atender a diferenças notórias, v.g. a população dos países, o número de turistas estrangeiros, a preparação cultural da população e o seu poder de compra, não pode deixar mesmo assim de impressionar que enquanto o Museu do Prado atingiu cerca de 2 milhões de visitantes o ano passado, o nosso mais emblemático, que é o de Arte Antiga, se tenha quedado pelos 76 milhares. O custo das entradas no Prado é de 6 euros vs 3 euros no Arte Antiga (MNAA). O Louvre, que recebeu mais de 6 milhões de visitantes, apresenta um tarifário de 8,5 euros. O total dos museus do IPM recebeu 900 mil visitantes em 2004, uma cifra obviamente baixa e que levanta algumas interrogações. Atentemos, por exemplo, no facto de a exposição de Paula Rego no Serralves -- não incluído no IPM -- ter excedido os 100 mil visitantes. O que se passa?
O problema é demasiado complexo para ser tratado aqui, ainda por cima por alguém que não está devidamente habilitado para o fazer. No entanto, como cidadão que conhece um número significativo de museus, permito-me listar uns tantos pontos:
1. A arte exibida em muitos dos nossos museus é predominantemente religiosa (vários museus nasceram da necessidade de albergar peças valiosas provenientes de mosteiros, conventos e igrejas). No seu conjunto, tantas peças religiosas não resultam atractivas (pelo menos para mim). É uma arte que nos fala de uma religiosidade muito diferente da dos nossos dias ou que ostenta uma riqueza que nos choca perante carências que certamente foram muito gravosas no passado.
2. A climatização da generalidade dos museus é fraca. Como exemplo, permito-me citar uma visita que fiz há um mês ao Museu Regional de Aveiro. O frio que se fazia sentir nas salas era notório. As solícitas funcionárias eram as primeiras a lamentar esse facto. Em Dezembro passado, tive ocasião de visitar vários museus e palácios em Viena, onde a temperatura interior levava os visitantes a deixarem os seus abafos nos vestiários. É evidente que a disposição com que depois se admira as obras de arte é completamente diferente.
3. O uso, obviamente pago, de guias-áudio que nos explicam as peças mais significativas pode constituir uma óptima lição cultural. É um verdadeiro valor acrescentado para o visitante. Nunca encontrei em Portugal esses guias -- o que não quer dizer que não existam. Aqui está uma óptima oportunidade de colaboração do meio universitário específico com os conservadores dos museus (ligação escola-comunidade).
4. Por último, mas não por ser o item menos importante, vem a realização de exposições temporárias com um certo nível. À guisa de exemplo, recordo uma de há alguns anos no MNAA, salvo erro intitulada "O Eterno Retorno". Foi uma exposição que pôs em animado confronto Arcimboldo e Bosch e nos mostrou pintores pouco vistos entre nós como Delvaux e Magritte, a par de numerosos surrealistas portugueses e estrangeiros. Não sei quantos visitantes a exposição teve, mas das três vezes que lá fui encontrei sempre imensas pessoas (o espaço não era muito, é verdade). Pôr as peças e as épocas e falarem umas com as outras de forma original, a dizerem-nos qualquer coisa, parece-me fundamental. E como o uso dos multimédia permite fazer maravilhas!

Dir-se-á que tudo isto custa muito dinheiro e que não há verba. Às vezes é uma questão de prioridades governamentais e de dinamismo dos curadores. Mas é um facto que quando estes requisitos não existem, só se pode esperar um certo marasmo.
Ficam de fora desta análise a promoção, os meios de acesso aos museus, a existência de um parqueamento próximo quando não há metro, as visitas de estudantes -- que felizmente não têm diminuido -- e a preparação geral dos portugueses. Uma pergunta final: para se aprender nos museus é preciso possuir uma bagagem prévia, ou obtém-se essa bagagem visitando-os? É uma eterna questão.

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