4/06/2005

Dólar vs Euro

Nos últimos três anos, o dólar desvalorizou-se 38% relativamente ao euro. Perdeu também para outras moedas, v.g. o dólar canadiano (25%). Se estas quedas se vão acentuar no próximo futuro, ninguém verdadeiramente sabe. O défice dos EUA é colossal. Só largas vendas ao estrangeiro de produtos americanos -- aviões, armas de guerra, maquinaria -- fariam baixar a pressão sobre o dólar. Porém, o que está a suceder com o dólar não deixa de fazer algum sentido, na medida em que as nações mais ricas do sudoeste asiático continuam a investir em títulos do tesouro americanos. Este facto mantém as taxas de juro americanas baixas, o que torna o dinheiro mais barato e permite que os americanos possam contrair empréstimos e gastar o dinheiro em produtos asiáticos. Serve os dois lados. Dado que várias moedas asiáticas estão indexadas ao dólar, também elas estão a manter-se artificialmente baixas, o que torna os respectivos produtos mais competitivos à escala mundial. Entretanto, como há mais do que dois lados no mundo, um euro alto torna os produtos europeus menos competitivos. A economia da UE sofre. O turismo português, esteio importante da nossa economia, também sofre. Recuperação, nem vê-la!
O outro lado da questão é que os enormes montantes em dólares existentes no Japão, na Coreia do Sul e na China têm feito esses países perder muito dinheiro -- o dólar depreciou-se 23 por cento relativamente ao yen, por exemplo. Até quando durará a paciência desses países? São eles que de facto estão a sustentar a economia americana. Se decidirem mudar uma parte substancial das suas reservas para euros, é evidente que o dólar sofrerá um abanão bastante forte. Aí o consumo americano baixará, o que afectará a economia do país e não só. Só parcialmente seria bom para a União Europeia. Numa altura em que, no quadro da OMC, tanto se fala em subsídios encapotados, estamos aqui perante um subsídio financeiro asiático, encapotado, aos EUA. Contudo, enquanto o dólar desempenhar o papel de moeda mais usada nas trocas entre países, v.g. cerca de 80% das exportações tanto da Tailândia como da Coreia do Sul são feitas em dólares, os EUA pouco se vão preocupar em eliminar os seus actuais défices.
Na realidade, o dólar é de há muito um instrumento da política externa dos Estados Unidos. Bastará lembrarmo-nos que após o final da 2ª Guerra Mundial -- já há 60 anos --, quando a Europa possuía poucos dólares, foi o Plano Marshall que forneceu dinheiro para que a Europa pudesse comprar alimentos, combustíveis e maquinaria -- em grande parte aos próprios americanos!
O euro tornou-se entretanto também uma moeda mundial, devido não só à dimensão da própria EU-25 como aos muitos países de língua espanhola, portuguesa e francesa. A médio prazo, tenderá a aumentar a sua concorrência ao dólar. Esta é mais uma história que está a acontecer! Ninguém sabe como é que o filme termina ou mesmo como vai continuar!

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