Mal abro os olhos para mais um dia, a rádio confirma-me o que já de há algum tempo a esta parte vinha ganhando forma: Arnold Schwarzenegger é o novo governador da Califórnia. Veio-me logo à ideia um exercício de imaginação, uma espécie do jogo do condicional, que faço muitas vezes: como o mundo poderia ser diferente se se não tivessem dado determinados acontecimentos.
Por exemplo, se, em vez de Isabel a Católica, o trono de Espanha tivesse sido assumido pela nossa Beltraneja, a Excelente Senhora teria criado e alimentado toda a panóplia de horrores de uma Inquisição? Teria havido toda a perda de património financeiro e intelectual que com a expulsão dos judeus foi enriquecer outras paragens? E se o medo e a fraqueza do 8º duque de Bragança não tivessem sido empurrados pelos jesuítas e não tivesse havido 1º de Dezembro de 1640? E se Al Gore tivesse ganho as eleições como seria hoje a vida no Médio Oriente?
Nuns casos com consequências mais sérias e universais, noutros menos, este jogo poderia repetir-se até à exaustão: se Hitler não tem subido ao poder teria a minha amiga aquela bisavó judia, se Portugal não tivesse aderido à UE teríamos mais facilidade em comer jaquinzinhos, se eu fosse rica…, se eu tivesse 20 anos e soubesse o que sei hoje…, se…
Vem isto ao caso que hoje, nesta outonal e apesar de tudo pacata manhã lisboeta, dei por mim a perguntar-me até que ponto daqui a uns anos, se - sempre o “se”!...- Deus me mantiver alguma lucidez, não estarei eu a achar que a desgraça emergente que abre os telejornais das televisões poderá ter tido a sua origem precisamente numa pacata e outonal manhã, quando o mundo viu com bonomia a eleição de Mr. Músculo.
É que esta eleição não me deixa mesmo nada tranquila. Pergunto-me que preparação para tomar decisões, que gabarito ético – e apenas me pergunto, não afirmo que o não tenha - , que capacidade de encontrar consensos tem um indivíduo que toda a sua vida apenas se preocupou em cultivar os seus músculos, para com eles exterminar?! Que mundo real quererá construir quem em ficção tanto destruiu?! Quero acreditar que é apenas má vontade minha, mas até o seu discurso de abundantes thank you e outras vacuidades habituais na hora da vitória reforçam a minha inquietação…
Eu bem sei que com bons colaboradores qualquer governante pode fazer um bom governo. Pode, não o faz necessariamente. Para isso precisa, além do mais, de saber ouvir, saber ponderar as circunstâncias, ter visão de conjunto, e, em última instância, precisa de ter a massa cinzenta algo treinada para isso. E esse treino não se faz, seguramente, nos ginásios que o Sr. Schwarzenegger tem frequentado até aqui.
Tudo isto não me afligiria tanto se o tal poder hegemónico americano não pendesse sobre todos nós, cidadãos do mundo. É que suspeito que um belo dia vou acordar com a notícia que Arnold Schwarzenegger é o novo presidente dos EUA. E aí, que nos acontecerá “se”??
PS: a única nota hilariante que registo em tudo quanto vi foi aquela declaração, tresandando a encomenda politiqueira de conteúdo “dejà vu”, de uma pouco janota (escuso-me a mais, por solidariedade de género…) cidadã americana, queixando-se publicamente de assédio sexual por parte do então candidato. No comments!
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