4/12/2014

A banca portuguesa como centro de decisão nacional?

Há dias, Cunha e Silva, vice de Alberto João Jardim e candidato à sucessão de presidente do PSD/Madeira, rematou o discurso da sua candidatura criticando o actual primeiro-ministro com uma frase lapidar: “para salvar Portugal não era preciso matar os portugueses.” Basta olhar para a nossa vizinha Espanha para verificar que isso teria sido possível.
Porém, quando em 2011 o actual primeiro-ministro concorreu às eleições e as venceu com a língua cheia de falsas promessas, a banca estava por detrás dele pressionando-o para pedir a intervenção da troika. Porquê? Endividadíssima na sua tremenda ganância de anos e anos a financiar construtores de imóveis por todo o país e posteriormente a financiar os compradores desses imóveis, a banca, que tinha recebido fartos empréstimos dos alemães e dos franceses e também de instituições de outras nacionalidades, necessitava urgentemente de dinheiro para pagar as suas dívidas. Pressionou assim a saída de Sócrates e apoiou a entrada de Passos Coelho.
Três anos depois, ao ouvir Passos Coelho falar de uma eventual “saída limpa”, a mesma banca portuguesa que se viu obrigada a pedir empréstimos ao BCE através do Estado português, que aliás lhe cobra juros elevados por esse empréstimo, está contra essa hipótese. Para o primeiro-ministro, uma saída limpa daria imenso jeito para as legislativas, graças à almofada de segurança que entretanto logrou constituir através dos impostos cobrados aos portugueses e de um maior endividamento externo e interno a juros substancialmente mais baixos do que os iniciais. Para a banca, no entanto, seria mau. Porquê? Porque continuando o país cotado como junk pelas principais agências de rating e tendo importantes bancos que operam em Portugal – BCP, BPI, CGD e Banif - recebido do Estado muitos milhões de euros, a credibilidade destes bancos passou igualmente a ser considerada “lixo”. Como tal, não são em princípio passíveis de se financiarem junto do BCE, o que lhes dificulta tremendamente a vida.
Pode suceder que, tal como há 3 anos, seja agora em 2014 a banca a ter a última palavra? É uma hipótese perfeitamente verosímil. A confirmar-se, constituiria um óptimo exemplo da prioridade da economia e das finanças sobre a política. Não custa a crer que venha a ser assim. 

1 comentário:

  1. E o grande drama é que enquanto forem a economia e as finanças a ditar o futuro do país não teremos futuro.

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