No
final da década de ’60 e no início dos anos ’70 do século passado, houve uma
enorme vaga de emigração portuguesa para a Europa. Para o Brasil já tinha sido
comum. Para os Estados Unidos e Canadá era algo mais recente. Mas para a Europa
e com tal força aquela onda emigratória era inédita. Os anos ’60 e início dos
’70 coincidiram com a Guerra Colonial, mas esta esteve longe de ser a grande
força motriz por trás da debandada de portugueses para França, Alemanha, Luxemburgo
e outros países da Europa. Os baixos salários que os trabalhadores auferiam em
Portugal quando comparados com os que eram pagos no estrangeiro falaram mais
alto e levaram muitos e bons braços da terra portuguesa para fora da pátria.
Curiosamente,
essa foi também a altura em que o Portugal turístico, que era então em imagens
publicitárias “o segredo mais bem guardado da Europa” atingiu (em 1964) o seu
primeiro milhão de visitantes estrangeiros, número largamente superado anos
depois.
De
entre os locais descobertos para o turismo sobressaía, como alguns se
lembrarão, o nosso Algarve. O Algarve era publicitado como um paraíso de sol e
de tranquilidade para visitantes endinheirados. Porém, mesmo do Algarve saíam centenas
de emigrantes para os países europeus. Este facto levou a certa altura o Bispo
do Algarve a comentar ironicamente que podia imaginar o gosto de alguém em
largar o Inferno, mas que lhe era extremamente difícil entender que alguém
estivesse interessado em abandonar o Paraíso. Tinha a sua lógica o comentário
do Bispo.
Embora
a História, como se sabe, não se repita, é um facto que ela muitas vezes rima.
Presentemente, os arautos do Governo português proclamam que a sua governação
tem sido um sucesso; que a economia está a dar a volta e a recuperação já
começou; que as exportações têm aumentado substancialmente; que, ao contrário
do que muita gente esperava, o Governo se decidiu por uma “saída limpa”,
calando assim as calhandras que só falavam de desastres. Voltámos à narrativa
do Paraíso português!
Ora,
parece que de maneira algo semelhante àquela que levou tantos trabalhadores
algarvios a emigrarem do seu Paraíso nas décadas atrás mencionadas, também
agora é do Paraíso português propalado pelo actual Governo que duas conceituadas
instituições financeiras decidem cessar a sua actividade em Portugal, i.e. abandonar o Paraíso. As duas
instituições são sobejamente conhecidas. Uma delas é o Banco Barclays, a outra
o BBVA (Banco Bilbao Vizcaya Argentaria). O primeiro está em Portugal há pelo
menos 40 anos; o segundo está entre nós há um número inferior de anos: apenas
há 23. Segundo o jornal espanhol El País,
a operação portuguesa não oferece a rentabilidade esperada. É talvez um pouco
mais do que isso, diga-se: nos últimos três anos de actividade em Portugal, o
BBVA registou perdas que chegaram aos 133 milhões de euros. Para paraíso não
está mal.
Será que tanto os
trabalhadores algarvios de há décadas como os bancos internacionais aqui
referidos são insensíveis aos encantos do Paraíso?
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