3/07/2004

BOLINANDO...

Esgotar-se-á a identidade em circunstâncias como sexo, idade, família, estado de saúde, profissão? Ou será algo apenas vestido (afagado ou ciliciado) por elas, sobrevivendo-lhes, perdurando APESAR delas, embora sempre e fatalmente ATRAVÉS delas? Se for este o caso, então talvez a estratégia mais propícia à livre expressão do eu profundo consista em navegar nas circunstâncias à bolina, não tanto em contrariá-las frontalmente...
Se eu tivesse, por exemplo, nascido homem, tal ocorrência definiria um campo magnético seguramente diverso daquele em que cresci, atraindo à existência «limalhas» adormecidas pela minha condição feminina, repelindo para o limbo dos possíveis alguns companheiros de viagem, talvez até os meus demónios actuais... Se eu fosse hoje trinta anos mais nova, esse cenário não optimizaria por força o meu potencial. Esculpi-lo-ia, isso sim, com outros materiais, seleccionando os convenientes recursos alternativos e desse modo abrindo portas hoje fechadas, mas fechando também implacavelmente outras cujas fechaduras só agora se encontram ao alcance da minha determinação.
A energia disponível será assim provavelmente constante, não aumentando nem diminuindo ao sabor das circunstâncias, não decrescendo designadamente com a idade apesar das evidências em contrário. Mais: o nosso potencial será o mesmo com um minuto de vida ou às portas da morte numa provecta idade. Isto presumindo que nada do que somos se cria ou perde, tudo se formando e deformando em função do maior ou menor grau de consciência com que fiamos, desfiamos, rasgamos e cerzimos a trama dos nossos desafios.

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