Só quem anda verdadeiramente distraído não encontra em jornais como o PÚBLICO linhas que se encadeiam como peças de um puzzle. Para me referir apenas aos números de 27 e 28 de Fevereiro (sexta e sábado), saliento um artigo de Miguel Sousa Tavares (MST) e duas notícias, a que se somam um carta ao Director e um Editorial. MST considera de mau agoiro um “plano de protecção para a ria de Alvor” recentemente assinado pelos presidentes de duas câmaras algarvias (Lagos e Portimão). Receia que se trate de preparativos para um assalto à ria de Alvor através de interesses imobiliários. Cita uma frase reveladora do autarca de Portimão: “Não podemos ser fundamentalistas (em matéria ambiental), pois pagamos por isso nas eleições”. Conclui MST que agentes imobiliários e construtores financiam as campanhas dos partidos cujos autarcas se mostrem sensíveis aos seus “direitos atendíveis e adquiridos”. O triunfo eleitoral vai a par com os atentados urbanísticos aprovados.
O cidadão médio como eu questiona-se de onde vem o muito dinheiro necessário para os grandes projectos imobiliários. A resposta remete-nos a muitos de nós, leigos mas interessados no assunto, para a suspeita do uso demasiado frequente de dinheiro legal conjuntamente com lavagem de capitais obtidos ilicitamente e subtraídos portanto aos impostos devidos ao Estado. A conclusão é lógica para quem vê tanta construção por todo o lado, muitas vezes não habitada, e a associa a facturas falsas, contrabando, offshores, droga, etc..
Numa das notícias de sábado, inspectores da PJ queixam-se da ministra Cardona, afirmando que têm sofrido uma crescente perda de poderes relacionados com a investigação criminal, particularmente a nível financeiro.
Noutra das notícias lê-se que num estudo encomendado pelo governo a um arquitecto crítico das reservas ecológicas nacionais (REN) se sugere que a aprovação das áreas a serem ou não incluídas nas REN passem para as competências municipais.
Por seu lado, a carta de um leitor insurge-se contra um verdadeiro laxismo que grassa no ensino secundário e, por arrastamento, noutros sectores do país, do qual resulta um abaixamento grave e generalizado da qualidade.
Por último, o editorial de Amílcar Correia compõe o ramalhete. Considerando que o cruzamento de dados do fisco e da Segurança Social pode ser o princípio de uma política séria de combate à fraude, não deixa de mencionar a opinião de Bagão Félix sobre a possibilidade de o uso sistemático desse cruzamento poder violar a Constituição (como se a fuga aos impostos não fosse ela própria punível, constitucionalmente, pela Justiça). Amílcar Correia conta-nos ainda como é que o único país que nos é vizinho tem actuado neste domínio. A propósito do relatório McKinsey, que comparativamente elogia a Espanha, afirma que a razão que subjaz à diminuição da fraude fiscal do outro lado da nossa fronteira é, basicamente, o medo de uma inspecção.
Pois é. A grande diferença é que em Espanha se mata o touro. Em Portugal ... encana-se a perna à rã.
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