Muitos dos estrangeiros que vêm a Portugal e vêem registado nos menus dos restaurantes o pudim Molotof acham o nome engraçado. "Terá a ver com os cocktails Molotov que os rebeldes dos países de leste atiravam para dentro dos tanques russos?"
"É um pudim muito bom, doce, bastante popular em Portugal, mas não tem nada a ver com isso", explica solícito o empregado do restaurante.
Na realidade ele está enganado e são os turistas que estão certos na sua hipótese. O pudim Molotof entrou em Portugal no ano do 25 de Abril. Sob a influência das coisas russas, o nome original do pudim, que era Malakof, foi transformado num outro bem mais revolucionário. Neste sentido, ele é o doce mais explosivo que temos em Portugal.
A terminologia da guloseima esconde por vezes histórias curiosas. Um grande número de doces hoje característicos dos países católicos provieram dos conventos, onde as pobres monjas, proibidas de fazer sexo pelos seus votos de castidade, se desforravam nos bolos e em tudo o que possuísse mel ou açúcar como ingredientes. Os monges e os frades, pelo seu lado, confeccionavam óptimos licores, de onde sobressai em Portugal o popular licor de ginja -- a ginjinha. A que reproduz a da Abadia de Alcobaça é a mais famosa exactamente por esse motivo.
Os pastéis de Belém foram o produto de uma receita que os monges do Mosteiro dos Jerónimos, com sérias dificuldades materiais no século XIX, inventaram para poderem realizar algum dinheiro. A Casa dos Pastéis de Belém, perto do Mosteiro, considera-se a fiel depositária da monástica receita.
Tenho para mim que uns outros bolinhos famosos neste país também têm a sua ligação a uma história, desta vez real, i.e. ligada à realeza. Sucede que, no Portugal da segunda metade do século XVII, o rei Afonso VI teve alguns problemas com a bela princesa prima de Luís XIV com quem casara. Afectado anteriormente por uma meningite que o tinha incapacitado sexualmente, o pobre rei viu a sua amada mulher pedir a anulação do casamento para que pudesse desposar um outro homem: nem mais nem menos do que Pedro, o irmão do seu marido. Diz a lenda que, para o sossegar na imensa dor que o fez desgastar durante nove longos anos o mosaico do quarto-prisão no Palácio de Sintra, a sua ex-mulher, Rainha Maria Francisca de Sabóia, terá criado uns saborosos bolos a ele dedicados. O nome ? Palitos de la Reine.
A associação da família real portuguesa a bolos não se fina aqui. Na realidade, um bolo ainda popular nos dias de hoje está ligado a uma outra rainha portuguesa do mesmo século XVII. A pobre Catarina de Bragança, filha do mui ilustre Rei D. João IV e irmã do mencionado Afonso VI acima mencionado, serviu a causa portuguesa ao desposar o rei de Inglaterra, país que iria garantir protecção militar a Portugal depois da restauração da independência de 1640. Ao casar com Carlos II de Inglaterra, que lhe fez a vida negra com as muitas amantes por quem a trocou em parte por ela própria não poder ter filhos, Catarina penou muito por aquelas terras. Terras onde, aliás, terá introduzido o chá, as torradas e o tabaco. Na Inglaterra, chamam-lhe por este motivo a rainha dos três t's: Tea, tobacco, and toast. Tudo coisas agradáveis de meter na boca.
Ora quando o rei seu marido morreu, exausto de tanta patifaria sexual e fartas comezainas, a pobre Catarina regressou a Lisboa. Na sua bagagem, trazia largas quantidades de coisas inglesas, como catálogos de mobiliário e receitas. Justamente em homenagem a esta sua rainha, os portugueses criaram um bolo que, sendo no seu nome a corruptela da palavra inglesa cake, usa a massa inglesa e tem, muito apropriadamente, uma coroa real a toda a volta: o queque.
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