Ouvi há poucos dias a notícia de que no Irão foi criado um Índex. Livros como O Código Da Vinci e Rapariga com Brinco de Pérola (entre muitíssimos outros que a notícia breve não referia) e música dos Beatles ou dos Queen (segundo a mesma notícia muito do agrado da juventude iraniana) foram proibidos, por perniciosos.
Estando nós às vezes um pouco esquecidos de que pela ocidental praia lusitana já perpassaram os mesmos ventos censores, aqui deixo um poema de Manuel Alegre, desses tempos de má memória:
As Palavras
Palavras tantas vezes perseguidas
palavras tantas vezes violadas
que não sabem cantar ajoelhadas
que não se rendem mesmo se feridas.
Palavras tantas vezes proibidas
e no entanto as únicas espadas
que ferem sempre mesmo se quebradas
vencedoras ainda que vencidas.
Palavras por quem eu já fui cativo
na língua de Camões vos querem escravas
palavras com que canto e onde estou vivo.
Mas se tudo nos levam isto nos resta:
estamos de pé dentro de vós palavras.
Nem outra glória há maior do que esta.
(O Canto e as Armas, 1967)
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