5/08/2004

Guerra e paz

De há uns anos para cá vejo muito pouca televisão. Mesmo o telejornal da noite é ouvido entre a necessidade de estar informada e a vontade de desligar. Porém, o que vi há umas semanas, aquando da morte do segundo líder do palestiniano Hamas, incomodou-me sobremaneira; foi como que a gota de água que fez transbordar o copo da minha indiferença face à banalização da violência entre os Homens.

Refiro-me às imagens do cortejo fúnebre do líder palestiniano, tapado com a bandeira verde e branca, rosto descoberto, acompanhado por uma multidão de palestinianos ululante. Impressionante manifestação de desespero, de ódio visceral, de força! A ânsia com que todos, crianças incluídas, tentavam fazer uma festa no rosto do seu herói morto mostra bem que Israel pode esgotar o seu arsenal bélico, que só vai acabar com o Hamas quando acabar com o último palestiniano.

Dizer que o conflito israelo-palestiniano é velho de séculos, eventualmente insolúvel, que o povo israelita tem sobrevivido sempre à custa de luta, que enquanto tiver o apoio americano nada muda, é dizer lugares-comuns, infelizmente. Importa-me, isso sim, perguntar aonde leva tamanha irracionalidade. Que se espera obter semeando, de ambos os lados, tanto ódio? Até quando se vai continuar a ver quem mais mata?

Imediatamente a seguir ao atentado de 11 de Março em Madrid, o Dr. Soares disse que era preciso negoaciar. Na opinião pública caiu o Carmo e a Trindade: negociar com terroristas nunca!

Orgulho vão, velha sobranceria ocidental, a nossa! Que eu saiba, só existem duas saídas para acabar com uma contenda: ou um contendor elimina o outro, ou há negociação. Olhando para os exemplos que a História nos dá, para tantos tratados de paz que foram firmados (e sem alguns dos quais possivelmente não estaríamos hoje aqui), parece-me legítimo concluir que negociação não é necessariamente sinónimo de cedência a chantagens, posição de fraqueza ou subalternidade.

Onde houver conflito há que negociar, sim, e já, porque não há outra saída. Ou estamos todos à espera a ver uma parte acabar com a outra?

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