O galaico-português possui várias características na sua maneira de adoptar o latim. A queda de três "letras" intervocálicas na forma popular das palavras é uma dessas características. Assim, cai o -l- (salire > sair), cai o -n- (luna > lua) e, embora com menos frequência, cai o -d (judicio > juízo). Nas formas mais eruditas e, portanto, menos usadas, mantêm-se no entanto essas originais "letras" intervocálicas (saliente, lunar, judiciário). Na base deste último exemplo, confrontamos que juiz, juízo e judiciário têm a mesma origem. O "jus" português, que utilizamos várias vezes em "fazer jus a alguém pelo seu mérito" (prestar justiça), também deriva do latim e significa "direito". E tudo isto está conotado com "escrever direito" e "cortar a direito", como seria de prever.
Contudo, em matérias de Polícia Judiciária em Portugal, por culpa não se sabe de quem, parece haver pouco juízo, faz-se pouco jus à justiça e aparentemente não se corta a direito. Será mesmo assim? A famosa justiça de olhos vendados deveria ser imparcial e não defender prioritariamente quem joga em casa (o governo). Não parece ser isso o que acontece. Volta e meia surgem questões em volta das investigações da Judiciária. Esta, parece ao cidadão comum que paga impostos e, em última análise, paga à Polícia, deveria dispor de meios suficientes para actuar convenientemente, ser imparcial e célere. Pelo que se tem visto desde há anos, nenhum destes requisitos essenciais é preenchido.
Já aqui neste blog perguntei o que sucedeu ao caso Portucale, que envolveu ministros do CDS-PP e o Banco Espírito Santo. Nada se sabe. O que aconteceu ao caso do Freeport, em Alcochete, que os jornais referiram depois de o processo ter sido iniciado pela Judiciária? Que se passa com as investigações à volta dos negócios entre a Bragaparques e a Câmara de Lisboa? E com aqueles bancos que, segundo os media noticiaram, faziam avultados branqueamentos de capitais?
Parece que os sucessivos governos tentam instrumentalizar a Polícia, dando indicações para acelerar ou para retardar determinados processos. Depois, perante pressões de outros grupos políticos que não estão na governação, param todas as démarches ou entram em velocidade tão de cruzeiro que nada verdadeiramente avança.
Se quem não deve, não teme, porque será que são feitas mudanças nos quadros dirigentes da Judiciária com tanta frequência? Lugares de confiança política para um governo, já o tenho aqui dito, representam lugares de desconfiança política para os cidadãos contribuintes. A justiça pode surgir com os olhos vendados, mas num dos lados a venda parece ser relativamente transparente e deixar ver alguma coisa. Além de que os ouvidos continuam a funcionar.
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