Numa agência bancária perto de minha casa trabalha uma moça simpática, que conheço há cerca de três anos. Encontrámo-nos um dia destes na rua, à hora do almoço, o tempo suficiente para dois dedos de conversa. A Leonor tem 27 anos, casou no início de 2004 e mora na margem esquerda do Tejo. Ainda não tem filhos e, admitiu, "não sei como é que isso vai ser". Lembrei-me automaticamente das razões aduzidas por economistas: possivelmente com um salário razoável e a necessidade de contribuir para o apartamento que o casal está a pagar, ter filhos resulta difícil para ela porque implica ter que depois levar as crianças ao infantário, às vezes ao médico e outras vezes a ficar em casa com eles, doentes, - criando portanto problemas no emprego, o qual não se pode perder. "Sendo mais simples, é talvez mais complexo do que isso", explicou-me. "Não tenho tempo. Entro aqui todos os dias pouco depois das 8 e chego de volta a casa às 8 da noite."
O horário do banco é em muito ultrapassado, como é evidente. Longe vai o tempo em que os bancários tinham uma vida mais liberta e saíam por volta das 16H30. Mas é assim que a empresa espera que a sua funcionária corresponda, contribuindo com o seu quinhão de esforço para que o banco alcance os objectivos anuais que previamente definiu. A desumanização da sociedade e a situação quase invariável de o dinheiro ser considerado o valor mais alto arrepiam-me. Depois, lá vêm as estatísticas a informarem-nos que é de 1,4 o número médio de filhos das mulheres portuguesas (bem longe dos 2,1 que asseguram a renovação das gerações). São números secos. Os problemas pessoais de cada um ficam encobertos, totalmente ignorados. O que as notícias reportam são os lucros bancários obtidos ao fim do ano e os dividendos a distribuir pelos accionistas.
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