5/24/2006

A fuga de cérebros

Em termos de desenvolvimento a vários níveis da sociedade portuguesa, um dos aspectos que me preocupam como indicador negativo é o facto de, segundo números oficiais, o nosso país apresentar uma diferença muito significativa entre os portugueses qualificados que saem para o estrangeiro e os "cérebros" estrangeiros que vêm fixar-se entre nós. Neste parâmetro, Portugal infelizmente enfileira com os piores da União Europeia.
Todos sabemos que, em maior ou menor quantidade, os países do mundo exportam e importam produtos. No que respeita a pessoas (prefiro esta designação convencional à de "capital humano"), quando exportamos muitos dos nossos melhores intelectos para países mais apelativos, como os Estados Unidos e a Inglaterra, estamos a ficar mais pobres. Mostramos que algo vai mal.
O que entristece é verificar que a nação não está preparada para proporcionar condições de trabalho a pessoas que forma nas suas escolas. O número de desempregados com curso superior tem aumentado, o que é um indicador que nada de bom augura. Há, isso sim, cada vez mais estudantes de pós-graduação e investigadores portugueses nos EUA e em estados-membros da União Europeia. Esses cérebros não tencionam voltar tão cedo porque não encontram aqui grandes oportunidades de regresso. A economia portuguesa e, no geral, os sectores público e privado, não se mostram aptos a acolher de volta os que se estão a especializar lá fora. Entroncamos no clássico problema da produtividade, que é afinal o que determina o nosso nível de vida.
No geral, é sabido que pessoas com melhores aptidões geram crescimento económico ao criarem novos empregos ou ao melhorarem a execução de tarefas clássicas. O problema é que, quando falamos no mundo menos desenvolvido, essas pessoas com melhores aptidões precisam, para serem bem sucedidas, de um ambiente que inclua, em razoável proporção, esse mesmo tipo de aptidões. Wheelan, num livro ainda não traduzido para português, ilustra o facto com o caso de um cirurgião altamente especializado que só pode ser bem sucedido se no local onde estiver existirem hospitais bem equipados, enfermeiros com boa formação, empresas que abasteçam o mercado de medicamentos necessários e uma população com dinheiro suficiente para pagar as operações. Caso estes pressupostos não se verifiquem, os especialistas reconhecem que os seus talentos são mais valorizados noutro país do mundo onde exista uma maior proporção de especialistas como eles. Desta situação resulta a fuga de cérebros, que em inglês recebe desde há muito a designação de "brain drain".
É mais um caso de rios que correm para o mar, o qual já tanta água tem. Nós perdemos a nossa melhor seiva, todos os dinheiros públicos investidos na sua educação, enquanto outros países mais avançados vão recebê-los de mão beijada. São nacionais que vão involuntariamente contribuir para que aumente o fosso entre o país em que se instalam e o seu, que neste caso é também o nosso.

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