(Nem sempre crítica, nem sempre política) Embora admita que não se trata de nada de novo, constato com relativa admiração o sucesso das revistas ligadas a telenovelas. Fiz algumas perguntas simples sobre a sua venda na papelaria onde quase diariamente compro o jornal e em dois quiosques conhecidos. Anotei igualmente a sua leitura em vários locais públicos. Os compradores dessas revistas são quase invariavelmente mulheres, ao que me informaram.
O que contêm as revistas? Fundamentalmente, antecipam episódios que os ecrãs apresentarão nas semanas seguintes. Contam como tudo vai ser. Narram as atribulações de A e B, os amores desavindos, as traições e as reconciliações entre os elementos da trama ficcionada que decorre ao longo de meses na televisão. Não sou normalmente visionador de telenovelas, mas custava-me a princípio admitir que houvesse pessoas interessadas em preferir apenas motion a emotion (desculpem-me o inglês, mas em português o jogo de palavras não dá). Quando vejo um desafio de um desporto que me interesse, algo fundamental para mim é manter a expectativa quanto ao resultado final. Pessoalmente, nunca veria um jogo cujo resultado final já fosse do meu conhecimento. Exactamente da mesma maneira que nunca leria um romance policial se de antemão soubesse o nome do criminoso. Então, por que motivo haverá interesse por parte de tantas pessoas em conhecer antecipadamente o que vai acontecer?
Uma das senhoras a quem coloquei a questão explicou-me, com toda a sinceridade, que não gosta de sofrer frente ao ecrã. "Se já estiver preparada, posso sofrer, mas é pouco. Vejo com interesse, porque ver é sempre diferente de ler, mas já sei o que se vai passar. Isso entretém-me e dá-me prazer." Então, insisti, é por isso que compra as revistas? "Não só", explicou-me. "Quando me reúno com amigas minhas no café ou noutro sítio do género, gostamos de falar no assunto. Se uma já sabe mais do que as outras, aparece como a mais conhecedora e isso dá-lhe uma posição que as outras também não desdenhariam ocupar. Todas entendemos isso, embora não o confessemos abertamente. Por isso, procuro estar informada também. Depois, trocamos algumas das revistas entre nós e mais tarde falamos sobre as personagens. Sempre é melhor falar sobre personagens de ficção do que sobre pessoas que todas nós conhecemos. Assim, não se pode dizer que estamos na má-língua."
A verdade é que muitas dessas pessoas, por vezes já com alguma idade, gostam de acompanhar as telenovelas nos seus rotineiros dias. A sua capacidade de emoção, talvez como auto-defesa, já não é tão grande devido à idade. Já não aceitam desafios com o mesmo à-vontade dos jovens. As revistas acabam por ajudá-las.
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