Hoje ao serão tive oportunidade de dar uma vista de olhos no Público e no último número da Newsweek. Houve dois artigos, um no jornal e o outro na revista, que me chamaram a atenção. Se não se importam, partilho um pouco dessa leitura convosco.
No artigo do Público, intitulado "Portugal de cócoras" e assinado por Santana Castilho, li o seguinte, mais ou menos no início: "Os dirigentes da Europa reuniram-se em Lisboa, em Março de 2000, e definiram vários objectivos a serem atingidos pela Estratégia de Lisboa em 2010, visando tornar a Europa na realidade económica mais competitiva do mundo. A educação e a formação ocupavam boa parte dos propósitos. Chegados ao momento da verdade, 2010 está aí, tudo falhado. Desolador! Palavras, propósitos atrás de propósitos incumpridos."
Por sua vez, o director da Newsweek titulou o seu artigo "As raízes da estabilidade". Começa assim: "Há um ano, parecia que o mundo ia desabar. O sistema financeiro mundial, que tinha sido o motor da grande expansão do capitalismo e do comércio, desmoronava-se. O modelo americano parecia não fazer sentido, e as certezas da era da globalização – as virtudes do mercado livre, do comércio e das novas tecnologias – estavam na mira dos cépticos. Os mercados emergentes que tinham anteriormente patenteado grande saúde estavam em queda, o comércio registava os níveis mais baixos desde a década de 30 do século passado, enquanto os analistas começavam a falar de instabilidade política e de violência nas zonas do globo mais atingidas pela crise. Em todo o mundo existia apenas uma firme certeza: nada voltaria a ser como dantes. Ora, um ano depois, contamos com dois bancos a menos na Wall Street (três, se incluirmos o Merril Lynch), e houve alguns bancos regionais falidos. Mas, à parte isso, o mundo parece estar muito na mesma. Garantidamente, não está na situação em que se encontrava nos mencionados anos 30."
O que notamos à primeira vista? Duas formas de comparar o presente com o passado. Só que, enquanto o articulista português se serve da ambiciosa Estratégia de Lisboa do ano 2000 para depois, eu diria "triunfalmente", desaguar no actual panorama "desolador", o americano faz a sua comparação entre as negras perspectivas do ano passado e a situação actual que, afinal, como afirma, não é tão má assim. Quem ler o artigo português assiste ao desancar dos governantes e das suas promessas não cumpridas, concluindo com o "Portugal de cócoras". O leitor do artigo americano alegra-se com o facto de as raízes da estabilidade não terem sido tão sacudidas como a princípio se julgava.
São duas perspectivas bem diferentes de escrever e de olhar o mundo. Numa delas, atiram-se farpas e nada se constrói. Na outra, recorda-se que a maioria das nuvens negras tem uma orla prateada que nos dá esperança.
Longe de mim dizer que todos os artigos portugueses são desancadores e auto-flageladores e que todos os americanos são optimistas. Mas que uns e outros para aí apontam não tenho a mínima dúvida, embora não possua números que me permitam fundamentar a opinião.
Será que os meus amigos, com quem partilho esta leitura, concordam? E quais são os resultados dessa diferença de atitude em termos de satisfação e de produtividade?
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