12/14/2009

Felicitando o Metro



Sempre gostei do Metro de Lisboa. Depois daquela arrancada já há 50 anos, em que os comboios eram confortáveis e as estações foram decoradas com azulejos geométricos na sua maioria por Maria Keil, veio a fase de expansão e re-decoração de algumas das estações antigas. Passámos a contar com um Metropolitano excepcional. Os anos 90, com a construção da estação da Alameda e depois a linha vermelha até à EXPO’98, hoje Parque das Nações, terão sido o período mais brilhante. Artistas de todo o mundo embelezaram com a sua arte, geralmente através da azulejaria, as novas estações. Entre estas, sobressaem – a escolha é difícil - as do Campo Pequeno, do Parque, Olaias, Oriente, Bela Vista, mas também as da Cidade Universitária, o Campo Grande, Jardim Zoológico, a de Entrecampos com o belo trabalho de Bartolomeu Cid dos Santos, etc. Se na minha listagem me esqueci de alguma mais significativa, creio que me redimo ao dizer que gosto praticamente de todas elas.
Por outro lado, sou há muito um felizardo por morar junto à Alameda Afonso Henriques. Agora ainda mais no que diz respeito a transportes. No final do Verão passado abriu um troço pequeno mas extremamente útil. Parabéns ao Metropolitano de Lisboa por ter avançado com obras que foram morosas, dispendiosas e certamente difíceis. O pequeno troço a que me refiro não criou propriamente nenhuma nova estação, mas ligou três delas que passaram a ser vitais. E, felizmente, muito concorridas – por serem utilíssimas. O número de carruagens aumentou para o máximo, i.e. todas as vastas gares são ocupadas. O conforto no interior das carruagens não diminuiu e as vantagens são notórias.
Contudo, e esta é a razão principal que me levou a deixar aqui umas linhas, muito pouca gente veio elogiar esse facto. Que eu tivesse visto ou ouvido, ninguém gabou a obra. Porquê? Talvez porque aparentemente só se fala do que está mal. Quando se termina uma coisa bem feita, é como se nada tivesse ocorrido. Ignora-se. É uma situação que me lembra aquilo que sucede quando somos miúdos e nos esforçamos por agradar aos adultos, e depois estes apenas nos dizem "Não fizeste mais do que a tua obrigação!". É por estas e por outras que, com justeza, os homens do marketing nos informam que uma acção de melhoria da imagem das empresas ou instituições tem, em regra, um efeito multiplicador de 3. Por seu lado, uma notícia negativa sofre um efeito multiplicador de 11!
Para nos darmos conta da melhoria introduzida por este troço que subterraneamente atravessa o edifício do Instituto Superior Técnico, o Arco Cego, a Avenida da República, a Avenida Duque de Ávila e chega a S. Sebastião da Pedreira, consideremos o caso de uma pessoa que, durante anos, utilizou o Metro para ir da Praça de Espanha para a Alameda. Como a Praça de Espanha fica na linha azul e a Alameda na linha verde, a pessoa em questão fazia o percurso até à Baixa-Chiado, onde tomava então um comboio da linha verde. Ao todo, passava 12 estações. Presentemente, essa mesma pessoa, faz uma estação até S. Sebastião, e aí muda para a Alameda. Em vez das doze estações anteriores, passa apenas três! Do esquema antigo para o actual vai, em matéria de tempo e de comodidade, uma distância muito razoável. Pois disto não se fala!
Este novo troço intercepta em pontos centrais a linha azul, a amarela e a verde. Como esta liga com a linha vermelha, a solução foi notável. Não aumentou a velocidade dos comboios, mas proporcionalmente e ressalvadas as devidas diferenças, os ganhos foram incomparavelmente maiores do que os prometidos pelo muito badalado TGV. No entanto, repito, sobre esta inovação os media não expressaram qualquer regozijo. Embora se saiba que cada um vê a realidade com os seus próprios olhos, sente-se que a generalidade dos portugueses está mais virada para agredir com palavras do que para se congratular pelas obras realizadas. Pessoalmente, sinto que existe uma necessidade urgente de o país mudar de agulha na sua formatação mental e tornar-se mais positivo. Ficará, sem dúvida, menos azedo e mais feliz.
Os metropolitanos de Londres, Paris e Madrid possuem uma rede bem maior do que a do Metro de Lisboa. Mas não os queiram comparar em termos de beleza, conforto e modernidade com o nosso. Seria bom que se reconhecesse isso.

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