12/02/2009

O nobelizado Obama


De Deus para diabo ou, como se costuma dizer em Portugal relativamente ao futebol, de bestial para besta - nada disto se passa com Obama. Mas dizer que ele está, na presidência dos EUA, a ter o mesmo sucesso que teve como candidato será uma enorme mentira.
No seu próprio país, onde pretende encetar algumas das reformas que fazem parte do seu programa, entende-se, de certo modo, que haja reacção, por vezes forte e acalorada. As reformas agradam quase sempre à maioria, mas geralmente desagradam a uma minoria que se encontrava feliz no seu statu quo. A guerra no Médio Oriente e a questão da saúde são os casos mais importantes. Mas o pior é que os seus opositores aproveitam tudo para o deitar abaixo: fez uma vénia demasiado respeitosa ao imperador japonês; tem gasto pouco do seu tempo com o problema mais agudo do país: o desemprego; regressou da Ásia de mãos a abanar no que respeita a vitórias diplomáticas; não obteve nenhum sinal de respeito por parte dos israelitas; consentiu que os alegados conspiradores do 11 de Setembro de 2001 fossem julgados em tribunal penal e não pelos militares; tem hesitado muito relativamente ao Afeganistão; etc. etc.
Pessoalmente, o que mais me custa em Obama é vê-lo, afinal, a seguir não só a mesma política de Bush relativamente ao Médio Oriente como a usar a mesmíssima argumentação. Que é falsa. Veja-se: We did not ask for this fight. On September 11, 2001, 19 men hijacked four airplanes and used them to murder nearly 3,000 people... Just days after 9/11, Congress authorised the use of force against al-Qaeda and those who harboured them - an authorisation that continues to this day... Estas foram as palavras que ele utilizou. Toda a gente sabe, oito anos passados desde o 11 de Setembro, que já existia toda uma estratégia delineada pelos Estados Unidos relativamente ao Iraque e ao resto. Quanto ao Iraque, foi impressionante, por exemplo, ver como tudo o que dizia respeito ao assalto ao Museu Nacional de Bagdad estava cuidadosamente preparado. O 11 de Setembro que, aliás, continua com alguns enigmas por esclarecer, constituiu o gatilho de que Bush necessitava para desencadear mais uma acção bélica americana. Considerar a destruição das Torres Gémeas do World Trade Center como um ataque ao país (!) foi a decisão imediata dos EUA, para que os seus aliados da NATO pudessem colaborar com eles na aventura do Médio Oriente. Quando houve o atentado de Atocha em Madrid, ninguém falou de ataque de uma potência estrangeira a Espanha. Em Londres, aquando do ataque terrorista no Metro, ninguém se lembrou de pedir o auxílio de países da NATO, como é óbvio.
Ora, o facto de Obama usar os mesmos argumentos é decepcionante. Para muitos americanos, também, que estão fartos de guerra e vêem agora que 30 mil militares irão reforçar as forças que se encontram no Afeganistão a desilusão é grande. É que tudo isso acarreta despesas brutais, num país que está a braços com uma grave crise de desemprego e tem seriíssimos problemas de défice público. É evidente que uma medida como esta nunca poderia ser bem recebida. "Fazer a guerra para alcançar a paz" é o argumento favorito dos falcões. Não foi como tal que Obama foi eleito. E então como Prémio Nobel da Paz...

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