A propósito de algumas conclusões divulgadas num recente estudo sobre «Relações sexuais forçadas em estudantes universitários», João Pereira Coutinho desanca, no último «Expresso», a ingenuidade dos protagonistas – sexólogos responsáveis e «donzelas» inquiridas. Destas, cerca de um quarto revelam-se incapazes de processar as consequências de um mau domínio das regras básicas do «velho engate», acordando «na cama errada» por terem escorregado nas «palavras certas» e descartado «o mais eficaz contraceptivo oral – a palavrinha NÃO». Concordo em grande parte com a admoestação (ou não fosse ela tipicamente lupina!), mas entendo que o seu merecido alvo serão os sexólogos, não tanto as «donzelas» que candidamente deram testemunho – quiçá manipulado – das suas vicissitudes de capuchinhos debutantes, ainda muito verdes... O tempo brindá-las-á decerto com a dureza indispensável nestas lides e tudo acabará em bem, mesmo que mal. Os «eminentes» sexólogos, em contrapartida, parecem ignorar, talvez por excesso de correcção política, que a coacção, quando filtrada pelo consentimento, não merece castigo, merece apenas, como em qualquer jogo (inofensivo ou perigoso), ganhar e perder.
Sucede porém – e nisto me distancio de J.P.C. – que a lei deste jogo, embora escrita na selva, é suficientemente democrática para favorecer, em muitas situações, a presa. Esta, quando maior e vacinada, é geralmente mais rápida do que o predador e por isso gosta de jogar para ganhar (não necessariamente para casar). Ora a pulsão «predatória» da presa é quase sempre incompatível com o recurso à taxativa, assertiva – enfim, MASCULINA – «palavrinha NÃO». Toda a presa que se preze pratica com desvelo a arte da fuga e, para tal, não pode dar-se ao luxo de ser franca com o predador. Este, aliás, se tiver fair play, consente a duplicidade ouvindo tacitamente – e sem ressentimentos – o NÃO que ela calou mas quis dizer. O pERdador ressentido, por outro lado, tende a compensar com a força bruta o défice de poder, insultando, espancando, molestando, violando...
É claro que o genuíno lobo, apesar da sua reputação sinistra, não entra em filmes de terror: ele é o talismã da allumeuse.
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