4/03/2004

Meia via

Não nos surpreende que exista luta pela sobrevivência no mundo animal, com os mais fortes a perseguirem e devorarem os mais fracos sempre que o conseguem fazer. Ninguém se admira, por exemplo, que o papa-formigas coma formigas -- como que para justificar o seu nome --, nem que o leão se lance sobre um veado ou uma pacaça para arranjar alimento. É a lei da selva, do instinto natural.
Ao homem, animal também mas possuidor de razão superior e portanto apodado de racional, não se admitirá em princípio comportamento semelhante. Mas o que acaba por se observar num razoável número de sociedades é apenas uma sofisticada encenação da mesma hegemonia dos mais poderosos sobre os mais débeis. A exploração e, frequentemente, a exclusão social a que estes últimos são votados é prova evidente de que o sistema de leis criado para combater o instinto básico e assim civilizar o homem continua a funcionar como uma mera teia de aranha que deixa passar os passarões e apenas capta os pequenos insectos.
É uma situação que me leva tendencialmente a concordar com uma velha reflexão de Nietzsche, segundo a qual a grande tragédia do homem é ter já deixado a idade do instinto e não ter chegado ainda à idade da razão.

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