9/11/2006

De Guimarães a Tavira

Antigamente, quando se queria abarcar todo o Portugal, a frase-chave que englobava o império ultramarino era "do Minho a Timor". Mais reduzidos geograficamente, dizemos hoje "do Minho ao Algarve". O título acima acaba por dar esta mesma ideia. Refere-se concretamente a dois acontecimentos com idêntico ponto fulcral: os atestados médicos e a sua veracidade.
Quando se atesta outra coisa que não o depósito de gasolina de um carro, confirma-se que algo, geralmente escrito, é verdadeiro. De outra forma, por que razão se haveria de assinar (firmar) por baixo?
Ora, entre a pouca vergonha que foi há uns anos a chusma de atestados médicos que permitiriam, na zona de Guimarães, beneficiar estudantes na sua entrada para o ensino superior, e a razão que levou há poucos dias o Presidente da Câmara de Tavira a insurgir-se publicamente contra casos de atestados que dão toda a ideia de serem meros expedientes para isentar do trabalho diversos funcionários, não existe uma diferença substantiva. É a mesma desonestidade dos beneficiários e, digamo-lo eufemisticamente, a mesma distracção de quem assina os atestados. A Ordem dos Médicos pode dizer que os médicos não são polícias, e de facto não o são, mas como cidadãos deveriam andar menos distraídos, sob pena de ficarem desacreditados eles próprios.
Entretanto, saliente-se pela sua frontalidade Macário Correia, o autarca de Tavira acima referido. Segundo a imprensa, Macário afirmou que o que tem acontecido com os funcionários da autarquia e também dos CTT de Tavira ultrapassa tudo o que é razoável e de bom senso ético. Como presidente da Junta Metropolitana do Algarve, insistiu que "a fraudulência instalada é algo com que não se pode pactuar de braços cruzados". Exigiu averiguações e punições adequadas para os prevaricadores. Mostrou, mais uma vez, que não é gago ao dizer que "Não podem uns trabalhar honestamente e outros ganhar o mesmo, nada fazendo, não tendo qualquer doença, apenas usando o expediente de pedir papéis a médicos para com isso gozarem e rirem de quem trabalha."
Como sempre sucede quando há casos graves e importantes, eles envolvem pessoas e o seu comportamento. É, afinal, um conjunto de coisas que confirma que Hobbes foi bem mais realista e certeiro do que Rousseau.

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