9/08/2006

Incêndios


Quando se fala de incêndios florestais em Portugal, lembro-me frequentemente da história-puzzle de um indivíduo que está numa ilha totalmente coberta de vegetação. A ilha tem escarpas a pique, que apenas dão acesso ao mar num determinado ponto. Declara-se entretanto um grande incêndio no extremo da ilha onde se encontra a zona de acesso ao mar. O fogo foi inadvertidamente causado por um avião. O vento, que sopra sempre na mesma direcção, açoita o fogo e fá-lo progredir para o outro extremo da ilha. Como é que o homem se pode salvar? (De facto, o homem tem uma salvação: pega num ramo de árvore e com ele corre o mais depressa que pode para lançar fogo ao outro extremo da ilha, que, obviamente, começa a arder. O homem aguarda, do lado de cá do fogo, que aquele, atiçado pelo vento, queime toda a vegetação que lá se encontra. Depois, quando mais tarde chega junto a ele o incêndio inicial, já não existe nada para arder e portanto o fogo não alastra àquela parte. É lá que o homem fica à espera que um avião o venha salvar. Dado que algo que já ardeu não volta a arder, o homem tomou a decisão acertada.)
Até 31 de Agosto tinham sido consumidos pelo fogo cerca de 58.000 hectares de floresta, cerca de um quinto da área ardida no mesmo período em 2005. Convenhamos que não é caso para grande admiração, se considerarmos toda a imensidão de matas que arderam o ano passado! Possivelmente, até convirá aos senhores dos incêndios que não arda mais do que 20 a 25 por cento daquilo que foi devastado pelo fogo em 2005. Tem que se racionar esta madeira, um pouco à maneira dos sobreiros de um montado, que não são todos "descascados" no mesmo ano (o proprietário passaria depois nove anos à míngua, sem qualquer rendimento vindo da cortiça). Em Portugal, ainda vai havendo algumas manchas de pinhal para arder, mas devemos ser cerimoniosos na sua devastação pelo fogo. Quanto às plantações de eucaliptos, essas são sagradas. E, confessemos, algumas são ainda tão bebés no local de antigos pinhais, que seria um infanticídio largar-lhes fogo.
Em 2007 haverá mais áreas ardidas, sabiamente localizadas. Se for à semelhança deste ano, haverá também fogos a declararem-se à noite (coisa mais natural não pode haver!) em mais de um terço dos casos. Entretanto, várias das nossas auto-estradas já estão parcialmente bordejadas de eucaliptos.
Continuamos a pensar nas gerações futuras de uma maneira muito sui generis.

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