1/19/2011

As 7 Partidas do Mundo - Versão Século XXI


No já remoto ano de 1392 nasceu em Portugal o Infante D. Pedro, como quarto filho do casal constituído por D. João I e pela inglesa D. Filipa de Lencastre. Pertenceu à chamada Ínclita Geração, um naipe singular de príncipes que se cotaram sem dúvida como os mais famosos da nossa História. O Infante D. Pedro era irmão de D. Duarte, que foi rei. O seu irmão Henrique, cognominado o Navegador, tornou-se uma das figuras mais conhecidas a nível mundial. Os irmãos D. João e D. Fernando, este último "o mártir de Marrocos", são menos populares. Igualmente pouco conhecida em Portugal foi talvez a sua irmã D. Isabel, que no entanto casou com o homem que na altura era o mais rico da cristandade – o Duque de Borgonha. Isabel tornou-se bem célebre fora de portas como duquesa e mãe do célebre Carlos, o Temerário.
Mas voltemos a D. Pedro. Como ele não era o filho primogénito e tinha recebido uma esmerada educação, ainda antes de casar cumpriu um grande desejo seu: viajar. E pela Europa fora ele viajou, visitando cortes europeias, entre elas naturalmente a da sua irmã Isabel. Viajou durante dez anos, entre 1418 e 1428, portanto entre os seus 26 e 36 anos de idade. Além da Europa, foi à Terra Santa. Na longínqua Hungria foi agraciado pelo Imperador Segismundo com a Ordem de Cavalaria Imperial e Régia do Dragão, uma Ordem que no seu nome em latim se intitulava Draconis Equitas Societas Imperatur et Regis. Das iniciais deste longo título latino retirou o Infante D. Pedro o lema que escolheu para a sua vida: Desir. Desejo de conhecer, de ver mais, de viajar.
Porque conheceu tantas terras que para a maioria das pessoas não passavam então de meros nomes no mapa, Pedro foi apodado de O Infante das Sete Partidas do Mundo. Terá sido um bocadinho de exagero, mas a verdade é que Pedro estava no caminho certo: sempre incentivou o seu mano Henrique a alargar os horizontes e a descobrir mais terras. Com o achamento de mais lugares até então desconhecidos haveria de nascer, já depois da morte dos dois infantes, a primeira globalização que o mundo conheceu. Os portugueses dobraram o cabo que ficava mais a sul de África, chegaram às Índias e, mais longe ainda, à Austrália e ao Japão, além do Brasil nas Américas. Afinal, as Sete Partidas do Mundo estavam na calha.
Estamos presentemente em 2011, quase 600 anos depois das viagens do Infante D. Pedro. Curiosamente, encontramo-nos a viver mais um período de globalização, nascida desta vez sob a égide das comunicações e das grandes empresas multinacionais. Vemos de novo os portugueses a embarcar resolutamente neste movimento, mas de forma bem diferente daquela que os barcos de Gama e Cabral e de tantos outros ajudaram a construir. Actualmente, em lugar das inúmeras trocas comerciais desse tempo, as quais fizeram alguns maliciosos historiadores denominar os nossos camoneanos Lusíadas de "a Bíblia do Comércio", pratica-se uma outra modalidade: faz-se a globalização... da dívida pública.
Há já longos anos que os governos deste país meteram pés a caminho, a percorrer as Sete Partidas para conseguir mais fundos de empréstimo. A primeira partida, muito significativa, foi à Alemanha. A França veio a seguir. Bruxelas, depois. Muito mais recentemente, o Brasil e a China. E nesta altura há outra partida, situada no mundo conhecido dos comerciantes portugueses de outrora, que se perfila no horizonte: o Qatar.
Chegado aqui, o leitor atento constatará que o total dá apenas seis partidas e não sete. Tem razão. A sétima partida existe, porém. É aquela que é pregada a todos nós, aos nossos filhos e aos nossos netos, que vão arcar durante anos e anos com a pesada herança desta nova, mas não menos original globalização à portuguesa. Os nossos governantes sempre mostraram grande criatividade.

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