2/19/2011

Leonor da Fonseca Pimentel


Confesso que só ouvi falar neste nome há pouco tempo. Mas a história desta vida é tão rica, interessante e dramática, que me apeteceu partilhá-la convosco.


Leonor da Fonseca Pimentel nasceu em Roma a 13 de Janeiro de 1752, não longe da Piazza del Popolo. A atestá-lo, uma lápide de travertino na fachada do prédio onde nasceu, um palácio burguês do séc. XVII situado no nº 22 da Via Ripetta. Ficou para a História como A Portuguesa de Nápoles.

Filha de uma família aristocrática portuguesa proveniente da cidade de Beja, viveu em Roma até 1760, altura em que, por imposição do Marquês de Pombal, os cidadãos portugueses tiveram que abandonar o Estado Pontifício (a expulsão dos jesuítas de Portugal teve como consequência imediata o corte de relações entre Lisboa e Roma). Assim, a família Fonseca Pimentel deixou Roma e embarcou com a filha de oito anos para Nápoles, onde fixou residência.

Intelectualmente precoce e muito inteligente, a menina foi educada no ambiente requintado das letras e das artes. Foi jornalista, escritora, poetisa, pedagoga, bióloga. Enquanto poetisa, dedicou um dos seus poemas a D. Leonor de Almeida Portugal, Marquesa de Alorna (1750-1839), por quem tinha grande admiração.

Inspirada pelos ideiais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade da Revolução Francesa, ficou na história de Itália por ter participado activamente na implantação da efémera República de Nápoles contra o domínio espanhol dos Bourbons.

Quando Fernando VI, rei de Espanha (e marido da portuguesa D. Maria Bárbara de Bragança) morre, em 1759, o seu irmão Carlos VII, rei de Nápoles, é chamado a Madrid para o substituir no trono de Espanha. O reino de Nápoles passa para o seu filho Fernando IV, então ainda menor. Após 1777, e sob influência da mulher, Maria Carolina de Áustria, irmã de Maria Antonieta e feroz adversária da Revolução Francesa, o reino cai num despotismo sombrio e acaba por entrar em guerra com a França. Os franceses retaliam e em Janeiro de 1799 tomam Nápoles, tiram o poder aos Bourbons e é criada a República Napolitana.

Mulher corajosa e revolucionária, incansável defensora dos pobres e das liberdades cívicas, sonhando com um país baseado na responsabilidade partilhada e numa mais justa distribuição da riqueza, Leonor toma parte activa na criação da República Napolitana. Funda o que viria a ser o jornal oficial da República Napolitana, considerado o primeiro jornal político de Nápoles, com profunda influência nas decisões do governo revolucionário.

Escassos meses depois (Julho de 1799), os Bourbons restabelecem a sua autoridade em Nápoles, põem fim à malograda República e perseguem ferozmente os liberais.

Acusada de crime contra o Estado, Leonor Pimentel é enforcada na Praça do Mercado de Nápoles a 20 de Agosto de 1799. Despede-se no cadafalso citando Virgílio: "Forsan et haec olim menimisse juvabit" ( talvez um dia seja bom recordarmos tudo isto).

A lápide do prédio nº 22 da via Ripetta informa quem por lá passa que ali nasceu uma mártir da Liberdade.

Acerca da vida de Leonor da Fonseca Pimentel, que se considerava portuguesa, cultivava a língua e a cultura portuguesas, têm sido feitos livros, filmes, conferências, colóquios, etc. Em Itália ela continua a ser a portuguesa de Nápoles. Em Portugal, creio que poucos ouviram falar dela. Por isso mesmo, «talvez um dia seja bom recordarmos tudo isto»....






Sem comentários:

Enviar um comentário