2/03/2011

Dizendo bem


Há uns dois anos, como leitor diário do jornal Público, fui agradavelmente surpreendido por uma curtas crónicas a duas colunas, publicadas salvo erro às terças-feiras. O nome do seu autor era meu conhecido mas como tradutor, nomeadamente de uma colectânea de ensaios de George Orwell. Trata-se de Desidério Murcho. As crónicas no Público eram brilhantes e revelavam uma admirável liberdade de pensamento. Versavam filosofia, mas não aquela filosofia que me impingiram a mim e a tantos outros e que não passava de história da filosofia, i.e. saber como certos filósofos tinham solucionado para si próprios determinados problemas. Ora, de problemas resolvidos estamos nós mais ou menos conversados. Como novas questões estão sempre a surgir, o que nos interessa verdadeiramente é saber minimanente pensar.
A Fundação Francisco Manuel dos Santos, que em boa hora foi criada e posta sob a direcção do António Barreto, acaba de lançar mais um livrinho dos seus "Ensaios da Fundação". Digo "livrinho" porque as publicações têm um número reduzido de páginas – entre 100 e 120 - e são perfeitamente acessíveis no preço: €3.15. É nesta linha que me permito recomendar Filosofia em Directo, do mencionado Desidério Murcho, que tem 45 anos e é presentemente Professor na Universidade Federal de Ouro Preto, no Brasil.
Para se ter uma ideia mais concreta do conteúdo, cito algumas das matérias abordadas – Democracia, Liberdade, Autonomia, Valor, Realidade, Raciocínio, Verdade – e transcrevo o primeiro parágrafo do Prefácio:
"Ter uma formação elementar em matemática, economia, física e história, assim como nas artes e história das religiões, é importante para o ser humano informado e autónomo. Mas uma formação em filosofia não o é menos. Não porque sem a filosofia seria as trevas e o caos, o que é historicamente falso, nem porque em filosofia se cultive uma apreciação dos pensadores do passado, porque isso é crer que fazer filosofia é o mesmo que apreciar a filosofia já feita. Ter uma formação elementar em filosofia é importante porque nos ensina a pensar melhor sobre problemas de tal modo complexos que a tentação é desistir de tentar resolvê-los. Quem tiver não apenas plena consciência de que muitos seres humanos não desistem de pensar quando os problemas são muito complexos, mas tiver também uma ideia precisa, ainda que elementar, de como se pensa sobre eses problemas, terá ganho, se não autonomia intelectual, pelo menos a possibilidade de a obter."

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