Depois de um longo silêncio neste blogue, basicamente motivado por problemas técnicos do computador e de muito menor acessibilidade à Internet devido às férias de Agosto, eis que uma familiar minha que me é muito querida me diz que tem vindo frequentemente aqui e ficado desiludida por não encontrar nenhum texto, por pequeno que seja. Em vez de me meter de novo em questões duras e angustiantes como as da situação nacional e internacional, pareceu-me mais interessante narrar aqui dois episódios ligeiros e muito recentes. Ambos passados com netos meus, mas que são cenas de uma qualquer criança.
Foram momentos breves mas curiosos. Num dos casos, ele, sete anos quase a chegar aos oito, tinha passado uma semana boa connosco na “casa da praia”. Tinha estado com conhecidos do ano passado, fizera novos amigos e amigas, jogara à bola, lera aventuras do Tintim – uma possibilidade recentemente adquirida –, jogara na PlayStation, dançara em frente ao televisor que reproduzia o seu DVD do Michael Jackson, enfim tinha vivido uma semana muito razoável. Entretanto, uma última amizade com uma mocinha da idade dele tocou-o. Só que ele tinha de se ir embora, o pai vinha buscá-lo. Quando desceu pela última vez à praia, levou consigo um pequeno frasco de vidro, com tampa, que encontrou lá em casa. Para quê? Não disse. Ao voltar da praia, trazia-o meio-cheio de areia. Instado, foi com algum custo que explicou: era uma lembrança que ficava daqueles dias, especialmente da saudade que já sentia pela recém-encontrada amiga, Leonor.
Lembrou-me a história real de muitos judeus cujos chefes de família, ao abandonarem por razões diversas a casa onde tinham vivido há várias gerações levavam consigo uma caixinha com um punhado da terra onde tinham nascido. A saudade. A noção de pertença.
O outro caso passou-se com a minha neta mais nova (pouco mais de um ano de idade). Com o dia bom, o pai tinha-a levado a dar um pequeno passeio pelo parque na sua cadeirinha. De olhos curiosos, ela ia naturalmente prescrutando tudo ao seu redor. Tinha várias coisas que possivelmente via pela primeira vez. A saltitar ali por perto andava um passarito. Muito pequeno ainda, não era impossível que tivesse caído do ninho. Mal sabia voar. Enquanto pulava de um lado para o outro, a certa altura ele, com um salto maior, pousou no braço do carrinho onde a menina estava. Ao vê-lo assim a seu lado, ela instintivamente apanhou-o. Ficou com ele dentro da sua pequena mão, a sentir umas asinhas a tentarem mexer-se sem poder. Atrapalhada, não percebia a cena. Era um mundo novo para ela, uma experiência pioneira. O pai abriu-lhe a mão e rapidamente o passarito se afastou para longe dali. Creio que também para ele a experiência tenha sido inovadora. Afinal, eram dois seres pequenos a entrarem no mundo.
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