12/26/2010

Mandamentos




Após uma quadra essencialmente religiosa como é a do Natal, a que se junta a humana comunidade das famílias, pareceu-me interessante esta brevíssima reflexão:

Os Mandamentos da Lei de Deus são essencialmente um código de regras destinado a servir de guião espiritual para a conduta do homem. No mundo católico ocidental onde eles vigoram, os mandamentos, produto de cabeças pensantes que mostraram conhecer razoavelmente bem a natureza humana, são tratados como referência para a perfeição - sendo esta de antemão considerada inatingível, a não ser por alguns seres humanos altamente privilegiados e excepcionais, a quem a Igreja posteriormente designará como "santos".
Este decálogo de referência é notável sob muitos aspectos. Platónico na sua essência - mostrando o ideal, de que apenas nos aproximaremos ou afastaremos consoante os nossos actos e pensamentos - ele pode tornar-se num livro de contabilidade terrestre, com o nosso activo e passivo, com todo o deve e o haver. A grandeza do saldo é a indicação final da nossa conduta. Desse balanço resultará a decisão do Grande Juiz, que considerará o homem dentro do campo da excelência (céu), dentro da órbita do défice (inferno) ou num meio-termo sem contornos nítidos (purgatório).
Os Mandamentos valem muito como tratado de psicologia humana. Embora nunca se refiram ao homem como ser isolado - pelo menos Deus estará sempre presente - debruçam-se tanto sobre o pensamento e o sentir, que são porventura mais individuais, como sobre os actos, que afectam mais a sociedade. Entre um "amarás a Deus acima de todas as coisas" e um "não matarás" ou "não cometerás adultério" vai uma distância considerável; os dois últimos incidem claramente sobre o comportamento eventualmente pecaminoso do homem na sociedade.
Sob este aspecto, os Mandamentos podem proporcionar um óptimo ponto de partida para reflexões sobre a natureza humana. Quiçá a determinação mais difícil de atingir é a do "amarás o próximo como a ti mesmo". De facto, o homem, como ser, precisa de uma identificação. Não é apenas um nome diferente que o torna mais diverso dos seus semelhantes, ou ainda um bilhete de identidade. O homem aprende a conhecer-se em confronto com os outros que o rodeiam.

Sem comentários:

Enviar um comentário