10/06/2011

Paraísos fiscais & Cª Ilimitada

Traduzo livremente do último número da revista TIME a introdução a um artigo intitulado Why America must revive its middle class:

"A América foi outrora a grande sociedade da classe média. Presentemente, está dividida entre ricos e pobres e conta com a maior desigualdade entre os países democráticos mais desenvolvidos. Um por cento das suas famílias mais ricas são detentoras de quase um quarto do rendimento de todas as famílias americanas – uma percentagem que não se via nos Estados Unidos desde a Grande Depressão de 1929. Uma economia assim tão desequilibrada não pode prosperar. Os pobres e as classes trabalhadoras estão esmagados. Os ricos estão cada vez mais desprendidos dos problemas do país. As suas empresas vendem produtos e externalizam empregos na China; as suas residências erguem-se atrás de muros altos; muitos dos seus lucros empresariais ficam domiciliados em paraísos fiscais."

O autor, Jeffrey D. Sachs, autor de um livro recente intitulado The Price of Civilization, é director do Instituto da Terra da Universidade de Colúmbia e conselheiro especial do Secretário-Geral das Nações Unidas.

Nada há de verdadeiramente novo nesta análise feita por J. D. Sachs, mas tenho de considerá-la uma síntese muito conseguida. A globalização, a deslocalização dos empregos para países asiáticos e a retenção de grande parte dos lucros em offshores tinham necessariamente de causar desemprego no Ocidente e consequente empobrecimento das populações. Refira-se que foi em 1973 que os salários médios americanos atingiram o seu nível mais elevado. Daí para cá têm vindo gradualmente a baixar, embora os vencimentos dos CEOs das grandes empresas, eles que trataram dos despedimentos, tenham aumentado muito. E quanto à colecta de impostos pelo Estado norte-americano, ninguém estranhará que ela tenha diminuído. Os paraísos fiscais, esses centros que são verdadeiros cancros da democracia, fizeram, entre outras coisas, com que presentemente o rácio colecta fiscal dos EUA / Produto Interno Bruto se situe muito abaixo do da Dinamarca, da Itália, Bélgica, Finlândia, Áustria, França, Noruega, Alemanha, etc. e mais sete países, entre eles a Espanha e a Irlanda. O clássico ideal americano de "rico e virtuoso" anda pelas ruas da amargura.

Neste brevíssimo apontamento, não posso deixar de mencionar aqui no blog o recentíssimo lançamento do livro Suite 605, da autoria de João Pedro Martins. É uma obra de investigação sobre o offshore da Madeira, mas vai muito além da análise daquilo que se passa nessa parcela do território nacional. A não perder por quem se interessa por este tipo de temas. É muito actual, com múltiplos dados e referências ao ano em que estamos, 2011.

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