12/11/2011

O selo e o euro


Desde miúdo que colecciono selos. É uma coisa que tem graça, embora para muitos pareça simplesmente ridícula. Hoje em dia, admito que a filatelia se alterou bastante com a introdução de novos meios de comunicação, os quais acabaram por substituir o processo convencional. Este é bem conhecido: escreviam-se cartas, que se metiam num envelope. Sobre este colocava-se, e ainda se coloca mas já bastante menos, uma marca que atesta que o respectivo porte está pago (por isso, em alemão “selo” se diz Briefmarke, sendo Brief a palavra para carta).
Esta brevíssima introdução é, no entanto, apenas para despistar, pois aqui o assunto principal não é o dos selos, mas sim o do euro. De facto, digamos que coleccionar selos, como digo acima, até está actualmente um pouco fora de moda.
Fiz uma pequena reprodução de dois selos que aparecem acima. São ambos portugueses, como se pode ver. O primeiro é do período imediatamente posterior à proclamação da República, o segundo é anterior. Poderá estranhar-se ou considerar-se uma verdadeira ironia que um selo com a tarjeta "República" a vermelho acabe por atravessar a efígie do rei D. Manuel II. Então o rei foi para o exílio e é o seu rosto que continua a circular nas cartas que se enviam dentro do país? Que revolução foi essa?
Bem, são as contingências da vida que obrigam a que assim seja. Nos dias e meses que se seguiram à vitoriosa revolução republicana ainda não estava naturalmente impresso qualquer selo emitido pela nova República. Havia que esperar. Existia no entanto uma solução que era simples e expedita e que, vista de outro ângulo, até constituía uma afronta para os monárquicos: verem o rei D. Manuel atravessado pela palavra "República". A solução foi económica e acabou por ser eficaz.
Bem, mas o que tem isto a ver com o euro? Possivelmente, muito. As vicissitudes por que o país está a passar e os problemas internos da União Europeia para solucionar uma crise que, sem margem para dúvidas, afecta a sua moeda circulante, permitem pensar, com algum grau de probabilidade, que alguns países acabem mais tarde ou mais cedo por terem de sair do euro. Como se irá possivelmente processar essa acção? O Jornal de Negócios online avançou muito recentemente com um artigo em que referia os diversos passos que poderiam ocorrer quando e se Portugal saísse do euro. Transcrevo o que me parece ser relevante: "Depois de um anúncio de fronteiras controladas e de levantamentos de dinheiro igualmente controlados, com proibição de movimentos de capitais, quando os bancos reabrirem as notas de euros estarão carimbadas. Dirão que valem por escudos, se assim se chamar a nova moeda. Impede-se desta maneira que o dinheiro físico saia do país, enquanto se produz e e coloca em circulação notas da nova moeda. Concluída a produção dessa nova moeda, os portugueses trocam os "euro-escudos" por "escudos". O Banco de Portugal assume a política monetária e o país pode imprimir notas e moedas sem limitações. A estreia da nova moeda no mercado cambial seria marcada por uma desvalorização de grande dimensão, da ordem dos 50 por cento ou superior."
Como se pode constatar, a solução não é muito diferente daquela que os republicanos de 1910 adoptaram para o uso continuado dos selos da Monarquia. O pior é o resto.

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