5/26/2006

Montenegro


Memórias da minha adolescência trazem-me o eco do nome de Montenegro com ressonâncias exóticas. Local onde nunca fui, lembro-me de ter lá estado como se a região fosse uma ilha, quase desabitada e com a configuração e cor que o seu nome evoca. Fui até lá com os piratas que se reuniam no meu quarto do Bairro de Santa Catarina.
Recentemente, Montenegro apareceu-me na publicidade do Euronews, com a sua wild beauty. E agora, desde domingo, surge como país independente e candidato à União Europeia. Independente da Sérvia, que juntamente com algumas regiões mais, nos habituámos a ver como a terra dos eslavos do sul, a Jugoslávia. Que desapareceu com a morte do Tito, desintegrando-se com fragor. Não foi como a Suiça, que se mantém apesar das suas diferentes línguas. A antiga federação da Jugoslávia era mesmo um caso especial: nela falavam-se quatro idiomas, havia dois alfabetos e praticavam-se três religiões. A convivência fazia-se entre sérvios, macedónios e montenegrinos maioritariamente ortodoxos, católicos croatas e eslovenos, e bósnios e albaneses muçulmanos (desde a invasão otomana).
Há dias li um resumo extraordinariamente bem feito sobre os Balcãs. Fez-me mais uma vez recordar a importância da História. Foi nos Balcãs que passou a linha divisória entre o Império Romano do Ocidente, o de Roma, e o Império do Oriente, o de Constantinopla. Curiosamente, foi também pelos Balcãs que o Império Otomano logrou fazer avanços substanciais na Europa, o que fez com que os turcos chegassem a Viena. Não menos curiosamente, a coisa foi de tal ordem que ainda hoje a Áustria é o país que mais barra a entrada da Turquia na União Europeia.
E eis que, agora, o pequeno Montenegro, que tem no total uma população quantitativamente semelhante à da cidade de Lisboa (620 mil) e há anos vivia em união com a Sérvia, se emancipa. Sozinho não será fácil; se integrado na União Europeia, terá vantagens. Há tempos, em conversa com amigos lituanos, já membros da União Europeia, perguntei-lhes como se sentiam. Extraordinariamente bem, confessaram. Protegidos pela União, deixavam de ter o ancestral receio de serem invadidos pela grande Rússia. Suponho que o mesmo vai suceder a Montenegro. Terá sido com a perspectiva dessa futura união à Europa que os montenegrinos tanto se regozijaram com a sua independência.
(No mapa dos Balcãs acima apresentado, o Montenegro não vem assinalado. Ocupa a parte montanhosa que se inclina para o Adriático, a sul da Sérvia (aqui designada como Iugoslávia), entre a Bósnia-Herzegovina e a Albânia. A superfície total de Montenegro é idêntica à da nossa região de Trás-os-Montes e Alto Douro.)

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