12/09/2003

Continuando na onda dos textos do Fanha e do Peter Pan, sobre a língua portuguesa …

… Também eu , apesar de tentar defender esta nossa língua mátria o melhor que sei e posso, entendo que a língua não pode ser estática, e há novos termos, portugueses ou não, que têm forçosamente que conquistar espaço dentro dela. Até aí, nada a obstar.

Embora entenda a existência de razões como impacte comercial, interesse político, necessidade de “embrulhar em pano novo” ideias velhas, etc, não posso deixar de me surpreender que certas palavras, pura e simplesmente, deixem de ser utilizadas. Por exemplo, faz-me imensa confusão que uma estrada seja, modernamente, uma “acessibilidade” em vez de ser um “acesso”. Não estou contra a palavra “acessibilidade”, que no meu léxico tem razão de existir, embora com um outro significado. Mas já não há lugar a acessos, só a acessibilidades, no espaço português?! Alguém que me explique, se o souber.

Outra coisa que não entendo é que também já se não contrata em português: contratualiza-se. Já ouvi um linguista defender que “contratualizar” poderá ser mais abrangente, poderá significar não só o acto de contratar, como todo processo que a ele conduz. Compreendo e aceito. Mas que no politiquês só se contratualize e nunca se contrate, que se construam tantas acessibilidades e nenhuns acessos, confesso que me faz muita confusão.

Para não falar em determinadas aplicações informáticas em pseudo-português (com capa de português do Brasil) que, de tão escandalosamente más, são verdadeiros atentados à nossa língua, não só pelo seu conteúdo, mas por constituírem ferramenta diária de trabalho para muita gente.

E a propósito de neologismos e de português do Brasil (que muitas vezes é doce e divertido), não resisto a transcrever um poema contido num artigo de Luís Fernando Veríssimo num dos últimos Expresso:

Amor na Internet
Meu nome não é
Romeu
e a foto que eu
escaniei não sou eu
- mas tudo o mais
é verdade!
(Fora, está certo, a idade).
Meu signo
é mesmo
Escorpião
e é sincera
minha paixão.
e como é que eu sei
que seu nome é Daisy May
e a foto nua
é mesmo sua?
Só o que importa
é nos amarmos
e talvez
nos encontrarmos.
Mas nesta incerteza
eu não vivo.
Download-me ou
delete-me,
não quero ser
apenas mais uma
pasta esquecida
no seu arquivo.

(da série “Poesia numa hora dessas?”)

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