12/27/2003

PortugalSA (2)

Foi o biógrafo contratado para o lançar na campanha presidencial que mo revelou: aquela mania dos casinos que ele tem não é de agora. Já lhe vem desde a infância. Um dia, quando fez cinco anos, uma bem intencionada tia ofereceu-lhe um porquinho-mealheiro. “Para as tuas economias. Dinheiro a dinheiro enche o porco o celeiro!” O sobrinho entendeu a mensagem mais do que bem. Rapidamente pensou: “Se eu tiver também um porquinho destes tanto em casa da minha tia como dos meus outros tios, então sim, a coisa vale a pena!” E passou do pensamento à acção. Os pais acharam graça à ideia, a titi adorou a sugestão do sobrinhito e lá lhe compraram mais uns tantos porquinhos que se iam enchendo nas casas de familiares à medida que uma moeda hoje, outra amanhã, por vezes uma nota, iam sendo introduzidas na ranhura.

Já crescido e sem idade para ter mealheiros em forma de porquinhos, licenciado em Direito e político consagrado, alargou naturalmente as suas ambições e candidatou-se à presidência da Câmara de uma estância de veraneio possuidora de um casino bastante popular. Teve, logicamente, sucesso. A queda vinha-lhe da infância. Anos depois, sonhou mais alto e, de novo com a ideia do casino em mente, candidatou-se à capital, cidade onde coincidentemente o capital mais abunda. E ganhou. Apoiando-se em personalidades mediáticas, prometeu mundos e fundos. Das suas promessas destacava-se a construção de um casino. Gerou-se alguma polémica. Calou as pessoas através da contratação de um arquitecto estrangeiro de renome. O preço pedido calou-o a ele. Foi aí que lhe ocorreu que, melhor do que o conceito de “casino-na cidade” seria o de “cidade-casino”. Se uma parte significativa da população, ao jeito do jogo do monopólio e das slot-machines, tivesse que deitar uma moeda para parcar em qualquer rua ou passar em zonas históricas da cidade, o tlim-tlim das moedas seria muito mais contínuo e rentável do que os velhos porquinhos das abençoadas tias.

“Moeda-no-slot é algo que me dá sorte” transformou-se na sua inconfessada divisa. Sempre para engrandecimento da cidade, claro. E é assim que vamos ter a revisão do sistema de parqueamento nas ruas, que “está longe de atingir os proveitos possíveis”. Vamos ver aumentadas as taxas nos locais mais críticos. E, como ele diz, “para descongestionar a zona vamos fazer com que toda e qualquer latinha que passe pela Baixa lisboeta tilinte.”

Não é impunemente que se obtém o nome de Sant’Anna Slotes.

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