Quem terá sido o copperfieldezinho que «deletou» o meu inofensivo elefante? O lobo mau não foi certamente, que o lobo não bate assim! Quiçá algum caçador subitamente interessado no «marfim» da minha pele...
Seja como for, aqui deixo uma 2ª edição - «ne varietur», espero - do espaçoso animal.
UM ELEFANTE INCOMODA MUITA GENTE
Fui ver «Elephant». Fiquei surpreendida com a superlativa coerência estética da leitura que fornece sobre o caso Columbine - totalmente expurgada de filtros sociológicos (aliás legítimos, quase imperativamente previsíveis). Neste sentido, está-se nos antípodas da militância exacerbada de «Bowling for Columbine». Se bem entendi, o título do filme é uma espécie de metáfora da ENORMIDADE do acontecimento recriado, sendo a sua narrativa uma planificação por assim dizer «cubista» do somatório das múltiplas e convergentes perspectivas dos participantes. Estes, quando nos «emprestam» o seu ângulo de visão, caminham para o vórtice fatal de costas voltadas para a câmara - um expediente cénico que, facultando embora o périplo do massacre, elide por completo o seu sentido, cega o espectador. Por outras palavras, o ponto de vista ALHEIO, ao virar-me as costas para me guiar, torna-se MEU e paradoxal: «colada» às costas dos adolescentes de Columbine, caminho na total IGNORÂNCIA do que me/lhes VAI ACONTECER... apesar de já saber que ACONTECEU. Note-se que a sensação que isto produz nada tem a ver com o vulgar «suspense», pois este, «colando» embora o espectador às vicissitudes do actor, alimenta-se da tensão entre a omnisciência do primeiro e a ignorância do segundo. Neste filme, pelo contrário, a identificação forjada é de tal modo radical que o único conhecimento que me guia é um pressentimento, o único medo que me assalta não passa de difusa inquietação.
Há ainda a registar uma Bagatela de Beethoven tocada ao piano «para Elisa» por um dos assassinos... A propósito: dois dos meus alunos são pianistas - devo talvez pedir ao lobo mau a gentileza de me vir guardar as costas (e o ponto de vista).
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