7/26/2004

Le café de Flore à Lisbonne

Trata-se de um estabelecimento de restauração muito simples, pequeno e escondido, mas onde vou encontrando (já o frequento há muito) escritores, editores, actrizes, críticos de arte, sábios, músicos e cronistas de primeiríssimo plano.
Cheguei a provocar o proprietário, que com a sua circunspecção atenta garante a excelência do ambiente, do serviço e da cozinha, com a sugestão de afrancesar o nome da casa para «Chez Artur» pois ficaria mais condizente com o ambiente de celebridades que o frequentam.
Nada. Não mudou de nome, nem de frequência!
Mudar para quê? Não vale a pena pois (só agora reparei) já se chama Cafe(taria) Flore(nse).

Referências úteis

Café de Flore
172 Blvd St- Germain
75006 PARIS

Cafetaria Florense
Av. Estados Unidos da América, 46 - A
1700 LISBOA

7/23/2004

ANÚNCIO

Solicita-se a quem souber de um tal JOÃO RATÃO, muito ratão mesmo, que era suposto aparecer p?rás bandas do AZWEBLOG mas há muito não é visto, o favor de publicitar o seu achamento.

Um amigo comum (também grande ratão, por sinal) comunicou há tempos que ele ia aparecer. Houve um estremecimento em cada janela onde havia uma carochinha, mas foi boato falso.

O seu paradeiro em parte incerta é motivo de grande preocupação, pois não se sabe se ele anda por aí a dar música a alguma Carochinha (garantiram-me que foi visto recentemente num concerto de jazz), ou se caiu no caldeirão ou, o que é pior, se foi convidado para ministro ou secretário de Estado?

Qualquer informação poderá ser prestada para

Amigas do Ratão Inconformadas c/ a Ausência Do Nosso Estatista 

Rir/chorar no escuro

      Como é do conhecimento geral, a palavra "palhaço" está etimologicamente ligada ao local onde os bobos actuavam para divertir a corte: o palácio. Depois da palhaçada governamental em ambas as cerimónias de posse no Palácio da Ajuda, com as confusões de que os media fizeram justamente eco, vem a saber-se que há problemas no alojamento dos ministérios do Turismo e do Ambiente. Num país com óbvia necessidade de contenção de custos -- tema que serve de leitmotiv a muitos dos discursos da maioria na sua defesa do privado contra a onerosa administração pública --, eis que é a novel governação a dar o pior exemplo. Mostra à evidência que não planeou nem organizou convenientemente o governo para dirigir o país. O Primeiro-Ministro parece ter tido como ponto-chave da sua acção apenas uma justa distribuição dos vários pelouros pelos dois partidos. Além da resposta aos interessados grupos económicos, como é evidente. Quanto à Nação... 
      Muitos dos portugueses estão revoltados com a incompetência demonstrada e altamente apreensivos com o lógico descalabro das contas públicas, com todas as consequências que isso acarreta a nível humano e institucional. Receia-se que o grande inventor do conceito túnel-sem-luz-ao-fundo alimente o secreto desejo de estender a aplicação da sua ideia, originariamente pensada apenas para a zona do Marquês, a todo o Portugal.   
      Ocorre-me citar o oitocentista Tomás Ribeiro, ele próprio político além de homem de letras: "Portugal é lauta boda onde come a corrupção toda".


7/22/2004

Matriz de Acontecimentos (22 Julho)


Download do ficheiro das Sugestôes (22 Julho)

7/21/2004

O ser português...

Há dias assim... acordamos, olhamos, reflectimos e percebemos que está tudo na mesma ou pior. Isto de ser português está a deixar de ser um desafio e a passar a ser um tormento. Continuamos entalados entre o mar que deveria ser o nosso destino (e só uma vez o foi) e uns vizinhos que não conhecemos e de quem por natureza desconfiamos; as nossas elites funcionam segundo uma ética da ganância, nunca se serviram das riquezas que por vezes chegaram para desenvolver sustentadamente o país; essas elites sempre menosprezaram o povo e o povo sempre lhes pagou ignorando-as; continuamos com um nível de iliteracia absolutamente incompatível com a cultura e a técnica actuais; o pouco de bom que temos continua a ser delapidado em favor do lucro imediato e fácil de alguns poucos; continuamos a ter dos maiores níveis de corrupção da Europa, a todos os níveis da estrutura social; somos incapazes de diferenciar o que são relações pessoais e o que são relações institucionais, o que é a base para o nosso corporativismo e a nossa corrupção; temos uma concentração populacional junto das duas cidades principais digna de um país do terceiro mundo e continuamos alegremente a esquecer que há vida 50 quilómetros para lá do centro de Lisboa e Porto; a suburbanização recente criou uma massa de gente sem referências urbanas, porque não as conhece, nem rurais, porque não as pode praticar, e por isso sujeita aos valores rascas que a televisão todos os dias lhe fornece em doses maciças; a um mercado pequeno, que não permite economias de escala significativas e, por isso, preços mais baixos na generalidade dos bens, acresce a ganância da maioria dos agentes económicos, desde a mercearia do lado ao grande hipermercado. Na rádio falam sobre o futuro de Portugal...que belo dia para ler a sina de quem já sabemos o futuro...

7/19/2004

Deslocalização - Parte II

     Há uns dois meses deixei aqui umas linhas sobre um dos fenómenos mais importantes do mundo laboral hoje em dia: a deslocalização de empresas. Volto ao tema porque estão entretanto a surgir novidades. Como dizia no meu outro escrito, a deslocalização de empresas de países ricos para outros onde a mão-de-obra é mais barata, o sistema fiscal mais favorável e, nalguns casos, existem subsídios da UE para a sua instalação, está a criar pelo menos quatro problemas:
 
1.     Os países ricos estão a ver-se descapitalizados.
2.     Os empregos estão a adquirir um grau de incerteza excessiva.
3.     Os direitos dos trabalhadores estão a sofrer fortíssimas pressões.
4.     Os sistemas de segurança social estão a desmoronar-se.
 
     Como esta situação se estava a tornar insustentável para os governos de  países com  grandes tradições industriais como a Alemanha e a França, a União Europeia acaba de decretar medidas mais apertadas de controlo dos subsídios que confere. Por um lado, fica alargado de 5 anos para um mínimo de 7 o prazo de estabelecimento e fixação das empresas no novo país. Em caso de incumprimento desse novo mínimo, as empresas são penalizadas com a devolução dos montantes financeiros recebidos. Por outro lado, uma empresa que já tenha recebido um subsídio da UE desse tipo não poderá beneficiar de novas ajudas financeiras.
Não há nada como as grandes nações se verem afectadas para que logo surjam com uma acção de lobbying eficaz, que leva a UE a decretar estas medidas!
Entretanto, o patronato tem estado a jogar com a deslocalização. A Siemens alemã conseguiu que, a fim de evitar a mudança prevista de unidades industriais para a Hungria e China e consequente perca de milhares de postos de trabalho, os seus empregados passassem a trabalhar mais horas pelo mesmo salário. Aos 160 mil trabalhadores das fábricas germano-americanas da Mercedes e da Chrysler foi feita uma proposta semelhante, que até agora não teve o acordo dos trabalhadores. Há já propostas de outros empresários alemães para redução do período de férias. Schroeder admite uma maior flexibilização dos horários a fim de satisfazer as necessidades competitivas das empresas. A própria função pública já foi sujeita nalguns casos a um aumento de horário, sem as compensações monetárias correspondentes.
     Estas são mudanças muito significativas. Cotejá-las com a leisure society prometida pelos políticos há umas décadas é um exercício instrutivo para entender o dinamismo da sociedade e o significado da "era da incerteza".


7/17/2004

O Presidente decidiu, está decidido!

Têm sido publicados múltiplos comentários à decisão de Sampaio sobre a crise governamental. Na sua generalidade, são opiniões válidas e inteligentes, de que a expressa pelo Capuchinho Vermelho no nosso blog é um bom exemplo. Como quase sempre sucede, os comentários são tão importantes pelo seu conteúdo como pelo que revelam sobre os seus autores.
         A direita tem escrito muito pouco. É natural. Enquanto esfrega as mãos, uma pessoa tem real dificuldade em empunhar uma caneta.

7/10/2004

AD FERRO

Os termos do dilema até ontem cozido em lume brando por Sampaio não foram tanto, como pretende a maioria, Santana e eleições antecipadas, antes sim Santana e Ferro. O último esteve finalmente (faço-lhe a vénia) à altura da sua débil circunstância: extraiu com inegável lucidez as consequências práticas da decisão presidencial.

Perante um PS a curto prazo encalhado, por causa do seu timoneiro anémico, na previsível condição de maioria manca, Sampaio estava de facto condenado, independentemente da escolha que fizesse, a decidir ad hominem - contra Santana ou contra Ferro. Decidiu, como bom socialista que de facto é, contra Ferro e este, enfim mais cerebral do que emotivo, bateu coerentemente com a porta.


7/08/2004

O ADEJAR DA BORBOLETA

Dizem que vivemos numa «aldeia global», esse espaço paradoxal geralmente lido como «deslocalização», absorção do local pelo global. Não me convence esta visão unívoca do fenómeno. Mais parece, sobretudo tendo em conta catástrofes recentes, estarmos a sofrer os efeitos de uma dramática contracção do globo - o global sequestrado por fundamentalismos cujos estrategas e peões encarnam o local de Deus e, ajudados pelas tecnologias avançadas, a ubiquidade da Sua ira.

Nunca como agora o destino global foi tão radicalmente determinado por arbítrios locais, nunca foi tão abissal a desproporção entre causas (justas? justiceiras?) e efeitos, entre meios e fins - o colectivo feito refém do indivíduo (em rede com outros indivíduos), o mundo subtraído à regularidade das leis e devolvido à primordialidade do capricho «divino». É certo que a agressividade humana, por escapar ao ordenamento natural arquivado no ADN das espécies, sempre tendeu (talvez desde a funda de David...) para este regime de caos em que o doméstico «adejar» de cada um é fonte virtual de apocalipses.

A agressividade da natureza, pelo contrário, raramente exibe excessos ou desperdícios: é económica e pragmática, consagrando justamente uma sã proporcionalidade entre meios e fins, causas e consequências. A arma do predador natural, sendo o seu próprio corpo, envolve a respectiva presa como uma «luva», esgota-se cirurgicamente nela sem (d)efeitos colaterais. Ferindo o mundo exterior com «conta, peso e medida», o assassino natural não é, em suma, violento (gratuitamente agressivo, maciçamente destrutivo), jamais cometendo o erro ecológico capital - diabolizar o outro - que move a agressividade humana, isto é, a violência propriamente dita.

7/04/2004

Caíu o pano

A selecção não ganhou o Euro 2004, mas não convertamos a situação numa tragédia grega em dois actos. Neste jogo, os gregos não foram inferiores e foi deles a vitória. É altura de mostrarmos que o fair-play é uma coisa muito bonita, com aquele pequeno senão de nós precisarmos de perder para o revelar.
O Euro 2004 foi um óptimo campeonato, Portugal esteve embandeirado como nunca se viu, houve uma união muito interessante em torno de símbolos nacionais como o hino, a bandeira e a equipa que nos representou.
Continuo a dizer "Bravo!". Se os jogadores mais não fizeram, foi decerto porque não puderam.

7/03/2004

BRAVO!

Felizmente para nós, este é um grande momento da selecção nacional de futebol. Ao distinguir-se, tem ajudado poderosamente o país a "destangar-se". Há muito que andávamos em busca de algo que nos pusesse felizes e em paz com Portugal. Um bravo à equipa!

A Forma e a Substância

A aceitação pessoal, ao contrário de outras individualidades anteriormente contactadas, pelo Primeiro-Ministro Durão Barroso da hipótese de ser Presidente da Comissão Europeia provoca uma natural crise política no país. A razão principal reside no facto de o Primeiro-Ministro abandonar o seu posto a meio de um mandato governativo que tem sido largamente contestado, contestação que já vem de longe e teve o seu corolário muito recentemente no desfecho das eleições para o Parlamento europeu. Os erros governamentais têm sido de monta, seja no campo da justiça, da educação, da administração interna, da saúde. Grassa a corrupção, há privilégios inadmissíveis, a credibilidade do elenco governativo é baixa.
Esta é a substância da situação. Nestas circunstâncias, porém, há sempre quem, por interesses partidários mascarados de nacionais, prefira a forma. Argumenta-se que não é ilegal que o Primeiro-Ministro, Presidente do partido mais votado nas últimas eleições, nomeie o seu sucessor. É aqui que bate o ponto. O facto de algo não ser ilegal não significa necessariamente que seja correcto. Implica apenas que não está contra a lei.
Existe um velho princípio de Direito, segundo o qual a substância deve prevalecer sobre a forma. Na Contabilidade e na Auditoria, esse é igualmente um dos princípios gerais: deve atender-se mais à substância das operações e à realidade financeira do que à sua forma legal. Transferindo para o campo em questão: a substância da substituição e da realidade socio-política deve prevalecer sobre a forma. É tão simples como isto.
No caso concreto de o substituto ser Santana Lopes, o caso torna-se mais grave do que se fosse o número 2 do governo a continuar a governação: é que Santana Lopes não foi votado pelo povo nas eleições legislativas. Ora, um voto corresponde, do ponto de vista de quem o expressa, a um acto de co-responsabilização: se se pretende alguém a governar-nos é porque se confia nessa pessoa. Daí que, tradicionalmente, aos eleitos sejam concedidos "100 dias de graça". No caso de alguém que não foi votado -- perante o qual a população eleitora não se sente minimamente co-responsável -- não existem por óbvios motivos os "100 dias de graça" e a instabilidade pode assentar arraiais desde o primeiro dia, com as consequências nefastas para o país que os defensores da "forma" dizem pretender evitar.
Num país democrático como Portugal e nas presentes circunstâncias, a realização de eleições é a única saída plausível.

7/01/2004

Matriz de Acontecimentos (01 Julho)


Download do ficheiro das Sugestôes (01 Julho)