7/19/2004

Deslocalização - Parte II

     Há uns dois meses deixei aqui umas linhas sobre um dos fenómenos mais importantes do mundo laboral hoje em dia: a deslocalização de empresas. Volto ao tema porque estão entretanto a surgir novidades. Como dizia no meu outro escrito, a deslocalização de empresas de países ricos para outros onde a mão-de-obra é mais barata, o sistema fiscal mais favorável e, nalguns casos, existem subsídios da UE para a sua instalação, está a criar pelo menos quatro problemas:
 
1.     Os países ricos estão a ver-se descapitalizados.
2.     Os empregos estão a adquirir um grau de incerteza excessiva.
3.     Os direitos dos trabalhadores estão a sofrer fortíssimas pressões.
4.     Os sistemas de segurança social estão a desmoronar-se.
 
     Como esta situação se estava a tornar insustentável para os governos de  países com  grandes tradições industriais como a Alemanha e a França, a União Europeia acaba de decretar medidas mais apertadas de controlo dos subsídios que confere. Por um lado, fica alargado de 5 anos para um mínimo de 7 o prazo de estabelecimento e fixação das empresas no novo país. Em caso de incumprimento desse novo mínimo, as empresas são penalizadas com a devolução dos montantes financeiros recebidos. Por outro lado, uma empresa que já tenha recebido um subsídio da UE desse tipo não poderá beneficiar de novas ajudas financeiras.
Não há nada como as grandes nações se verem afectadas para que logo surjam com uma acção de lobbying eficaz, que leva a UE a decretar estas medidas!
Entretanto, o patronato tem estado a jogar com a deslocalização. A Siemens alemã conseguiu que, a fim de evitar a mudança prevista de unidades industriais para a Hungria e China e consequente perca de milhares de postos de trabalho, os seus empregados passassem a trabalhar mais horas pelo mesmo salário. Aos 160 mil trabalhadores das fábricas germano-americanas da Mercedes e da Chrysler foi feita uma proposta semelhante, que até agora não teve o acordo dos trabalhadores. Há já propostas de outros empresários alemães para redução do período de férias. Schroeder admite uma maior flexibilização dos horários a fim de satisfazer as necessidades competitivas das empresas. A própria função pública já foi sujeita nalguns casos a um aumento de horário, sem as compensações monetárias correspondentes.
     Estas são mudanças muito significativas. Cotejá-las com a leisure society prometida pelos políticos há umas décadas é um exercício instrutivo para entender o dinamismo da sociedade e o significado da "era da incerteza".


Sem comentários:

Enviar um comentário