Na passada semana, quando foram eleitos no Reino Unido para um terceiro mandato consecutivo, Blair e o seu partido lograram alcançar de novo uma maioria absoluta. A soma dos deputados dos partidos da oposição ficou a mais de sessenta parlamentares de distância do total trabalhista. Dado que, no mandato anterior, a distância entre os dois conjuntos tinha sido bastante superior, Blair não só considerou os resultados um sério aviso do eleitorado como admitiu ser mais difícil fazer passar determinadas medidas. Pessoalmente, gostei de ver esta reacção de Blair, mas estranhei que imprensa portuguesa não a comentasse, comparando-a com a democracia à portuguesa. Não vi questionada qual a razão do temor de Blair. No nosso país, esta seria uma pergunta com toda a razão de ser.
De facto, não é verdade que um partido que obtivesse em Portugal uma maioria de dez ou vinte deputados relativamente à oposição embandeiraria imediatamente em arco? O problema é que, salvo melhor opinião, a nossa democracia é subentendida como uma ditadura partidária, algo que a cultura inglesa não permite. No nosso país, o partido vencedor impõe a sua política aos seus deputados, e ai de quem não votar com o partido! Chega a dizer-se, com todo o desplante, que, no caso X, o partido concede liberdade de voto aos seus deputados. Então, isso é coisa que se conceda? Esse é um posicionamento que necessariamente implica que em todos os outros casos os priva dessa mesma liberdade. Por outras palavras: mesmo que não concorde com determinada proposta, um deputado tem que levantar a mãozinha ou carregar no botão a dizer que sim, capado em absoluto de expressão do pensamento próprio.
É esta forma de entender a democracia que me impressiona negativamente. Será que os deputados, que em princípio constituem "a nata da Nação", não passam de pura carneirada que obedece ao chefe, sob pena de expulsão do partido (e de perca das suas regalias como membros da Assembleia da República)? Nunca compreenderei esta democracia, que priva o homem da liberdade que lhe deveria ser inerente.
É óbvio que em Inglaterra as coisas não se passam assim. Há opiniões dissidentes, o que, aliás, só fortalece as ideias do grupo. Isto leva a que Blair receie não poder conseguir ver todos os seus projectos aprovados. Haverá parlamentares do seu partido a votarem contra ou a absterem-se. Os deputados respeitam mais o seu respeito pelos círculos que os elegeram.
É saudável que se tolerem opiniões críticas dentro do mesmo partido. A sociedade do país deve estar à frente dos meros interesses partidários. Todo o unanimismo soa a falso. A falta de consideração que se nota pelos políticos parlamentares portugueses também entronca aqui.
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