O conhecido ditado "Quem espera, desespera" expressa bem a exasperação de todo aquele que é forçado a perder minutos ou horas do seu tempo aguardando que alguém chegue ou algo aconteça. Devíamos, no entanto, aprender por nós próprios a condicionar esse sentimento, nomeadamente naqueles casos em que não é a falta de respeito de alguém por nós que nos faz esperar.
Vejamos simples coisas do dia-a-dia. Você põe um prato no micro-ondas para aquecer durante cinco minutos. Vai ter que aguardar esses c-i-n-c-o minutos, claro, que lhe vão parecer uma eternidade -- se ficar especado em frente ao forno. Olhe entretanto para o lava-loiça ali perto. Encontrará decerto uns tantos pratos ou talheres para lavar. Rapidamente, ponha-se a lavá-los -- em competição com o micro-ondas. Vai ver que este começa a andar mais depressa. E quando ele emitir um sinal a dizer-lhe que já passaram os cinco minutos marcados, você já terá conseguido passar por água, ou mesmo lavar completamente, o que tinha ali. Ganhou de duas formas: 1. Não se aborreceu por ter de esperar: pelo contrário, ficou até interessado em entrar na compita. 2. Ficou com a louça lavada.
Que é muito diferente a noção temporal de quem faz esperar e de quem espera espelha-se naquela situação que todos nós já vivemos de ter que aguardar que alguém saia da única casa de banho existente num determinado local. Estar do lado de fora ou do lado de dentro daquela porta é condição necessária e suficiente para sentirmos o passar do tempo de maneira bem diversa!
Esperar por transportes é também algo que pode desesperar. Experimente levar sempre consigo um jornal ou uma revista. As notícias que irá lendo "transportam-no" literalmente para um mundo diferente, que o faz pensar noutras coisas e não no maldito autocarro ou metro que nunca mais chega.
A questão reside exactamente aí: "estamos não onde temos os pés, mas sim onde a nossa cabeça está." Se alguém ou alguma coisa conseguir distrair-nos (do lat. "distrahere", que significa "separar", "retirar") do objecto ou pessoa que nos exaspera, a batalha está ganha.
O caso mais interessante que conheço nesta mesma óptica é o de um hotel de S. Francisco, Califórnia, que possuía todos os ingredientes para receber um número maior de clientes mas que a existência de dois elevadores, irritantemente lentos para o lufa-lufa americano, fazia com que apenas os dois primeiros andares estivessem permanentemente cheios. Contratado para gerir o hotel, o ex-aluno mais brilhante da faculdade de hotelaria local investigou primeiro qual o custo de comprar dois elevadores novos. O custo era tão elevado que desistiu imediatamente da ideia: os accionistas não lhe perdoariam aquele investimento. Após matutar no assunto, arquitectou uma solução bem mais económica: mandou forrar as partes exteriores e interiores dos elevadores com espelhos. Para além de o aspecto dos elevadores ter melhorado muito, a mudança condicionou o comportamento dos hóspedes. Tanto enquanto esperavam do lado de fora, como depois já dentro dos elevadores, os clientes iam mirando-se ao espelho, retocando-se, levando os seus pensamentos para outros locais. A relativa lentidão dos elevadores desapareceu.
Nem todas as soluções são lineares, nem um bom conhecimento da natureza humana deixa de ser uma mais-valia!
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