5/01/2005

From Mexico with love

Num pequeno texto aqui colocado recentemente ("Globalização frutífera"), falei do México a propósito de curiosidades linguísticas ligadas a frutos. Se me permitem, volto ao México, não para vos dar conta de uma das mais enriquecedoras viagens que já fiz, mas apenas para referir uns apontamentos linguísticos relacionados com o México, porventura interessantes.
O idioma oficial do México é, como se sabe, o espanhol, mas existem mais de 50 línguas índias diferentes. Uma das mais importantes é o nahuatl, a língua azteca, falada ainda hoje por cerca de milhão e meio de pessoas. Desta língua, que tem vários vocábulos terminados em "-at", chegou até nós algo de que geralmente gostamos muito: o "chocolat". Existe, no entanto, uma pequena diferença entre o chocolate azteca original e o nosso. O deles é feito com água e adoçado com mel. É que os aztecas não tinham vacas! Entretanto, a par do chocolate, chegou até nós o "tomate", e ainda o "chili", que é saborosamente picante.
Três outras palavras mexicanas com histórias diferentes são "chicle", "mariachi" e "gringo". O chicle é uma substância extraída do látex da sapodilla, uma árvore abundante na península do Yucatán, no sul do México. É o "chicle" que constitui o ingrediente básico das pastilhas elásticas, daí a razão do nome "chiclets". Resta acrescentar que o Yucatán produz praticamente todo o chicle do mundo.
Os "mariachi", de que todos conhecemos uma boa série de músicas tradicionais, são originários da zona de Guadalajara. As suas vozes, trompetes e violinos levam as suas baladas a festas populares, a cafés da cidade do México com música ao vivo, e a casamentos. Foram crismados pela corte do arquiduque Maximiliano da Áustria, imperador que foi colocado no trono do México em 1864 por imposição de Napoleão III de França. Com a linguagem da corte a ser muito raffinée, francesa, esses agrupamentos musicais especializaram-se em casamentos -- os "mariages" --, de onde surgiu a corruptela "mariachi".
"Gringo" tem uma história tão saborosa e picante como o chili. Qualquer dicionário informará que o termo "gringo" pode ser ofensivo. É "por vezes usado por habitantes da América Latina para se referirem a estrangeiros, especialmente dos Estados Unidos". De facto, a sua origem é mexicana. Provém designadamente da zona sul, de Chiapas, sobre a qual o Subcomandante Marcos exerce hoje um certo domínio político, a lembrar os velhos tempos de Zapata e Pancho Villa. O termo "gringo" foi cunhado nos princípios do século XX. Nesses tempos, quando os ricos latifundiários americanos, compradores de largas porções de férteis terras do sul do país, se viram incomodados por camponeses que viviam em situação lamentável e se revoltavam, tiveram que recrutar seguranças pessoais, que vieram dos Estados Unidos fortemente armados e com os seus camuflados verdes. É evidente que, contra estes homens bem equipados, a população indefesa mais não podia fazer do que invectivá-los e mandá-los embora. Dada a cor das suas fardas, os seguranças receberam o nome de "green", a que se juntou o "go!", para que eles entendessem que não eram desejados. "Green go!" produziu "gringo".
Do México haveria tanto para dizer! E coisas tão ricas! Para terminar, ainda com o fundo musical da mais célebre canção mexicana -- "Cielito lindo" --, apenas a recordação da memorável frase de um antigo Presidente mexicano, Porfírio Diaz: "Pobre México, tão longe do céu, tão perto dos Estados Unidos!"

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