Há tempos vi num programa de televisão algo que desconhecia e considerei fascinante. O programa era sobre lobisomens. A palavra evoca-me Trás-os-Montes, região acerca da qual era vulgar dizer-se que "é uma terra em que as mulheres são homens e os homens lobisomens".
Na realidade, em Trás-os-Montes como em tantas outras terras da Europa, existiram "lobisomens" nos séculos XV, XVI e possivelmente até muito mais tarde. Investigações relativamente recentes conduzidas por uma cientista norte-americana levaram à conclusão de que os lobisomens tendiam a surgir em regiões de gente pobre e com cultivo e produção de centeio. Constatou-se que o centeio pode conter um fungo -- ergot -- que é alucinogénico. O ergot é, de resto, usado em numerosos alucinogénicos. Este fungo forma-se no centeio próximo da altura em que o cereal está pronto a ser colhido. Quem o colhe não repara nele e, mesmo que notasse, se fizesse pão utilizando esse centeio o pão passaria a conter o ergot, que resiste à cozedura. Daí à ingestão do pão em largas quantidades -- como é timbre das famílias pobres -- e à sugestão real dada à pessoa de que possuía força sobrenatural era um passo.
Para o restante da população, esses lobisomens eram vistos como estando possuídos pelo demónio. Se a descoberta da cientista tivesse ocorrido há quatrocentos anos, ter-se-iam evitado muitas mortes -- e muitas histórias fantásticas.
O programa não fazia qualquer alusão concreta a Trás-os-Montes nem a Portugal, embora mencionasse outras regiões da Europa. Para mim é evidente a possível transferência para o nosso nordeste.
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