A Avenida Gulbenkian, em Lisboa, é uma artéria de elevado volume de trânsito. Quando passamos o aqueduto, vindos da Ponte ou do Estoril e entramos em Lisboa, percorremos a avenida com o máximo de velocidade permitida pelos sinais ou pelo trânsito. Todos nós que lá passamos já reparámos naquele enorme painel de azulejos que se estende desde o mais alto arco de pedra do mundo - o do oitocentista Aqueduto das Águas Livres - até bem mais acima, a uma entrada para Campolide. É ele também o maior painel contínuo de azulejos que existe (há outros de grande volume na Turquia, mas não possuem a dimensão deste). Obra de Abel Manta, muitos saberão que estes azulejos estiveram guardados durante anos e anos pela Câmara Municipal, que em boa hora a certa altura os mandou colocar no local onde agora se encontram. A questão que levanto é: quantos já se deram ao trabalho de examinar de perto o painel? Pois é, passamos por ali a correr, como a vida nos pede.
No entanto, se um dia forem dar um relaxante passeio a pé por aqueles lados, dêem uma mirada mais detalhada. "Azulejos, moinhos e talha dourada são as características que mais distinguem Portugal de outros países", gostava de dizer o falecido Engenheiro Santos Simões, que foi o grande pioneiro de um estudo sério do azulejo português, tanto em território nacional como no Brasil. Um azulejo que, entre outras facetas dignas de relevo, e também segundo Santos Simões, acompanha sempre a modernidade, tende a servir a arquitectura e inclina-se muito mais para a monumentalidade do que para o detalhe e perfeição do pormenor avulso.
Dêem uma vista de olhos se possível num dia em que o sol empreste tridimensionalidade e brilho ao painel. Ficarão possivelmente a gostar mais daquele conjunto, com os seus azuis, vermelhos, castanhos, brancos e várias outras cores da paleta. Depois já podem passar de carro a toda a velocidade, porque a imagem ficou indelevelmente gravada.
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