2/24/2007

O escuteiro que nunca quis ser herói

Num número recente do Público chamou-me a atenção o título que acima transcrevo. O texto respectivo vinha ilustrado com várias fotos e celebrava o primeiro centenário de um movimento que considero interessante: o escutismo. O artigo, com cerca de duas páginas, falava sobre o fundador desse movimento, Robert Baden-Powell, que nasceu há 150 anos. Numa passagem, pode ler-se que "quando (Baden-Powell) regressou a Inglaterra, descobriu que havia uma espécie de culto à sua volta e rejeitou-o de imediato." Mais adiante, surge a linha que titula a peça: "Nunca quis ser visto como um herói."
Esta frase fez-me recordar o que não há muito tempo li em Exterminem todas as bestas, livro da autoria de Sven Lindqvist. Durante a segunda guerra ashanti (1896), no actual Gana - na primeira tinha havido uma tremenda carnificina, com os britânicos a matarem, à distância, centenas de ashanti com as suas poderosas armas - Robert Baden-Powell, o comandante das tropas avançadas inglesas, recebeu um enviado que vinha oferecer-lhe a rendição incondicional. Para sua decepção, Baden-Powell não disparou um só tiro contra os indígenas. De forma a desencadear as hostilidades, os britânicos planearam actos de extrema provocação. O rei de Ashanti foi detido juntamente com toda a sua família e obrigado a rastejar até aos oficiais britânicos, que estavam sentados em cima de caixotes de latas de bolachas a receberem a sua subjugação. Numa carta à sua mãe, Baden-Powell escreve "Gostei muito do passeio, com excepção da ausência de combate, que, receio-o bem, impedirá que ganhemos quaisquer medalhas ou condecorações. "
O título do artigo e este episódio real da vida de Baden-Powell não puderam deixar de me trazer à mente uma conhecida frase de The Man Who Shot Liberty Valance, um western famoso: "This is the West, Sir. When the legend becomes fact, print the legend!" No fundo, como Kundera gosta de dizer, "a memória serve tanto para recordar como para esquecer."

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