3/11/2007

Conflito de gerações?

Num país como o nosso, em que a lamúria pessoal é mais frequente do que as manifestações de contentamento, será que pode dizer-se que, afinal, a geração que está hoje entre os 55 e os 70 anos foi e continua a ser privilegiada?
Numa interessante reportagem que tive oportunidade de ler no último número da Newsweek, encontrei 64 por cento dos europeus a considerar que a vida dos actuais adolescentes será, quando forem adultos, mais dura que a da geração anterior. Só 17 por cento crêem que será mais fácil. Os grandes problemas serão, segundo a sondagem, em primeiro lugar o desemprego (40% dos europeus vêem-no como o problema número 1). O segundo, as pensões de reforma (30%). Em terceiro lugar, vem o custo de vida (26%).
Os nossos filhos vão odiar-nos é o título de um livro saído há dois meses em França, escrito por dois autores na casa dos 60. E porque haverá isso de suceder? Uma outra sondagem recentemente conduzida em França provou que apenas 5 por cento dos jovens acreditam que irão ter maiores possibilidades de sucesso do que os seus pais. Vêem-se como a geração IPOD (Insegurança, Pressão, Ónus fiscal, Dívidas (nomeadamente contraídas na aquisição de habitação). No passado, economias dinâmicas como as da Alemanha, França, Inglaterra, Holanda e Bélgica, garantiram a toda uma geração empregos seguros e pensões generosas na reforma. O problema é que as mesmas regras laborais que protegeram e protegem os trabalhadores de meia-idade fecham as portas a muitos dos jovens. Não terá sido de propósito que a geração anterior fez isso, mas é um facto que agora também não parece disposta a abrir mão dos seus benefícios.
Em vários países, há numerosos trabalhadores que decidiram aproveitar-se das suas generosas pensões de reforma e saíram definitivamente do mercado de trabalho. Na Bélgica, não há mais do que 33 por cento dos indivíduos com mais de 55 anos que continuam efectivamente a trabalhar. Isto leva a que se possa concluir que muitos deles estão, afinal, a levar muito o estilo de vida geralmente atribuído aos jovens.
Enquanto isso, existem inúmeros rapazes e raparigas, detentores de bons cursos e certamente mais bem preparados academicamente do que os seus pais alguma vez foram, que labutam em vão à cata de bons empregos, que só uma pequena percentagem logra alcançar.
Note-se, entretanto, que a situação não é idêntica em toda a Europa, pois os países têm os seus diferentes estádios de desenvolvimento. Assim, poderá dizer-se que presentemente tanto a Irlanda como a Espanha conseguem manter-se fora deste imbróglio dos empregos. Em ambos estes países, os jovens viverão em regra até melhor do que os seus pais. Mas num grande número de outras nações da UE, as tendências são preocupantes. Registe-se, por exemplo, que em Itália 45 por cento dos indivíduos com idades compreendidas entre os 30 e os 34 anos continuam a usar a velha cama da casa dos pais. Porquê? Bem, à falta de empregos bem pagos, os jovens vêem-se obrigados a recorrer à generosidade dos seus progenitores. Esta é uma situação que poderá ser sustentável para uma classe média, mas que decerto causa um sem-número de problemas a quem é mais pobre. O progresso que costumava vir do Estado vem agora da solidariedade familiar.
Não se tratará, por enquanto pelo menos, de uma situação de conflito geracional. Aparentemente, os jovens não pretendem que os benefícios de que os seus pais auferiram ou auferem sejam diminuídos. Reclamam apenas o mesmo tratamento para si próprios. À la longue, porém, não é impossível que a situação evolua noutro sentido.

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